Opinião
- 27 de fevereiro de 2019
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Eu também comecei em “Puritânia”, de O Regresso do Peregrino: um aviso de C. S. Lewis de que nos enganamos...
Por James Andrew Gilbert
O primeiro livro escrito por Lewis logo após sua conversão, em 1933, O Regresso do Peregrino é uma narrativa alegórica de João. O texto é um tanto dado a diálogos filosóficos, como uma mistura do O Peregrino, de John Bunyan, com os diálogos registrados por Platão.
O primeiro livro escrito por Lewis logo após sua conversão, em 1933, O Regresso do Peregrino é uma narrativa alegórica de João. O texto é um tanto dado a diálogos filosóficos, como uma mistura do O Peregrino, de John Bunyan, com os diálogos registrados por Platão.
João é um vagante, um peregrino perdido. Por mais que tenha o alvo de chegar à Ilha de seu Desejo Querido, constantemente se desvia por alternativas: filosofias contraditórias e objetos de desejo ilusórios. No livro, filosofias, ideias e desejos são encarnados em pessoas às vezes com nomes um tanto quanto diretos como Puritânia, Sr. Iluminismo, Sr. Humanista, Sabedoria, Razão, História e Virtude, companheiros de viagem de João.
Assim como João, comecei em “Puritânia”, tive dúvidas e questionamentos lógicos quanto à existência de Deus e percorri caminhos que tentaram me convencer que Ele era mera criação de um desejo meu. E, assim como João que, a todo instante pensa achar uma resposta ao problema da sua “Ilha”, vez ou outra acho que solucionei minhas dificuldades com o cristianismo.
Na jornada de João é possível deparar-se com dois lados do mundo, o “Norte” e o “Sul”. Em um lado temos os extremos da lógica, ciência, regras e moralidades rasas, que acabam nos aprisionando, andamos em círculos de pensamentos paradoxais, controversos e autoenganadores. No outro lado temos as emoções, as imagens, os desejos, paixões e religiões que acabam nos levando por caminhos ilusórios e vazios.
As filosofias não satisfazem. Elas negam a existência do fruto de nossos desejos, Deus, Cristo, a graça e salvação. E por mais que possamos concordar com seu raciocínio por algum tempo, acabamos sentindo mais uma vez o “Doce Desejo” e já não conseguimos nos segurar àquela filosofia. E os desejos e emoções que frequentemente procuramos como substitutos à “Ilha” bem, são exatamente meros substitutos, sombras. Acabam sendo incompletos, também não satisfazem.
C.S. Lewis é inteligente o suficiente para conseguir nos convencer dessa ou daquela filosofia só para então mostrar o erro delas quando o herói é salvo pelo acaso, pela Razão ou, talvez, poderíamos dizer que pela própria graça. Dessa maneira, C.S. Lewis é capaz de demonstrar como cada filosofia e modo de viver tem o seu charme e suas verdades, nem tudo é preto e branco. Mas independente delas conterem partes de verdade, são insuficientes e incompletas.
Penso que minhas aulas de filosofia na escola deveriam ter sido melhores para me dar a base necessária para digerir este livro por completo. Apesar disso, o conhecimento adquirido nas leituras de Cristianismo Puro e Simples e até mesmo A Cadeira de Prata, das Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, ou nos livros de Francis Schaeffer, H.R. Rookmaaker e Guilherme de Carvalho, me ajudaram a entender um pouco mais dele.
No fim do dia, O Regresso do Peregrino é um lembrete de quão fácil é nos desviarmos, quão fácil é acharmos que resolvemos nosso problema, e de acreditarmos que pelo próprio esforço descobriremos o jeito correto de viver e pensar. É um lembrete de que frequentemente nos enganamos, e nos deixamos ser enganados. Mas, no fim, a graça de Cristo nos guia e liberta, mesmo a despeito de nossos erros e distrações.
• James Andrew Gilbert é ilustrador e estudante de Artes no Calvin College, em Grand Rapids, Michigan. Conheça o trabalho do artista aqui.
Leia mais
» O Regresso do Peregrino – Uma Defesa Alegórica do Cristianismo, da Razão e do Romantismo
» Imaginação e autenticidade: C. S. Lewis e as ferramentas da fantasia
» Ficção, alegorias e mitos podem fortalecer a fé cristã?
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