Opinião
- 13 de outubro de 2017
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Evangélicos não praticantes
Por Gerson Borges
Se a palavra “evangélico” está cansada, em crise – e se tornou problemática –, já a expressão “evangélicos não praticantes” está na moda. É uma categoria crescente nos relatórios do senso religioso, das amostragens do IBGE e afins.
Muito triste! E não faz sentido algum. Aliás, “evangélico não praticante” é como água seca, bola quadrada, reta torta. Uma contradição de termos. Nonsense.
Para quem se dedica a pensar o tema, o problema está relacionado, entre outras coisas, com o tiro no pé que é o projeto megalômano do neopentecostalismo. Um fenômeno baseado em uma religiosidade “água-com-açúcar” total, abatida, combatida, discutida, famigerada, e na tão rasa teologia da prosperidade que propõe, entre outros absurdos, o seguinte:
“Crente não sofre.
Crente tem de ser rico.
Crente não fica doente ou só.
Muito menos deprimido ou desempregado.”
Basta ler as Escrituras para perceber que isso não pode ser verdade! Jesus não era rico e sofreu. Paulo ficou doente e foi abandonado por muitos “falsos irmãos” e amigos reais. Sansão, Elias, Davi, Jeremias... Toda essa gente de Deus, guerreiros do Senhor, mesmo, ficou deprimida e passou pelo deserto, pela “noite escura da alma”, na expressão fabulosa de João da Cruz. E daí? Saíram mais fortes e renovados. Além de que podemos ser fiéis a Deus, nos ensinaram a não sermos, necessariamente, felizes – não no conceito e nos valores desse mundo vão, hedonista, de gente vazia e egocêntrica. Pense bem: deve ser terrível voltar-se para dentro de si e não achar nada. Só um vão, um buraco espiritual, afetivo e existencial.
Ser evangélico (ou crente, ou protestante, ou católico, ou, em suma, cristão) e não praticar o evangelho, não exercitar sua fé na redenção, no perdão dos pecados, na graça sem fim, na necessidade e beleza da santidade, na luta contra o mal em nós e no mundo, não é apenas falhar em frequentar cultos (religiosamente! ) - é não encontrar Jesus na balbúrdia no trânsito, no lufa-lufa da agenda, no monte de contas pra pagar sem o dinheiro correspondente, no escuro ansiolítico e depressivo da madrugada insone, no olhar do pobre pedindo pão e amor no farol, assim como não reconhecê-lo na mesa farta, na festa de formatura, no check out do supermercado, na caminhada com o cachorro no parque arborizado do sábado.
Sim, praticar o evangelho tem muito a ver com a membresia comprometida, efetiva, engajada, sacrificial, até com uma igreja local, comunidade de seguidores do Cristo, onde adoramos, aprendemos, servimos a Deus, uns aos outros e à sociedade. Espiritualidade carreira-solo é piração pós-moderna, cristianismo que virou suco. Fé liquefeita, como diria Baumann.
E, sim, compromisso com a igreja local como sinal do compromisso com o Cristo, significa compromisso com as ordenanças sacramentais: Batismo e Ceia do Senhor. A quem fica três ou cinco meses sem participar da Santa Ceia e ainda diz, desrespeitosamente, que "ceia não salva", barateando a graça, eu digo, com temor e tremor: “tenho dificuldade em pensar que alguém que diz que ceia não salva, foi salvo!”.
Viver o evangelho é crer e agir. Crer que a graça é tudo – melhor que a vida. Que o perdão é real e possível. Que a partilha é mandamento inadiável. Que o afeto é sagrado. Que Igreja não é para domingo. É um relacionamento forte, santo, intencional, perseverante e bíblico com outros praticantes do evangelho da graça – gente que espalha que o reino (governo, domínio, vida, revolução) do Senhor ressurreto já está aqui e está vindo com gás e força total.
Dentro de nós.
Por meio da gente.
No nosso entorno.
Eita boa notícia!
Evangelho é uma notícia.
Evangelho é uma prática.
E crente ora. Lê a Bíblia. Contribui. Dá de si. Generosamente.
Quando isso mudar, é por que Jesus voltou. Ou as galinhas passaram a ciscar para frente, com diria minha mãe. Careta, né? Tão careta quanto respirar e dormir. Pare para ver...
Volte para Jesus. Volte para a Igreja. Pratique o Evangelho: não há nada que eu faça para ser mais ou menos amado por Ele. Eu sou amado. Que coisa mais da hora!
Leia mais
Ser Evangélico Sem Deixar de Ser Brasileiro [Gerson Borges]
Simplesmente Cristão - Por que o cristianismo faz sentido [N. T. Wright]
Vida Cristã Fora da Caixa [Marcos Botelho]
Imagem: Photo by Priscilla Du Preez on Unsplash
Se a palavra “evangélico” está cansada, em crise – e se tornou problemática –, já a expressão “evangélicos não praticantes” está na moda. É uma categoria crescente nos relatórios do senso religioso, das amostragens do IBGE e afins.
Muito triste! E não faz sentido algum. Aliás, “evangélico não praticante” é como água seca, bola quadrada, reta torta. Uma contradição de termos. Nonsense.
Para quem se dedica a pensar o tema, o problema está relacionado, entre outras coisas, com o tiro no pé que é o projeto megalômano do neopentecostalismo. Um fenômeno baseado em uma religiosidade “água-com-açúcar” total, abatida, combatida, discutida, famigerada, e na tão rasa teologia da prosperidade que propõe, entre outros absurdos, o seguinte:
“Crente não sofre.
Crente tem de ser rico.
Crente não fica doente ou só.
Muito menos deprimido ou desempregado.”
Basta ler as Escrituras para perceber que isso não pode ser verdade! Jesus não era rico e sofreu. Paulo ficou doente e foi abandonado por muitos “falsos irmãos” e amigos reais. Sansão, Elias, Davi, Jeremias... Toda essa gente de Deus, guerreiros do Senhor, mesmo, ficou deprimida e passou pelo deserto, pela “noite escura da alma”, na expressão fabulosa de João da Cruz. E daí? Saíram mais fortes e renovados. Além de que podemos ser fiéis a Deus, nos ensinaram a não sermos, necessariamente, felizes – não no conceito e nos valores desse mundo vão, hedonista, de gente vazia e egocêntrica. Pense bem: deve ser terrível voltar-se para dentro de si e não achar nada. Só um vão, um buraco espiritual, afetivo e existencial.
Ser evangélico (ou crente, ou protestante, ou católico, ou, em suma, cristão) e não praticar o evangelho, não exercitar sua fé na redenção, no perdão dos pecados, na graça sem fim, na necessidade e beleza da santidade, na luta contra o mal em nós e no mundo, não é apenas falhar em frequentar cultos (religiosamente! ) - é não encontrar Jesus na balbúrdia no trânsito, no lufa-lufa da agenda, no monte de contas pra pagar sem o dinheiro correspondente, no escuro ansiolítico e depressivo da madrugada insone, no olhar do pobre pedindo pão e amor no farol, assim como não reconhecê-lo na mesa farta, na festa de formatura, no check out do supermercado, na caminhada com o cachorro no parque arborizado do sábado.
Sim, praticar o evangelho tem muito a ver com a membresia comprometida, efetiva, engajada, sacrificial, até com uma igreja local, comunidade de seguidores do Cristo, onde adoramos, aprendemos, servimos a Deus, uns aos outros e à sociedade. Espiritualidade carreira-solo é piração pós-moderna, cristianismo que virou suco. Fé liquefeita, como diria Baumann.
E, sim, compromisso com a igreja local como sinal do compromisso com o Cristo, significa compromisso com as ordenanças sacramentais: Batismo e Ceia do Senhor. A quem fica três ou cinco meses sem participar da Santa Ceia e ainda diz, desrespeitosamente, que "ceia não salva", barateando a graça, eu digo, com temor e tremor: “tenho dificuldade em pensar que alguém que diz que ceia não salva, foi salvo!”.
Viver o evangelho é crer e agir. Crer que a graça é tudo – melhor que a vida. Que o perdão é real e possível. Que a partilha é mandamento inadiável. Que o afeto é sagrado. Que Igreja não é para domingo. É um relacionamento forte, santo, intencional, perseverante e bíblico com outros praticantes do evangelho da graça – gente que espalha que o reino (governo, domínio, vida, revolução) do Senhor ressurreto já está aqui e está vindo com gás e força total.
Dentro de nós.
Por meio da gente.
No nosso entorno.
Eita boa notícia!
Evangelho é uma notícia.
Evangelho é uma prática.
E crente ora. Lê a Bíblia. Contribui. Dá de si. Generosamente.
Quando isso mudar, é por que Jesus voltou. Ou as galinhas passaram a ciscar para frente, com diria minha mãe. Careta, né? Tão careta quanto respirar e dormir. Pare para ver...
Volte para Jesus. Volte para a Igreja. Pratique o Evangelho: não há nada que eu faça para ser mais ou menos amado por Ele. Eu sou amado. Que coisa mais da hora!
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Ser Evangélico Sem Deixar de Ser Brasileiro [Gerson Borges]
Simplesmente Cristão - Por que o cristianismo faz sentido [N. T. Wright]
Vida Cristã Fora da Caixa [Marcos Botelho]
Imagem: Photo by Priscilla Du Preez on Unsplash
Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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