Opinião
- 16 de março de 2022
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Fidelidade, resistência, testemunho e serviço em meio à guerra contra a Ucrânia
Por Maruilson Souza
O mundo ocidental está perplexo! Não se imaginava ver, em pleno século 21, uma nação (a Rússia) invadir outra (a Ucrânia). Desde então, o que se vê na TV é um país sendo arruinado: cidades destruídas; hospitais e supermercados bombardeados; autoridades políticas sequestradas; famílias e inocentes brutalmente assassinados; estações de metrô virando bunkers; templos transformando-se em lugares de acolhimento; adolescentes desorientados; professores sendo obrigados a trocar caneta e livros por armas e milhões de pessoas buscando refúgio nos países vizinhos. Some-se a isso, relatos de estupros de mulheres e meninas e milhares de mortos deixados nas ruas ou enterrados em valas comuns. Esse é o cenário que o Papa Francisco denuncia como “loucura”, como vergonhoso e “uma derrota diante das forças do mal" e que fez o General Brian Peddle, líder mundial do Exército de Salvação, dizer que a agressão contra a Ucrânia é uma guerra que nada deixa “além de destruição, angústia e devastação”. Nesse contexto, o que as igrejas estão fazendo?
Resistência em meio à guerra
A igreja cristã majoritária na Ucrânia é a ortodoxa, com várias divisões internas. No entanto, todas têm reagido fortemente contra a guerra, condenado a invasão e denunciado as mentiras das autoridades russas. Entre os evangélicos ucranianos, há certo incômodo com o silêncio e com a (aparente) indiferença das igrejas russas. O diretor regional do Overseas Council International (Leste Europeu e Ásia Central), Taras Dyatlik, em carta aberta, desafiou os líderes evangélicos russos a não abraçarem ingenuamente o discurso retórico nacional, a manterem a fidelidade ao Corpo de Cristo e a assumirem a vocação profética ao lado da verdade.
O presidente da União das Igrejas Evangélicas Batistas da Ucrânia, Valerii Antoniuk, disse que, nesse contexto, ficar em silêncio é ser responsável diante de Deus pelo “sangue e as lágrimas de crianças, de mães e de soldados ucranianos”. Ele também expressou sua oração para que Deus levante teólogos da estirpe de Dietrich Bonhoeffer e Karl Barth para se oporem à guerra.
No mundo inteiro acadêmicos, sacerdotes e líderes ortodoxos têm reagido e isolado Cirilo I, Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, por seu apoio à guerra contra a Ucrânia. Essa semana, os “Padres Russos pela Paz” assinaram carta condenando as ordens homicidas para atacar a Ucrânia e o reverendo Ian Sauca, secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas, apelou ao Patriarca para que exerça sua influência para fazer parar a guerra. Apesar dos riscos, no dia 8 de março, mais de trezentos pastores evangélicos russos assinaram uma carta aberta na qual condenam a guerra na Ucrânia, pedem o fim da agressão ao país vizinho e o interrompimento de derramamento de sangue.
Adoração em meio à guerra
Por outro lado, muitos religiosos (pastores, padres e rabinos) permanecem em solo ucraniano ao lado do povo nas suas dores, sofrimentos e para dar-lhe assistência espiritual e emocional. Com isso, em meio aos bombardeios a ao medo, clamores de orações são levantados; dedicações e batizados são realizados; casamentos são celebrados; pessoas são consagradas ao serviço cristão; corais são formados; cânticos são entoados e pessoas recebem consolo e conforto para lhes ajudar a enfrentar essa tragédia humana.
Serviço como testemunho de fé em meio à guerra
O Exército de Salvação na Ucrânia, é novo e pequeno. No entanto, está inserido numa tradição de mais de cento e cinquenta anos de serviço à humanidade sofredora, em nome de Cristo, tanto em tempos de guerra como em períodos de paz. E, desde o primeiro momento, os salvacionistas ucranianos se uniram – e lá permanecem em meio à guerra – para mobilizar ajuda prática: acolher, alimentar, socorrer e tentar proteger especialmente os mais vulneráveis (crianças, enfermos, idosos e mulheres).
Em um segundo momento, equipes da rede global do Exército de Salvação foram enviadas para servir nos países fronteiriços (Eslováquia, Hungria, Moldávia, Polônia, República Checa e Romênia). Nesses lugares, acolhem refugiados; fornecem acomodações temporárias e acesso a Wi-fi; distribuem refeições quentes, materiais de higiene, medicamentos e agasalhos para proteção do frio; providenciam cuidado emocional e espiritual-pastoral.
É indiscutível que a guerra é um desastre humano, a entronização das pulsões mais egoístas e destrutivas. Diante disso, somos chamados a orar, mas igualmente a desafiar líderes mundiais para que busquem o diálogo como caminho para a paz e, para cheios de compaixão, nos movermos no serviço àqueles que sofrem na certeza de que nossa fé em Deus transcende fronteiras e que o Seu amor não conhece barreiras.
• Maruilson Souza, Ph.D, ministro do Exército de Salvação e professor no Salvation Army College at Crestmont, Califórnia, Estados Unidos.
O mundo ocidental está perplexo! Não se imaginava ver, em pleno século 21, uma nação (a Rússia) invadir outra (a Ucrânia). Desde então, o que se vê na TV é um país sendo arruinado: cidades destruídas; hospitais e supermercados bombardeados; autoridades políticas sequestradas; famílias e inocentes brutalmente assassinados; estações de metrô virando bunkers; templos transformando-se em lugares de acolhimento; adolescentes desorientados; professores sendo obrigados a trocar caneta e livros por armas e milhões de pessoas buscando refúgio nos países vizinhos. Some-se a isso, relatos de estupros de mulheres e meninas e milhares de mortos deixados nas ruas ou enterrados em valas comuns. Esse é o cenário que o Papa Francisco denuncia como “loucura”, como vergonhoso e “uma derrota diante das forças do mal" e que fez o General Brian Peddle, líder mundial do Exército de Salvação, dizer que a agressão contra a Ucrânia é uma guerra que nada deixa “além de destruição, angústia e devastação”. Nesse contexto, o que as igrejas estão fazendo?
Resistência em meio à guerra
A igreja cristã majoritária na Ucrânia é a ortodoxa, com várias divisões internas. No entanto, todas têm reagido fortemente contra a guerra, condenado a invasão e denunciado as mentiras das autoridades russas. Entre os evangélicos ucranianos, há certo incômodo com o silêncio e com a (aparente) indiferença das igrejas russas. O diretor regional do Overseas Council International (Leste Europeu e Ásia Central), Taras Dyatlik, em carta aberta, desafiou os líderes evangélicos russos a não abraçarem ingenuamente o discurso retórico nacional, a manterem a fidelidade ao Corpo de Cristo e a assumirem a vocação profética ao lado da verdade.
O presidente da União das Igrejas Evangélicas Batistas da Ucrânia, Valerii Antoniuk, disse que, nesse contexto, ficar em silêncio é ser responsável diante de Deus pelo “sangue e as lágrimas de crianças, de mães e de soldados ucranianos”. Ele também expressou sua oração para que Deus levante teólogos da estirpe de Dietrich Bonhoeffer e Karl Barth para se oporem à guerra.
No mundo inteiro acadêmicos, sacerdotes e líderes ortodoxos têm reagido e isolado Cirilo I, Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, por seu apoio à guerra contra a Ucrânia. Essa semana, os “Padres Russos pela Paz” assinaram carta condenando as ordens homicidas para atacar a Ucrânia e o reverendo Ian Sauca, secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas, apelou ao Patriarca para que exerça sua influência para fazer parar a guerra. Apesar dos riscos, no dia 8 de março, mais de trezentos pastores evangélicos russos assinaram uma carta aberta na qual condenam a guerra na Ucrânia, pedem o fim da agressão ao país vizinho e o interrompimento de derramamento de sangue.
Adoração em meio à guerra
Por outro lado, muitos religiosos (pastores, padres e rabinos) permanecem em solo ucraniano ao lado do povo nas suas dores, sofrimentos e para dar-lhe assistência espiritual e emocional. Com isso, em meio aos bombardeios a ao medo, clamores de orações são levantados; dedicações e batizados são realizados; casamentos são celebrados; pessoas são consagradas ao serviço cristão; corais são formados; cânticos são entoados e pessoas recebem consolo e conforto para lhes ajudar a enfrentar essa tragédia humana.
Serviço como testemunho de fé em meio à guerra
O Exército de Salvação na Ucrânia, é novo e pequeno. No entanto, está inserido numa tradição de mais de cento e cinquenta anos de serviço à humanidade sofredora, em nome de Cristo, tanto em tempos de guerra como em períodos de paz. E, desde o primeiro momento, os salvacionistas ucranianos se uniram – e lá permanecem em meio à guerra – para mobilizar ajuda prática: acolher, alimentar, socorrer e tentar proteger especialmente os mais vulneráveis (crianças, enfermos, idosos e mulheres).
Em um segundo momento, equipes da rede global do Exército de Salvação foram enviadas para servir nos países fronteiriços (Eslováquia, Hungria, Moldávia, Polônia, República Checa e Romênia). Nesses lugares, acolhem refugiados; fornecem acomodações temporárias e acesso a Wi-fi; distribuem refeições quentes, materiais de higiene, medicamentos e agasalhos para proteção do frio; providenciam cuidado emocional e espiritual-pastoral.
É indiscutível que a guerra é um desastre humano, a entronização das pulsões mais egoístas e destrutivas. Diante disso, somos chamados a orar, mas igualmente a desafiar líderes mundiais para que busquem o diálogo como caminho para a paz e, para cheios de compaixão, nos movermos no serviço àqueles que sofrem na certeza de que nossa fé em Deus transcende fronteiras e que o Seu amor não conhece barreiras.
• Maruilson Souza, Ph.D, ministro do Exército de Salvação e professor no Salvation Army College at Crestmont, Califórnia, Estados Unidos.
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