Prateleira
- 03 de dezembro de 2007
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Heróis profanos e santos anônimos
Deus ama imparcialmente. Para quem se lembra do dilema descrito no Salmo 73 — a vida nababesca dos maus e o infortúnio dos que se mantêm puros — essa afirmação é, no mínimo, desconfortável. A frase está em A Espiritualidade na Prática, e Paul Stevens é ainda mais específico: “O amor de Deus é sem causa ou previsibilidade humana”.
É verdade que o sol brilha sobre mocinhos e bandidos e a chuva cai sobre honestos e corruptos (Mt 5.45). E sei, como C. S. Lewis, que Deus não é um velho bondoso e solene nem um guarda que anda com um cassetete escondido pronto para acertar contas com o primeiro que dobrar a esquina. No entanto, não raro ficamos embaraçados com o sucesso dos maus. Temos um desejo quase incontrolável de manipular a graça de Deus e nos irritamos quando ela sobeja, quando uns e outros são alcançados por ela e, sem perceber, nos perguntamos: “por que não eu?”
Na semana passada encontrei Deus em um dos lugares mais inesperados. Fui ver o guitarrista americano Stanley Jordan e fui surpreendido pela graça. A apresentação aconteceu na Sala Fernando Sabino, na Universidade Federal de Viçosa, em meio às montanhas de Minas. Puro êxtase. Não me passou pela cabeça envenená-lo por inveja, o que teria feito, diz a lenda, o compositor italiano do século 18 Antonio Salieri com Amadeus Mozart. Na verdade, lembrei-me de Bezalel, da sua destreza e capacidade artística (Êx 35.31); de Jubal, pai dos que tocam harpa (Gn 4.21) e, agradecido, murmurei algumas frases de adoração.
A verdade é bela e cura. Saliere, no entanto, não entendia como Mozart, um devasso, podia compor algo tão sublime. Recorro a Calvino, citado em Religião e Política, Sim; Igreja e Estado, Não: “Quando vemos em escritores pagãos a admirável luz da verdade que transparece nos seus livros, devemos perceber que a natureza do homem, embora caída da sua integridade e muito corrompida, não deixa de ser adornada ainda com muitos dons divinos. Se reconhecermos o Espírito de Deus como única fonte da verdade, nunca desprezaremos a verdade onde quer que apareça”.
Leia o livro
• Um Ano com C. S. Lewis, leituras diárias de suas obras clássicas
• Religião e Política, Sim; Igreja e Estado, Não, Paul Freston
• A Espiritualidade na Prática, Paul Stevens
É verdade que o sol brilha sobre mocinhos e bandidos e a chuva cai sobre honestos e corruptos (Mt 5.45). E sei, como C. S. Lewis, que Deus não é um velho bondoso e solene nem um guarda que anda com um cassetete escondido pronto para acertar contas com o primeiro que dobrar a esquina. No entanto, não raro ficamos embaraçados com o sucesso dos maus. Temos um desejo quase incontrolável de manipular a graça de Deus e nos irritamos quando ela sobeja, quando uns e outros são alcançados por ela e, sem perceber, nos perguntamos: “por que não eu?”
Na semana passada encontrei Deus em um dos lugares mais inesperados. Fui ver o guitarrista americano Stanley Jordan e fui surpreendido pela graça. A apresentação aconteceu na Sala Fernando Sabino, na Universidade Federal de Viçosa, em meio às montanhas de Minas. Puro êxtase. Não me passou pela cabeça envenená-lo por inveja, o que teria feito, diz a lenda, o compositor italiano do século 18 Antonio Salieri com Amadeus Mozart. Na verdade, lembrei-me de Bezalel, da sua destreza e capacidade artística (Êx 35.31); de Jubal, pai dos que tocam harpa (Gn 4.21) e, agradecido, murmurei algumas frases de adoração.
A verdade é bela e cura. Saliere, no entanto, não entendia como Mozart, um devasso, podia compor algo tão sublime. Recorro a Calvino, citado em Religião e Política, Sim; Igreja e Estado, Não: “Quando vemos em escritores pagãos a admirável luz da verdade que transparece nos seus livros, devemos perceber que a natureza do homem, embora caída da sua integridade e muito corrompida, não deixa de ser adornada ainda com muitos dons divinos. Se reconhecermos o Espírito de Deus como única fonte da verdade, nunca desprezaremos a verdade onde quer que apareça”.
Leia o livro
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