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- 17 de fevereiro de 2021
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Entre a falta de recursos e as teorias da conspiração: a difícil jornada da vacina na África
De norte a sul no continente africano os evangélicos percebem de modo diferente o impacto da pandemia, mas confirmam a chegada lenta das doses e a “circulacão da desinformacão”.
Por Jonatán Soriano
Embora a vacinação contra a Covid-19 continue seu curso na maioria dos países da América do Norte, Europa e Oceania, apesar de algumas controvérsias em relação a entregas de grandes medicamentos e prazos, na África a situação é diferente. Embora o impacto da pandemia no continente, até agora, tenha sido menor do que o registrado em outras regiões, a nova onda está atingindo fortemente o território africano.
A proliferação da cepa de origem sul-africana, que algumas investigações indicam ser 50% mais contagiosa e mais resistente aos anticorpos naturais, é um dos fatores pelos quais, no último mês de janeiro, se ultrapassou a marca de 35 mil infecções diárias no continente. “A nova onda começou no final de novembro e foi oficialmente confirmada pelo governo no início de dezembro. Inicialmente, algumas províncias foram confinadas, como o Cabo Oriental e o Cabo Ocidental. Desde dezembro ela se espalhou por todo o país e o aumento de infecções e mortes foram relatadas em toda parte. Os hospitais ainda estão cheios e saturados em algumas zonas críticas”, explica o representante da Aliança Evangélica da África do Sul (TEASA, em inglês), Aaron Mokabane.
No outro extremo do continente, no Egito, com apenas um quarto do número de mortes registradas na África do Sul até agora, a pandemia é vista de modo diferente. “As pessoas no Egito não levam a pandemia tão a sério quanto no Ocidente. Temos algumas restrições, as escolas estão fechadas agora e as pessoas devem usar máscaras em locais públicos. Alguns fazem isso e outros não, mas quando você fala com as pessoas no Cairo, por exemplo, você não tem a sensação de que estamos passando por uma epidemia”, diz Ramez Atallah, diretor geral da Sociedade Bíblica do Egito. “Apesar de muitos estarem doentes, e apesar das mortes, não são números comparáveis aos dos Estados Unidos ou da Europa, e a vida continua a transcorrer normalmente”, acrescenta.
A chegada da vacina mostra falta de recursos e desinformação
A África do Sul acumula mais de 1,4 milhão de infecções desde o início da pandemia, e um total de 46.869 mortes. Uma semana após ter adquirido um milhão de doses da vacina Oxford/AstraZeneca, o governo precisa refazer seu plano de vacinação porque um estudo preliminar indica que a eficácia do imunizante inglês, contra a nova cepa local, é de apenas 10%. “O governo anunciou seu plano de vacinação. Os grupos prioritários incluem profissionais de saúde e pessoas vulneráveis”, diz Mokabane.
A Organização das Nações Unidas prevê que apenas 3% da população do continente africano terá sido vacinada até o mês de março, e 20% até o final do ano, graças à iniciativa público-privada Covax, que visa facilitar o acesso à vacina de forma igualitária em toda a população mundial, e à qual todos os países do continente aderiram. De acordo com a plataforma “Our World in Data”, a taxa de vacinação na África em 8 de fevereiro era de 0,04% da população total. Um número insignificante quando comparado com 4,31% na Europa, 18,8% no Reino Unido, e 65,8% em Israel.
“Não é realista chegarmos a 60% da população imunizada em um ano”, disse Phiona Atuhewbe, chefe de introdução de novas vacinas da Organização Mundial de Saúde na África. “Seriam necessários 9,8 bilhões de euros, o que não temos”, frisou. A situação, nas palavras do diretor dos Centros Africanos de Controle de Doenças (CDC), John Nkengasong, tornou-se "um problema moral", pois “será terrível ver essa desconfiança entre o Norte e o Sul globais, em relação a um bem comum como são as vacinas”.
Mas, além da falta de recursos para a compra de vacinas, toda a sociedade africana também enfrenta, como está acontecendo em outras partes do mundo, a desinformação. “Há temores e ansiedades em relação à vacina entre os cidadãos e, em alguns casos, até entre os profissionais de saúde. Existem teorias da conspiração e desinformação circulando por aí, e o governo iniciou uma campanha de comunicação para abordar preocupações, medos, ansiedades e a desinformação sobre a vacina”, informam desde a Aliança Evangélica da África do Sul.
A entidade realizou um seminário on-line em dezembro passado “para iniciar um diálogo sobre a vacina”. “Uma das principais denominações pentecostais, que é membro da TEASA, a "Missão da Fé Apostólica" emitiu uma declaração abordando as preocupações que as pessoas têm e a alegada teologia por trás de algumas teorias da conspiração", explica Mokabane.
Nesse comunicado, a denominação pentecostal lembra que “estamos numa pandemia provocada por um vírus real” e que “focar na disseminação de teorias da conspiração é, por si só, brincar com o mal”. “O maior perigo é a maneira como as Escrituras são interpretadas, usadas, abusadas, para formar essas revelações e teorias”, dizem eles.
Nesse sentido, Mokabane lamenta que “existam grupos evangélicos minoritários que ainda estão preocupados, e parecem determinados a resistir aos planos de vacinação”.
Esse debate não se limita ao contexto da África do Sul, mas é uma realidade em outros países do continente. O “Protestante Digital” também contatou a Aliança Evangélica do Quênia (EAK, em inglês) para esta reportagem e a resposta obtida foi que os cristãos evangélicos no país “ainda estão debatendo a questão da vacina como igreja”.
Diferentes restrições para as igrejas
As restrições às reuniões presenciais das igrejas evangélicas africanas são tão variadas quanto o próprio continente. Do Egito, Atallah diz que “as restrições do governo às celebrações religiosas não têm sido obrigatórias para as igrejas”. “Cada denominação tomou suas decisões, dentro das normas impostas pelo Ministério da Saúde”, afirma.
Na África do Sul, segundo informações da Aliança, “algumas igrejas protestantes históricas começaram a fechar à medida que as infecções aumentaram, como resultado da nova onda”. “As demais igrejas foram forçadas a fechar depois que o governo proibiu as reuniões sociais e religiosas, exceto nos funerais”, acrescentaram. Embora algumas comunidades tenham organizado alguma atividade presencial após o Natal, desde o início do ano, disse Mokabane, “a maioria das igrejas limitou-se a serviços on-line”, diz Mokabane.
• Jonatán Soriano é graduado em jornalismo pela Universidade Rovira i Virgili, com especialização em comunicação de conflitos armados, paz e movimentos sociais pela Universidade Autônoma de Barcelona. Faz parte da equipe Protestante Digital desde março de 2015.
Publicado originalmente no site Protestante Digital, no dia 10/2/2021. Reproduzido com permissão.
Traduzido por Reinaldo Percinoto Jr.
Por Jonatán Soriano
Embora a vacinação contra a Covid-19 continue seu curso na maioria dos países da América do Norte, Europa e Oceania, apesar de algumas controvérsias em relação a entregas de grandes medicamentos e prazos, na África a situação é diferente. Embora o impacto da pandemia no continente, até agora, tenha sido menor do que o registrado em outras regiões, a nova onda está atingindo fortemente o território africano.
A proliferação da cepa de origem sul-africana, que algumas investigações indicam ser 50% mais contagiosa e mais resistente aos anticorpos naturais, é um dos fatores pelos quais, no último mês de janeiro, se ultrapassou a marca de 35 mil infecções diárias no continente. “A nova onda começou no final de novembro e foi oficialmente confirmada pelo governo no início de dezembro. Inicialmente, algumas províncias foram confinadas, como o Cabo Oriental e o Cabo Ocidental. Desde dezembro ela se espalhou por todo o país e o aumento de infecções e mortes foram relatadas em toda parte. Os hospitais ainda estão cheios e saturados em algumas zonas críticas”, explica o representante da Aliança Evangélica da África do Sul (TEASA, em inglês), Aaron Mokabane.
No outro extremo do continente, no Egito, com apenas um quarto do número de mortes registradas na África do Sul até agora, a pandemia é vista de modo diferente. “As pessoas no Egito não levam a pandemia tão a sério quanto no Ocidente. Temos algumas restrições, as escolas estão fechadas agora e as pessoas devem usar máscaras em locais públicos. Alguns fazem isso e outros não, mas quando você fala com as pessoas no Cairo, por exemplo, você não tem a sensação de que estamos passando por uma epidemia”, diz Ramez Atallah, diretor geral da Sociedade Bíblica do Egito. “Apesar de muitos estarem doentes, e apesar das mortes, não são números comparáveis aos dos Estados Unidos ou da Europa, e a vida continua a transcorrer normalmente”, acrescenta.
A chegada da vacina mostra falta de recursos e desinformação
A África do Sul acumula mais de 1,4 milhão de infecções desde o início da pandemia, e um total de 46.869 mortes. Uma semana após ter adquirido um milhão de doses da vacina Oxford/AstraZeneca, o governo precisa refazer seu plano de vacinação porque um estudo preliminar indica que a eficácia do imunizante inglês, contra a nova cepa local, é de apenas 10%. “O governo anunciou seu plano de vacinação. Os grupos prioritários incluem profissionais de saúde e pessoas vulneráveis”, diz Mokabane.
A Organização das Nações Unidas prevê que apenas 3% da população do continente africano terá sido vacinada até o mês de março, e 20% até o final do ano, graças à iniciativa público-privada Covax, que visa facilitar o acesso à vacina de forma igualitária em toda a população mundial, e à qual todos os países do continente aderiram. De acordo com a plataforma “Our World in Data”, a taxa de vacinação na África em 8 de fevereiro era de 0,04% da população total. Um número insignificante quando comparado com 4,31% na Europa, 18,8% no Reino Unido, e 65,8% em Israel.
“Não é realista chegarmos a 60% da população imunizada em um ano”, disse Phiona Atuhewbe, chefe de introdução de novas vacinas da Organização Mundial de Saúde na África. “Seriam necessários 9,8 bilhões de euros, o que não temos”, frisou. A situação, nas palavras do diretor dos Centros Africanos de Controle de Doenças (CDC), John Nkengasong, tornou-se "um problema moral", pois “será terrível ver essa desconfiança entre o Norte e o Sul globais, em relação a um bem comum como são as vacinas”.
Mas, além da falta de recursos para a compra de vacinas, toda a sociedade africana também enfrenta, como está acontecendo em outras partes do mundo, a desinformação. “Há temores e ansiedades em relação à vacina entre os cidadãos e, em alguns casos, até entre os profissionais de saúde. Existem teorias da conspiração e desinformação circulando por aí, e o governo iniciou uma campanha de comunicação para abordar preocupações, medos, ansiedades e a desinformação sobre a vacina”, informam desde a Aliança Evangélica da África do Sul.
A entidade realizou um seminário on-line em dezembro passado “para iniciar um diálogo sobre a vacina”. “Uma das principais denominações pentecostais, que é membro da TEASA, a "Missão da Fé Apostólica" emitiu uma declaração abordando as preocupações que as pessoas têm e a alegada teologia por trás de algumas teorias da conspiração", explica Mokabane.
Nesse comunicado, a denominação pentecostal lembra que “estamos numa pandemia provocada por um vírus real” e que “focar na disseminação de teorias da conspiração é, por si só, brincar com o mal”. “O maior perigo é a maneira como as Escrituras são interpretadas, usadas, abusadas, para formar essas revelações e teorias”, dizem eles.
Nesse sentido, Mokabane lamenta que “existam grupos evangélicos minoritários que ainda estão preocupados, e parecem determinados a resistir aos planos de vacinação”.
Esse debate não se limita ao contexto da África do Sul, mas é uma realidade em outros países do continente. O “Protestante Digital” também contatou a Aliança Evangélica do Quênia (EAK, em inglês) para esta reportagem e a resposta obtida foi que os cristãos evangélicos no país “ainda estão debatendo a questão da vacina como igreja”.
Diferentes restrições para as igrejas
As restrições às reuniões presenciais das igrejas evangélicas africanas são tão variadas quanto o próprio continente. Do Egito, Atallah diz que “as restrições do governo às celebrações religiosas não têm sido obrigatórias para as igrejas”. “Cada denominação tomou suas decisões, dentro das normas impostas pelo Ministério da Saúde”, afirma.
Na África do Sul, segundo informações da Aliança, “algumas igrejas protestantes históricas começaram a fechar à medida que as infecções aumentaram, como resultado da nova onda”. “As demais igrejas foram forçadas a fechar depois que o governo proibiu as reuniões sociais e religiosas, exceto nos funerais”, acrescentaram. Embora algumas comunidades tenham organizado alguma atividade presencial após o Natal, desde o início do ano, disse Mokabane, “a maioria das igrejas limitou-se a serviços on-line”, diz Mokabane.
• Jonatán Soriano é graduado em jornalismo pela Universidade Rovira i Virgili, com especialização em comunicação de conflitos armados, paz e movimentos sociais pela Universidade Autônoma de Barcelona. Faz parte da equipe Protestante Digital desde março de 2015.
Publicado originalmente no site Protestante Digital, no dia 10/2/2021. Reproduzido com permissão.
Traduzido por Reinaldo Percinoto Jr.
Reinaldo Percinoto Jr. mora em Viçosa, MG, com sua esposa Maira e seus dois filhos, João Marcos e Daniel.
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