Opinião
- 21 de fevereiro de 2019
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Eu creio na Igreja
Por Luiz Fernando dos Santos
“...saiba como as pessoas devem comportar-se na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade” (1Tm 3.15).
O credo apostólico e o credo Niceno – duas das mais antigas e tradicionais formulações da fé cristã – trazem em seu bojo dogmático a afirmação de fé na igreja. Evidentemente, aqui se tratará da igreja como o propósito da eleição, a escolha de um povo da parte de Deus antes da fundação do mundo. Trata-se da igreja como resultado da pregação do Evangelho e do ministério do Espírito Santo que produz fé no acatamento da Palavra.
Cremos na igreja, povo de Deus, semente da nova humanidade restaurada pela Graça, em cuja instituição subsiste a igreja espiritual de Cristo que a torna visível na Palavra, nos Sacramentos, na adoração pública e nas boas obras nascidas da fé que exaltam a Deus e apontam para a chegada do Reino dos Céus.
Cremos na igreja por ser a atmosfera natural para o desenvolvimento das virtudes cristãs, o berçário ideal da piedade, o lugar por excelência para o crescimento na graça e no conhecimento de Cristo, o ambiente mais que favorável para o fomento e a prática do amor e da justiça.
Evidentemente que a nossa fé na igreja não nos impede de reconhecer que essa comunidade de homens e mulheres a quem chamamos santos, ainda são miseráveis pecadores. Aprouve ao nosso Deus em Cristo, mediante o seu sangue derramado na cruz, lavar-nos da imundície de nosso pecado cuja nódoa traz as marcas da Queda de Adão.
Esse sangue derramado resultou na morte de Cristo que por sua obediência e justiça diante do Pai, justificou-nos, isto é, pagou a nossa dívida e cumpriu por nós a pena, tornando-nos assim, livres da condenação do pecado. Todavia, se estamos livres da condenação do pecado, por ainda estarmos nesse mundo caído enquanto vivemos, não estamos livres da presença e dos efeitos do pecado.
Infelizmente sucumbimos a muitas de suas seduções e pecamos contra Deus e contra o próximo. Por causa desse entendimento bíblico, não ignoramos que a comunidade dos santos é também a comunidade dos pecadores e, por isso mesmo, muitos pecados e escândalos, para a nossa vergonha, podem ser encontrados facilmente em qualquer comunidade cristã do mundo.
Uma das características do mundanismo – o individualismo – leva muitos que dizem crer em Cristo a desprezarem hoje a igreja. Não a consideram importante, não querem se comprometer com a vida comunitária porque pensam bastar-se a si mesmos no seu relacionamento intimista com Deus. Não querem prestar contas de sua vida, julgam que não precisam ser ensinados ou conduzidos, não aceitam que existam legítimas autoridades constituídas.
Verdade seja dita que muitos desses são irmãos sinceros. Essa reação negativa com a igreja pode ter surgido do abuso de líderes despóticos ou mercenários, ou ainda de relações doentias e feridas profundas, que levaram a dores insuportáveis e não receberam o devido tratamento. Mas, na maioria dos casos, infelizmente, o movimento dos desigrejados é formado por homens e mulheres arrogantes, autocentrados, que se julgam melhores e mais capazes que os demais crentes e, assim, pensam que estes não merecem a sua companhia.
São seletivos na audição de pregadores e só se sentem confortáveis se estiverem no controle da fala do pregador. Para isso, são fiéis seguidores de sites, blogs e vídeos que aparecem a todo instante nas Redes Sociais de eminentes pregadores. Contudo, à distância de um dedo na tela ou no mouse, controlam o quê, quando e até onde estão dispostos a ouvir, nunca, porém, submetendo-se a uma autêntica influência da Palavra.
Privam-se consciente e deliberadamente do exercício da caridade, da longanimidade, da paciência e mutualidade cristã, não exercitam o amor ao próximo na concretude do encontro com o outro. Cipriano, bispo de Cartago, estava certo quando disse que ‘fora da igreja não há salvação’. Ele não disse que a igreja era a causa da salvação. Só Cristo salva.
O que esse pai da Igreja ensinava era que a igreja dispunha do ministério da salvação, isto é, a ela cabe a missão de pregar ao mundo, iniciar na fé os convertidos, educá-los da vontade de Deus e alimentá-los com os sacramentos da esperança. Coisa que nenhuma outra instituição e muito menos o mundo pode fazer. Agostinho citando Cipriano, e Calvino citando Agostinho, ensinavam que ‘ninguém poderá ter a Deus por Pai se não tiver a Igreja como mãe’.
O pertencimento e o exercício da fé comunitárias são marcas distinguíveis dos que foram chamados para fora do mundo. De fato, nem todos os que estão na igreja são salvos. Mas, todos os salvos seguramente se reúnem como igreja. Não deixe o mundo te separar da igreja (Hb 10.25).
• Rev. Luiz Fernando dos Santos é Ministro na Igreja Presbiteriana Central de Itapira, casado com Regina, pai da Talita. É coordenador do Departamento de Teologia Pastoral do Seminário Presbiteriano do Sul em Campinas e professor. É professor de Teologia Histórica, Filosofia e Teologia no Seminário Teológico Servo de Cristo em São Paulo.
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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