Opinião
- 20 de agosto de 2009
- Visualizações: 5064
- 3 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
Evangélicos: da reserva moral à vanguarda inescrupulosa
Derval Dasilio
Exemplos indignos de igreja gananciosa, mais respeitados que Estevão – cristão esquecido, mártir da fé resistente à religião retributivista, na compaixão, na misericórdia, no cuidado com os demais – Simão, Ananias e Safira fascinam evangélicos recentes tais como mágicos vigaristas e trapaceiros no viaduto Santa Efigênia. Políticos, segundo as últimas notícias que envolvem senadores e deputados federais do Congresso, envolvidos em mensalão, operação sanguessuga, propinodutos permanentes, representando milhões de evangélicos. São eleitos como “homens de fé evangélica” mesmo respondendo a acusações e processos por fraude, roubo e corrupção. Compõem a nova linguagem política nos púlpitos e nos templos transformados em palanques da nova forma cultural de “ser evangélico”. Leem a Bíblia fundamentalista, adestrando os fiéis para o uso da urna; defendem com unhas e garras o senador eleito com auxílio do crime organizado; promovem para nova eleição o deputado que renunciou para escapar à cassação do mandato evitando a inelegibilidade... Com a palavra os pastores parlamentares.
Algo que é muito embaraçoso nos tempos atuais é a verdade sobre a compreensão “evangélica” que torna a visão de Deus, do homem, da sociedade e do mundo extremamente preocupante, fazendo corar os que ainda têm vergonha. Ganância, sacrifício financeiro em favor de dirigentes religiosos, hoje são virtudes evangélicas e não pecados veniais. Promessas de prosperidade, politicagem rasteira, tal qual incômodas apostasias e heresias dos primeiros séculos da Igreja. Esse conhecimento nos traz uma culpabilidade relativa, uma vez que aceitamos e nos impregnamos do pragmatismo propositista do fundamentalismo que se ensina nas igrejas e que procuramos assimilar a qualquer custo. São absurdos, descalabros, no caminho e na transmissão da fé consolidada nos 150 anos de protestantismo no Brasil, com a Bíblia a tiracolo.
É o fim do conceito da transparência. Fomos sempre conhecidos como reserva moral da sociedade. Passamos à vanguarda imoral. Agora pertencemos ao lixo que faz feder o nome “evangélico”. Roubar, fraudar, usar de falsidade ideológica, enganar eleitores, não é mais pecado imperdoável. Escrevendo a Melanchton, Lutero disse em bom latim: “Esto peccator et pecca fortiter” (Sê pecador e peca forte). Só que esses evangélicos que não seguem o pensamento do grande reformador protestante fazem questão do acréscimo apócrifo: ...“e crede mais fortemente na impunidade”. Eis o complemento do evangelho pelo avesso, na ganância de nossos parlamentares, evangelicais ferrenhos em suas campanhas. Igrejas/palanques dominam, controlam e influenciam a inveja das igrejas menores, enquanto pastores do baixo clero e cabos eleitorais da corrupção alimentam campanhas eleitorais sem pudor cristão.
Dietrich Bonhoeffer, mártir do cristianismo moderno, dizia que é preciso estar atento ao fato de que Deus entrou na história e na carne da humanidade por meio de Jesus Cristo.
Nossa herança difere da herança de outros povos e outras culturas quanto à revelação do Evangelho encarnado, quando prenunciava a pós-modernidade religiosa (carismática), a secularização evangélica (êxtase e ganância), vendo religiosos agindo como se Deus não existisse. Arrogando-se de serem donos do destino histórico de cada um e da sociedade humana em seu todo.
Agrade-nos, ou não, “nossos antepassados bíblicos são testemunhas do ingresso de Deus na história humana” (Thomas Merton). Deus, não o movimento carismático, retributivista, sem escrúpulos, faz nossa história. Quer admitamos ou não, sendo protestantes, evangélicos, católicos, a revelação aponta para Jesus, que veio para o “mundo” e o mundo não o conheceu (Jo 1.10). Jesus não utilizou sua imagem para impor a hegemonia evangelical triunfalista que adotamos. Ao menos no período apostólico da Igreja, os cristãos respeitavam o ethos bíblico. Por que nossos concílios eclesiásticos não acordam enquanto se recolhem em solidariedade implícita à desonestidade reinante? É um sofrimento ler a Bíblia e a história do protestantismo nesse cenário de omissão.
Exemplos indignos de igreja gananciosa, mais respeitados que Estevão – cristão esquecido, mártir da fé resistente à religião retributivista, na compaixão, na misericórdia, no cuidado com os demais – Simão, Ananias e Safira fascinam evangélicos recentes tais como mágicos vigaristas e trapaceiros no viaduto Santa Efigênia. Políticos, segundo as últimas notícias que envolvem senadores e deputados federais do Congresso, envolvidos em mensalão, operação sanguessuga, propinodutos permanentes, representando milhões de evangélicos. São eleitos como “homens de fé evangélica” mesmo respondendo a acusações e processos por fraude, roubo e corrupção. Compõem a nova linguagem política nos púlpitos e nos templos transformados em palanques da nova forma cultural de “ser evangélico”. Leem a Bíblia fundamentalista, adestrando os fiéis para o uso da urna; defendem com unhas e garras o senador eleito com auxílio do crime organizado; promovem para nova eleição o deputado que renunciou para escapar à cassação do mandato evitando a inelegibilidade... Com a palavra os pastores parlamentares.
Algo que é muito embaraçoso nos tempos atuais é a verdade sobre a compreensão “evangélica” que torna a visão de Deus, do homem, da sociedade e do mundo extremamente preocupante, fazendo corar os que ainda têm vergonha. Ganância, sacrifício financeiro em favor de dirigentes religiosos, hoje são virtudes evangélicas e não pecados veniais. Promessas de prosperidade, politicagem rasteira, tal qual incômodas apostasias e heresias dos primeiros séculos da Igreja. Esse conhecimento nos traz uma culpabilidade relativa, uma vez que aceitamos e nos impregnamos do pragmatismo propositista do fundamentalismo que se ensina nas igrejas e que procuramos assimilar a qualquer custo. São absurdos, descalabros, no caminho e na transmissão da fé consolidada nos 150 anos de protestantismo no Brasil, com a Bíblia a tiracolo.
É o fim do conceito da transparência. Fomos sempre conhecidos como reserva moral da sociedade. Passamos à vanguarda imoral. Agora pertencemos ao lixo que faz feder o nome “evangélico”. Roubar, fraudar, usar de falsidade ideológica, enganar eleitores, não é mais pecado imperdoável. Escrevendo a Melanchton, Lutero disse em bom latim: “Esto peccator et pecca fortiter” (Sê pecador e peca forte). Só que esses evangélicos que não seguem o pensamento do grande reformador protestante fazem questão do acréscimo apócrifo: ...“e crede mais fortemente na impunidade”. Eis o complemento do evangelho pelo avesso, na ganância de nossos parlamentares, evangelicais ferrenhos em suas campanhas. Igrejas/palanques dominam, controlam e influenciam a inveja das igrejas menores, enquanto pastores do baixo clero e cabos eleitorais da corrupção alimentam campanhas eleitorais sem pudor cristão.
Dietrich Bonhoeffer, mártir do cristianismo moderno, dizia que é preciso estar atento ao fato de que Deus entrou na história e na carne da humanidade por meio de Jesus Cristo.
Nossa herança difere da herança de outros povos e outras culturas quanto à revelação do Evangelho encarnado, quando prenunciava a pós-modernidade religiosa (carismática), a secularização evangélica (êxtase e ganância), vendo religiosos agindo como se Deus não existisse. Arrogando-se de serem donos do destino histórico de cada um e da sociedade humana em seu todo.
Agrade-nos, ou não, “nossos antepassados bíblicos são testemunhas do ingresso de Deus na história humana” (Thomas Merton). Deus, não o movimento carismático, retributivista, sem escrúpulos, faz nossa história. Quer admitamos ou não, sendo protestantes, evangélicos, católicos, a revelação aponta para Jesus, que veio para o “mundo” e o mundo não o conheceu (Jo 1.10). Jesus não utilizou sua imagem para impor a hegemonia evangelical triunfalista que adotamos. Ao menos no período apostólico da Igreja, os cristãos respeitavam o ethos bíblico. Por que nossos concílios eclesiásticos não acordam enquanto se recolhem em solidariedade implícita à desonestidade reinante? É um sofrimento ler a Bíblia e a história do protestantismo nesse cenário de omissão.
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
- Textos publicados: 94 [ver]
- 20 de agosto de 2009
- Visualizações: 5064
- 3 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- A última revista do ano
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- Vem aí "The Connect Faith 2024"