Opinião
- 23 de janeiro de 2018
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Evo Morales e os evangélicos: uma ameaça à democracia na Bolívia?
As últimas semanas foram mais agitadas do que o normal, pelo menos para alguns grupos católicos e evangélicos da Bolívia. Desde dezembro, logo após o anúncio do novo Código Penal do país que, para esses grupos, colocaria em risco a liberdade religiosa e criminalizaria a evangelização, os protestos foram intensos. No Brasil, a notícia também colocou em alvoroço parte dos evangélicos.
Ultimatoonline ouviu o professor Marcelo Vargas, que é diretor do Centro de Capacitação Missionária, organização evangélica de educação e serviço, com sede em La Paz, na Bolívia. Ele foi secretário executivo da Fraternidade Teológica Latino Americana e é casado com uma brasileira, Silvana Vargas. Também viveu no Brasil por muitos anos. Engenheiro elétrico por formação – na Universidade Federal de Minas Gerais –, Marcelo Vargas fez o seu mestrado em missiologia aqui bem perto da sede da Editora Ultimato, no Centro Evangélico de Missões, em Viçosa. É também doutor em missiologia pelo Oxford Centre for Mission Studies, na universidade de Wales, no Reino Unido.
A entrevista aconteceu um dia após o presidente Evo Morales anunciar, pelo Twitter, e também em entrevista, que “decidiu revogar a lei” e que enviará uma carta para o Congresso boliviano nos próximos dias.
Teve bastante repercussão no Brasil as notícias de que o novo Código Penal da Bolívia, recém-aprovado, poderia criminalizar a evangelização e resultar, inclusive, em prisão de até doze anos. Era isso mesmo que o governo estava propondo?
O Novo Código Penal que agora está caminho de ser revogado estava mal redigido, era ambíguo, repetia grande parte do código anterior, da época da ditadura; mas não criminalizava a evangelização. A condenação de 7 a 12 anos aconteceria no caso de tráfico de pessoas realizado dentro do contexto de grupos religiosos. A maioria dos evangélicos fez uma leitura fora de contexto e alarmista. Nem o artigo 88, nem o inciso 11, do mesmo artigo estão decretando perseguição aos evangélicos. Mas, sim, ele é ambíguo.
Qual foi a reação da igreja evangélica boliviana?
Evo Morales, desde que começou a ser presidente, tem sido acusado pelos líderes locais das associações de pastores evangélicos de que iria fechar as igrejas, que o governo ia se apropriar das igrejas e não deixaria mais entrar Bíblias na Bolívia. Em doze anos de governo, isso nunca aconteceu. A atitude de muitos pastores tem sido discriminatória, racista e por motivos ideológicos de direita. No caso do Código Penal a reação da igreja evangélica boliviana foi fruto da desinformação, do alarmismo e sensacionalismo. Uma reação influenciada pelos meios de comunicação e pelos partidos de oposição.
As manifestações contrárias a aprovação do Novo Código Penal foram generalizadas entre os cristãos, uniram católicos e evangélicos?
Os católicos foram mais cuidadosos, não pediram a anulação total do código, mas especificaram quais partes eram problemáticas. Nesse sentido, fizeram um trabalho muito melhor que os evangélicos, já que examinaram todo o Código Penal e apontaram todos os artigos que eram contra a família, em prejuízo dos princípios da Igreja Católica. Os meios de comunicação sensacionalistas passaram a ideia de que tanto evangélicos como católicos estavam unidos pela liberdade de evangelizar, o que não era correto. Na verdade, as manifestações contrárias ao Código Penal começaram, primeiro, no setor da saúde. Os médicos ficaram em greve por 47 dias. Só depois que outros setores, incluindo a igreja evangélica se manifestaram.
Há algum setor entre os evangélicos bolivianos que apoia o governo de Evo Morales? Qual a posição deste setor diante desses acontecimentos?
As igrejas identificadas com a teologia da libertação apoiam a Evo. São as igrejas Metodista e Luterana dessa linha (teológica). Estes setores evangélicos são fortemente de identidade indígena Aymara. E Evo é indígena Aymara. Em situações de conflito social onde foi preciso diálogo nacional, os partidos de oposição chamaram um bispo católico, e o presidente Evo chamou um bispo metodista como assessor, que assentava ao seu lado nas discussões.
Ontem (21/01), o Presidente Evo Morales divulgou em sua conta no Twitter que decidiu revogar o Novo Código Penal e acusou setores políticos da direita de conspirar e causar desestabilização, por meio da desinformação. Há alguma verdade na justificativa do presidente?
As acusações do presidente são exageradas. Os partidos de oposição estiveram mobilizados, mas a maior força da mobilização veio de setores populares, dos sindicatos, da cidadania apartidária e setores pobres de esquerda.
O governo Evo Morales representa uma ameaça a liberdade religiosa na Bolívia?
Não tem ameaças contra a liberdade de consciência e a liberdade religiosa. A ameaça principal do governo de Evo Morales é contra a democracia. Ele quer participar das eleições em 2019 pela quarta vez e isso é contra as leis do país. Mas, mas como ele conta com a maioria absoluta na câmara dos deputados e senadores, então tem poder de aprovar as leis segundo sua conveniência. Nosso presidente e os seus colaboradores mais próximos, estão seduzidos pelo poder.
Como esses acontecimentos podem mudar a igreja evangélica na Bolívia?
A igreja evangélica tem, mais do que nunca, o desafio de tomar maior consciência das propostas de construir um país novo, de considerar com discernimento quais mudanças são necessárias e dignas de lutar pela sua implementação e quais são contrárias aos valores do reino de Deus.
Foto: Jose Lirauze / ABI
Ultimatoonline ouviu o professor Marcelo Vargas, que é diretor do Centro de Capacitação Missionária, organização evangélica de educação e serviço, com sede em La Paz, na Bolívia. Ele foi secretário executivo da Fraternidade Teológica Latino Americana e é casado com uma brasileira, Silvana Vargas. Também viveu no Brasil por muitos anos. Engenheiro elétrico por formação – na Universidade Federal de Minas Gerais –, Marcelo Vargas fez o seu mestrado em missiologia aqui bem perto da sede da Editora Ultimato, no Centro Evangélico de Missões, em Viçosa. É também doutor em missiologia pelo Oxford Centre for Mission Studies, na universidade de Wales, no Reino Unido.
A entrevista aconteceu um dia após o presidente Evo Morales anunciar, pelo Twitter, e também em entrevista, que “decidiu revogar a lei” e que enviará uma carta para o Congresso boliviano nos próximos dias.
Teve bastante repercussão no Brasil as notícias de que o novo Código Penal da Bolívia, recém-aprovado, poderia criminalizar a evangelização e resultar, inclusive, em prisão de até doze anos. Era isso mesmo que o governo estava propondo?
O Novo Código Penal que agora está caminho de ser revogado estava mal redigido, era ambíguo, repetia grande parte do código anterior, da época da ditadura; mas não criminalizava a evangelização. A condenação de 7 a 12 anos aconteceria no caso de tráfico de pessoas realizado dentro do contexto de grupos religiosos. A maioria dos evangélicos fez uma leitura fora de contexto e alarmista. Nem o artigo 88, nem o inciso 11, do mesmo artigo estão decretando perseguição aos evangélicos. Mas, sim, ele é ambíguo.
Qual foi a reação da igreja evangélica boliviana?
Evo Morales, desde que começou a ser presidente, tem sido acusado pelos líderes locais das associações de pastores evangélicos de que iria fechar as igrejas, que o governo ia se apropriar das igrejas e não deixaria mais entrar Bíblias na Bolívia. Em doze anos de governo, isso nunca aconteceu. A atitude de muitos pastores tem sido discriminatória, racista e por motivos ideológicos de direita. No caso do Código Penal a reação da igreja evangélica boliviana foi fruto da desinformação, do alarmismo e sensacionalismo. Uma reação influenciada pelos meios de comunicação e pelos partidos de oposição.
As manifestações contrárias a aprovação do Novo Código Penal foram generalizadas entre os cristãos, uniram católicos e evangélicos?
Os católicos foram mais cuidadosos, não pediram a anulação total do código, mas especificaram quais partes eram problemáticas. Nesse sentido, fizeram um trabalho muito melhor que os evangélicos, já que examinaram todo o Código Penal e apontaram todos os artigos que eram contra a família, em prejuízo dos princípios da Igreja Católica. Os meios de comunicação sensacionalistas passaram a ideia de que tanto evangélicos como católicos estavam unidos pela liberdade de evangelizar, o que não era correto. Na verdade, as manifestações contrárias ao Código Penal começaram, primeiro, no setor da saúde. Os médicos ficaram em greve por 47 dias. Só depois que outros setores, incluindo a igreja evangélica se manifestaram.
Há algum setor entre os evangélicos bolivianos que apoia o governo de Evo Morales? Qual a posição deste setor diante desses acontecimentos?
As igrejas identificadas com a teologia da libertação apoiam a Evo. São as igrejas Metodista e Luterana dessa linha (teológica). Estes setores evangélicos são fortemente de identidade indígena Aymara. E Evo é indígena Aymara. Em situações de conflito social onde foi preciso diálogo nacional, os partidos de oposição chamaram um bispo católico, e o presidente Evo chamou um bispo metodista como assessor, que assentava ao seu lado nas discussões.
Ontem (21/01), o Presidente Evo Morales divulgou em sua conta no Twitter que decidiu revogar o Novo Código Penal e acusou setores políticos da direita de conspirar e causar desestabilização, por meio da desinformação. Há alguma verdade na justificativa do presidente?
As acusações do presidente são exageradas. Os partidos de oposição estiveram mobilizados, mas a maior força da mobilização veio de setores populares, dos sindicatos, da cidadania apartidária e setores pobres de esquerda.
O governo Evo Morales representa uma ameaça a liberdade religiosa na Bolívia?
Não tem ameaças contra a liberdade de consciência e a liberdade religiosa. A ameaça principal do governo de Evo Morales é contra a democracia. Ele quer participar das eleições em 2019 pela quarta vez e isso é contra as leis do país. Mas, mas como ele conta com a maioria absoluta na câmara dos deputados e senadores, então tem poder de aprovar as leis segundo sua conveniência. Nosso presidente e os seus colaboradores mais próximos, estão seduzidos pelo poder.
Como esses acontecimentos podem mudar a igreja evangélica na Bolívia?
A igreja evangélica tem, mais do que nunca, o desafio de tomar maior consciência das propostas de construir um país novo, de considerar com discernimento quais mudanças são necessárias e dignas de lutar pela sua implementação e quais são contrárias aos valores do reino de Deus.
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