Opinião
- 16 de junho de 2010
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Evangélicos: memória sociopolítica e formação de novas lideranças
Marcus Vinicius Matos
O primeiro contato com o material é sempre marcado pela surpresa. Tanto o público acadêmico quanto o religioso são surpreendidos ao saber que a juventude evangélica brasileira defendeu em um passado recente, e de maneira organizada, bandeiras sociais e políticas consideradas "revolucionárias" - como reforma agrária, distribuição de renda e diversidade cultural. Mas o espanto não é de hoje. Nas palavras do sociólogo Waldo Cesar (1923-2007), um dos entrevistados no projeto, todos "ficavam surpresos em saber que a igreja evangélica estava pensando o Brasil em termos de uma nova nação".
Em 2005, um grupo de pesquisadores de várias partes do país se reuniu no Rio de Janeiro e na cidade de Mendes para realizar uma série de entrevistas com pastores, acadêmicos e lideranças da juventude evangélica das décadas de 1950-1960. O objetivo inicial era promover um resgate histórico da atuação política da juventude cristã em um período marcado na história do Brasil e da América Latina como tempos de grandes agitações, transformações e esperanças. No caso brasileiro, fortes oposições ideológicas acirraram disputas em torno das bandeiras do desenvolvimento e do nacionalismo na esteira dos processos de profundas mudanças sociais que afetavam o país: urbanização, industrialização, intensa mobilização política e progressivo amadurecimento democrático. O foco das entrevistas eram os jovens líderes do Setor de Responsabilidade Social da Igreja - ligados à extinta Confederação Evangélica do Brasil (CEB) - e da União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB), hoje com idades entre 60 e 80 anos.
Assim se iniciava um longo trabalho de pesquisa, coordenado pelos pesquisadores Flávio Conrado (ISER) e Alexandre Brasil (UFRJ), que coletou entre 2005 e 2006 aproximadamente 16 horas de entrevistas. Em 2007, o ISER iniciou uma parceira com a Rede FALE, e o projeto ganhou o apoio das organizações evangélicas Visão Mundial e Basileia. Com este novo aporte, produziu-se um primeiro material audiovisual, o curta metragem "Cristo e o processo revolucionário brasileiro", que desde então vem sendo exibido em diversos eventos acadêmicos - como o 14º Congresso Brasileiro de Sociologia - e eventos promovidos por organizações da juventude evangélica.
Hoje, o projeto "Juventude, Política e Religião" é desenvolvido por ISER e Rede FALE, e já conta com o apoio do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI-Brasil), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e da Federação Universal de Movimentos Estudiantis Cristãos (FUMEC). O objetivo geral da pesquisa-intervenção é resgatar e analisar a memória relacionada à participação de jovens ligados às igrejas protestantes no movimento estudantil dos anos 1960, além de apresentá-la e discuti-la com jovens evangélicos, estudantes e jovens de outras religiões. Para isso serão produzidos mais vídeos - a partir do material de acervo disponível e da realização de novas entrevistas.
Assim, espera-se reunir informações e experiências que servirão de subsídio para a reflexão das gerações atuais acerca da participação sociopolítica de jovens.
• Marcus Vinicius Matos é secretário executivo da Rede FALE, pesquisador associado do ISER - Instituto de Estudos da Religião, e cursa mestrado em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Fonte: Boletim Plural nº 15
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O primeiro contato com o material é sempre marcado pela surpresa. Tanto o público acadêmico quanto o religioso são surpreendidos ao saber que a juventude evangélica brasileira defendeu em um passado recente, e de maneira organizada, bandeiras sociais e políticas consideradas "revolucionárias" - como reforma agrária, distribuição de renda e diversidade cultural. Mas o espanto não é de hoje. Nas palavras do sociólogo Waldo Cesar (1923-2007), um dos entrevistados no projeto, todos "ficavam surpresos em saber que a igreja evangélica estava pensando o Brasil em termos de uma nova nação".
Em 2005, um grupo de pesquisadores de várias partes do país se reuniu no Rio de Janeiro e na cidade de Mendes para realizar uma série de entrevistas com pastores, acadêmicos e lideranças da juventude evangélica das décadas de 1950-1960. O objetivo inicial era promover um resgate histórico da atuação política da juventude cristã em um período marcado na história do Brasil e da América Latina como tempos de grandes agitações, transformações e esperanças. No caso brasileiro, fortes oposições ideológicas acirraram disputas em torno das bandeiras do desenvolvimento e do nacionalismo na esteira dos processos de profundas mudanças sociais que afetavam o país: urbanização, industrialização, intensa mobilização política e progressivo amadurecimento democrático. O foco das entrevistas eram os jovens líderes do Setor de Responsabilidade Social da Igreja - ligados à extinta Confederação Evangélica do Brasil (CEB) - e da União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB), hoje com idades entre 60 e 80 anos.
Assim se iniciava um longo trabalho de pesquisa, coordenado pelos pesquisadores Flávio Conrado (ISER) e Alexandre Brasil (UFRJ), que coletou entre 2005 e 2006 aproximadamente 16 horas de entrevistas. Em 2007, o ISER iniciou uma parceira com a Rede FALE, e o projeto ganhou o apoio das organizações evangélicas Visão Mundial e Basileia. Com este novo aporte, produziu-se um primeiro material audiovisual, o curta metragem "Cristo e o processo revolucionário brasileiro", que desde então vem sendo exibido em diversos eventos acadêmicos - como o 14º Congresso Brasileiro de Sociologia - e eventos promovidos por organizações da juventude evangélica.
Hoje, o projeto "Juventude, Política e Religião" é desenvolvido por ISER e Rede FALE, e já conta com o apoio do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI-Brasil), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e da Federação Universal de Movimentos Estudiantis Cristãos (FUMEC). O objetivo geral da pesquisa-intervenção é resgatar e analisar a memória relacionada à participação de jovens ligados às igrejas protestantes no movimento estudantil dos anos 1960, além de apresentá-la e discuti-la com jovens evangélicos, estudantes e jovens de outras religiões. Para isso serão produzidos mais vídeos - a partir do material de acervo disponível e da realização de novas entrevistas.
Assim, espera-se reunir informações e experiências que servirão de subsídio para a reflexão das gerações atuais acerca da participação sociopolítica de jovens.
• Marcus Vinicius Matos é secretário executivo da Rede FALE, pesquisador associado do ISER - Instituto de Estudos da Religião, e cursa mestrado em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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