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Opinião

Hoje eu tive um sonho!

Por Aurivan Marinho

Sonhei que a ideologia do coronavírus não era de esquerda nem de direita. Não pertencia a nenhum partido político e não estava aliada a nenhuma nação ou classe social. Sonhei que todos, finalmente, puderam entender que o coronavírus tem somente o medo como aliado, a calamidade como bandeira e a morte como ideologia. 
 
Sonhei, então, que a partir daí uma grande força tarefa foi formada. Uma admirável corrente do bem invadiu o país a fora, pregando a paz, multiplicando esforços e transformando o medo em esperança. De repente, o governo federal, os governos estaduais e o congresso nacional deixaram de lado as diferenças ideológicas, abdicaram dos seus interesses e vaidades, desceram dos seus palanques, e começaram a lutar unidos a única batalha que interessa ao povo nesse instante, a luta contra o vírus que ameaça dizimar a população brasileira. 
 
Sonhei que o valor da vida, quando posto na balança, pesou mais do que qualquer projeto de poder político, do que a ganância pelo dinheiro, do que a fama ou a publicidade pessoal. Assim, é que artistas, jogadores de futebol, empresários, banqueiros e personalidades diversas, voluntária e solidariamente, propuseram-se a encabeçar uma grande mobilização com toda sociedade, no propósito de adotar o maior número possível de pessoas que perderam seus empregos ou que dependiam do trabalho informal. 
 
Sonhei que as instalações das igrejas, dos estádios de futebol, dos prédios ociosos e dos estabelecimentos das instituições mais diversas eram transformadas em abrigos, restaurantes e enfermarias para assistir e proteger os mais vulneráveis das nossas cidades. Para lá, eram conduzidos catadores de lixo, pessoas em situação de rua, idosos desassistidos, crianças abandonadas, moradores de palafitas e tantos outros trazidos dos morros e dos guetos. Todos eram instruídos a como se prevenirem contra o vírus, por agentes de saúde e voluntários treinados. Todos recebiam roupas, cobertores e colchões. Todos eram devida e justamente alimentados. Todos eram higienizados, pois podiam abrir a torneira e lavar as mãos com água e sabão. A todos era oferecido e permitido ter acesso aos meios de prevenção e sobrevivência. 
 
Sonhei que, desse modo, o poderoso coronavírus foi perdendo forças. Um poder maior caminhou pelas ruas das cidades, fazendo o poder da peste e da morte recuarem. Ao invés da bandeira da calamidade, foi hasteada a bandeira da solidariedade. Ao invés da ideologia da morte, prevaleceu a paixão pela vida, o amor pelo o próximo, a fé traduzida em obras, a esperança que traz paz, o altruísmo que supera o egoísmo, a misericórdia que transcende o sacrifício.
 
Sonhei que vencíamos o coronavírus, mas não sem antes derrotarmos o "vírus" da intolerância, da polarização raivosa e do egoísmo. 
 
"O amor é paciente; o amor é benigno. Não é invejoso; não se vangloria, não se orgulha, não se porta com indecência, não busca os próprios interesses, não se enfurece, não guarda ressentimento do mal; não se alegra com a injustiça, mas congratula-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Portanto, agora permanecem estes três: a fé, a esperança e o amor. Mas o maior deles é o amor." (1Co 13.4-7,13). 
 
Solus Christus!
 
• Aurivan Marinho é bacharel em Teologia, mestre em Teologia Histórica e Graduado em Filosofia. Leciona Teologia Sistemática no SETEBAN-PE, é pastor da Igreja Evangélica Congregacional da Estância, em Recife-PE, e Membro do Conselho Consultivo da SBB.

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