Opinião
- 18 de dezembro de 2017
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Feliz Natal ou Boas Festas? Faz diferença?
Por Cláudio Marra
Meu saudoso amigo Simon Kistemaker (1930–2017), erudito piedoso, acadêmico, comentarista bíblico, e também generoso mentor e hospedeiro, contou-me certa vez que, no Canadá, tempos atrás, os imigrantes islâmicos protestaram contra a exibição pública de faixas natalinas com os dizeres “Merry Christmas”, alegando que essa referência a Cristo os ofendia. Sem problemas, a frase natalina foi alterada para “Seasons Greetings” (saudações da estação), uma expressão idiota que poderia ser empregada o ano inteiro. Sempre haverá uma estação acontecendo, pelo menos enquanto o eixo do planeta permanecer inclinado.
Na verdade, atendendo reclamações de outras religiões ou não, o fato é que, nos países de fala inglesa, o “Merry Christmas” perdeu espaço. No Brasil, usa-se a genérica expressão “Boas Festas”.
Quando ouvi o relato sobre o Canadá, fiquei indignado com o modo equivocado de se lidar com o multiculturalismo. Reconhecemos haver culturas que preservam seus próprios valores e respeitam os de culturas estranhas. Os radicais, porém, não estão interessados em convivência pacífica com os que discordam deles. Estender-lhes a mão hoje será precisar de uma prótese de braço amanhã.
Mais tarde, porém, seguindo o passo lento de minhas reflexões, entendi que a pressão islâmica nada fez para mudar a situação. Nada que a própria sociedade ocidental não tivesse já realizado, o que se verifica na própria expressão “Merry Christmas”.
Nosso corrompido conceito sobre o Natal torna-se explícito ao se expressar o desejo de que ele seja divertido, que é o sentido da expressão em inglês. Por que seria divertido o Natal? Porque José saiu de Nazaré sem fazer reserva numa pousada de Belém? Imprevidência nada engraçada. E hoje, o que tem de divertido para ser lembrado na ceia de Natal? Os 57 reais que se paga pelo quilo do chester? Ou os 79 reais da garrafa do vinho espumante? (Promoção de Natal...)
Bem, escapamos da crítica, porque essa ideia de Natal divertido é lá dos primos do andar de cima. Nós, os tupiniquins, falamos em feliz Natal. Certo, mas ficamos por saber o que no Natal nos faria felizes. Poderão sim, ser apenas as iguarias engordativas, ou as bombas calóricas. De novo, o que valorizamos? Quando desejamos “tudo de bom”, o que isso inclui? E os indefectíveis “muita saúde, muita paz”?
Ninguém precisará cancelar ou proibir um Natal já desacreditado, esvaziado, paganizado. Retirar a faixa “Merry Christmas” será o de menos.
Coisa parecida acontece com as referências a anos, seguidos das abreviaturas a.C. ou d.C. (antes de Cristo e depois de Cristo). Os judeus se recusam a fazer referência a Jesus como tendo sido ele o Cristo, o Messias. Para eles, o Messias ainda não veio. Os intelectuais e acadêmicos ateus recusam-se a admitir a própria existência dele, e o reduzem a ficção. Por isso, ambos os grupos empregam a abreviatura E.C. (Era Comum) para se referir ao período inaugurado com... o nascimento de Jesus. Pronto. Varreram Jesus da História! Só falta explicar por que a tal era comum conta agora 2017 anos. José foi mesmo distraído, mas Nosso Senhor nasceu em Belém há 2017 anos, na plenitude dos tempos, segundo os planos eternos.
Não adianta desejar banir Jesus Cristo da História. Não terá sucesso a tentativa de confundi-lo com a farofa na mesa do Natal. Um cronista que li hoje (09.12), escreveu que agora não é hora de começar uma campanha conscientizadora. Discordo. A Bíblia apresenta hoje como o dia do arrependimento e da salvação. Vamos continuar vendo o Natal reduzido à desidratada tradição popular, a consumo desmiolado e gastança irresponsável, encontros que seriam improváveis no resto do ano, expressões mântricas desejando sucesso, filas de carentes suplicantes, cartinhas “do seu entregador de revistas”, caixinhas discretas de “feliz natal” sobre os balcões de lojas e de botecos, praias e aeroportos entupidos, ou às quilométricas filas para tudo nessa época, desde a fila para entrar no banheiro público até a fila para sair dele. Mas, para o crente, a opção é outra.
Minha esposa, Sandra, propôs um cartão de Natal, que eu compartilho aqui:
Que, neste Natal, você tenha
Contrição pelo seu pecado;
Tristeza por seu afastamento de Deus;
Desassossego pela injustiça e por sua omissão diante dela;
Inquietação por haver se comprometido com ideias e atitudes que não honram o Senhor Jesus Cristo.
Que você busque em Jesus o perdão e a vida eterna, e o siga como seu discípulo.
“(...) porque um menino nos nasceu, (...) Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9.6).
E onde celebrar o Natal, em casa ou na igreja? Faz diferença?
Leia mais
Advento: O Rei virá
Para celebrar o Natal
Playlist de Natal
Photo by Anton Scherbakov on Unsplash
Meu saudoso amigo Simon Kistemaker (1930–2017), erudito piedoso, acadêmico, comentarista bíblico, e também generoso mentor e hospedeiro, contou-me certa vez que, no Canadá, tempos atrás, os imigrantes islâmicos protestaram contra a exibição pública de faixas natalinas com os dizeres “Merry Christmas”, alegando que essa referência a Cristo os ofendia. Sem problemas, a frase natalina foi alterada para “Seasons Greetings” (saudações da estação), uma expressão idiota que poderia ser empregada o ano inteiro. Sempre haverá uma estação acontecendo, pelo menos enquanto o eixo do planeta permanecer inclinado.
Na verdade, atendendo reclamações de outras religiões ou não, o fato é que, nos países de fala inglesa, o “Merry Christmas” perdeu espaço. No Brasil, usa-se a genérica expressão “Boas Festas”.
Quando ouvi o relato sobre o Canadá, fiquei indignado com o modo equivocado de se lidar com o multiculturalismo. Reconhecemos haver culturas que preservam seus próprios valores e respeitam os de culturas estranhas. Os radicais, porém, não estão interessados em convivência pacífica com os que discordam deles. Estender-lhes a mão hoje será precisar de uma prótese de braço amanhã.
Mais tarde, porém, seguindo o passo lento de minhas reflexões, entendi que a pressão islâmica nada fez para mudar a situação. Nada que a própria sociedade ocidental não tivesse já realizado, o que se verifica na própria expressão “Merry Christmas”.
Nosso corrompido conceito sobre o Natal torna-se explícito ao se expressar o desejo de que ele seja divertido, que é o sentido da expressão em inglês. Por que seria divertido o Natal? Porque José saiu de Nazaré sem fazer reserva numa pousada de Belém? Imprevidência nada engraçada. E hoje, o que tem de divertido para ser lembrado na ceia de Natal? Os 57 reais que se paga pelo quilo do chester? Ou os 79 reais da garrafa do vinho espumante? (Promoção de Natal...)
Bem, escapamos da crítica, porque essa ideia de Natal divertido é lá dos primos do andar de cima. Nós, os tupiniquins, falamos em feliz Natal. Certo, mas ficamos por saber o que no Natal nos faria felizes. Poderão sim, ser apenas as iguarias engordativas, ou as bombas calóricas. De novo, o que valorizamos? Quando desejamos “tudo de bom”, o que isso inclui? E os indefectíveis “muita saúde, muita paz”?
Ninguém precisará cancelar ou proibir um Natal já desacreditado, esvaziado, paganizado. Retirar a faixa “Merry Christmas” será o de menos.
Coisa parecida acontece com as referências a anos, seguidos das abreviaturas a.C. ou d.C. (antes de Cristo e depois de Cristo). Os judeus se recusam a fazer referência a Jesus como tendo sido ele o Cristo, o Messias. Para eles, o Messias ainda não veio. Os intelectuais e acadêmicos ateus recusam-se a admitir a própria existência dele, e o reduzem a ficção. Por isso, ambos os grupos empregam a abreviatura E.C. (Era Comum) para se referir ao período inaugurado com... o nascimento de Jesus. Pronto. Varreram Jesus da História! Só falta explicar por que a tal era comum conta agora 2017 anos. José foi mesmo distraído, mas Nosso Senhor nasceu em Belém há 2017 anos, na plenitude dos tempos, segundo os planos eternos.
Não adianta desejar banir Jesus Cristo da História. Não terá sucesso a tentativa de confundi-lo com a farofa na mesa do Natal. Um cronista que li hoje (09.12), escreveu que agora não é hora de começar uma campanha conscientizadora. Discordo. A Bíblia apresenta hoje como o dia do arrependimento e da salvação. Vamos continuar vendo o Natal reduzido à desidratada tradição popular, a consumo desmiolado e gastança irresponsável, encontros que seriam improváveis no resto do ano, expressões mântricas desejando sucesso, filas de carentes suplicantes, cartinhas “do seu entregador de revistas”, caixinhas discretas de “feliz natal” sobre os balcões de lojas e de botecos, praias e aeroportos entupidos, ou às quilométricas filas para tudo nessa época, desde a fila para entrar no banheiro público até a fila para sair dele. Mas, para o crente, a opção é outra.
Minha esposa, Sandra, propôs um cartão de Natal, que eu compartilho aqui:
Que, neste Natal, você tenha
Contrição pelo seu pecado;
Tristeza por seu afastamento de Deus;
Desassossego pela injustiça e por sua omissão diante dela;
Inquietação por haver se comprometido com ideias e atitudes que não honram o Senhor Jesus Cristo.
Que você busque em Jesus o perdão e a vida eterna, e o siga como seu discípulo.
“(...) porque um menino nos nasceu, (...) Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9.6).
E onde celebrar o Natal, em casa ou na igreja? Faz diferença?
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Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
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