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Opinião

Eu participo. Tu participas?

Alexandre Brasil Fonseca

Ao se dividir a população em grupos de idade, constata-se que o maior grupo de pessoas é o dos jovens, os quais foram definidos recentemente pela legislação como os que possuem entre 15 e 29 anos. Além de ter significativo peso quantitativo, estes jovens guardam enorme diversidade, não sendo possível se falar em juventude no singular. É comum que textos adotem o termo no plural, falem de juventudes e das diferenças subjacentes a este momento de vida.

Para os jovens é importante estar à frente, decidir. Esta lição já foi mais do que aprendida entre as comunidades evangélicas em que os jovens assumem espaços de liderança, ocupando espaços significativos de decisão. No entanto, a ideia de que o jovem é a “igreja do amanhã” também é comum e com isso geralmente atuam de maneira periférica, com uma tensão entre “o bom” de ser jovem – espontaneidade e vitalidade – e o “ruim” – imaturidade e afobação.

A promoção da juventude de forma autônoma e consistente é um desafio que se coloca para as lideranças eclesiásticas. Além disso, uma maior conscientização, organização, e mobilização dos próprios jovens para que verbalizem suas vontades e desejos é uma importante iniciativa que precisa ser feita. É na religião que significativa parcela dos jovens se envolve em ações coletivas e, nesse sentido, é preciso reconhecer que as práticas religiosas têm-se constituído como um significativo elemento de socialização, organização e agregação social.

De que forma a participação da juventude nas igrejas poderia trazer efeitos para a sociedade como um todo? Como incentivar esta juventude para que participe de espaços e organizações da sociedade? Diante desta pergunta, ouço a questão: “participar por quê?”. E a minha resposta se dá com outra pergunta: “por que não participar?” A não-participação precisa ser resultado de uma posição consciente e até mesmo combativa e não apenas o resultado de uma exclusão que encontra reverberação na secular acomodação e resignação evangélicas, oriundas de leituras do evangelho que separam “corpo” e “alma”, por exemplo.

Temos aqueles que não participam porque consideram essa atitude equivocada, fora da “missão” ou mesmo porque têm medo de “se contaminar com as coisas do mundo”. Também existem aqueles que não participam porque possuem uma concepção extremamente crítica e conscientemente optam pelo não ingresso em espaços participativos. O ponto que quero sublinhar é que não é possível não-participar sem antes ter uma reflexão sobre o tema.

Identifico o espaço dos conselhos de direitos como um lugar de excelência para a participação e presença das igrejas e juventudes. Pelo Brasil afora já são muitos os irmãos e irmãs que estão envolvidos nesta participação cidadã: não só nos conselhos temáticos, como o de Juventude, Saúde, Ação Social, Segurança Alimentar e Nutricional, entre outros; como também naqueles conselhos que são fundamentais para o dia-a-dia dos municípios, como é o caso do Conselho Tutelar ou do Conselho de Administração Escolar.

Participação que precisa estar imersa na noção de serviço, presente inclusive na compreensão cristã do que é o poder e de como este deve ser exercido. Outra contribuição dessa participação é uma postura de escuta e de apoio entre os diferentes membros destes conselhos, a qual se expressa por intermédio de práticas pastorais; numa postura de tolerância, constituída sob uma concreta demonstração de respeito ao diferente. Ao se atuar na esfera pública se deve buscar uma ação madura e serena, sem afobações ou posturas triunfalistas que muitas vezes encontram significativa guarida em nosso hinário e teologia.

Penso que esta participação também precisa contar com uma efetiva ação de encontro e serviço aos mais pobres, aos excluídos e miseráveis de nossa nação, conforme o ensinamento bíblico para aqueles que atuam em cargos de poder: “Fale a favor daqueles que não podem se defender. Proteja o direito de todos os desamparados. Fale por eles e seja um juiz justo, proteja o direito dos pobres e dos necessitados” (Pv 31.8-9, NTLH).

Por fim, esta participação representa um meio para incluir em discussões de políticas públicas mais pessoas, especialmente os milhões de jovens que participam das diferentes igrejas e que vivem à margem dessa discussão, apesar de a mesma ser fundamental para estes. Trazer mais e mais pessoas para este debate é um rico e importante passo que precisa ser dado e que deve ter como objetivo a ampliação da participação dos jovens neste processo, qualificando o debate a partir da participação de setores da sociedade que possuem extrema capilaridade e que organizadamente possuem condições de mobilizar crianças, jovens e adultos para refletir, fiscalizar e exigir determinadas agendas e ações.

Vivemos sob uma democracia e, diferentemente da ditadura, nossa relação com o Estado passa pelo diálogo e pela participação. Hoje o Estado é fruto do voto e do desejo da maioria, a qual tem a obrigação de acompanhá-lo, fiscalizá-lo, questioná-lo, influenciá-lo e criticá-lo. Gosto de pensar este tempo como um momento de ação ativa e participativa e identifico na participação em conselhos de direitos um importante e rico espaço de contribuição que as juventudes, as igrejas e seus membros podem dar para a consolidação democrática brasileira.


Alexandre Brasil Fonseca é sociólogo, professor da UFRJ e membro da coordenação nacional do FALE, uma rede de defesa de direitos que atua entre jovens e que participa do Conselho Nacional da Juventude.

Leia também
• Sem anos de indigenismo, Altos papos (ed. 322 – jan/fev 2010)
Políticas públicas... de juventude?, Altos papos (ed. 321 – nov/dez 2009)

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