Opinião
- 15 de julho de 2016
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Empatia é mais do que simpatia
Uma senhora acabara de ficar viúva, depois de 32 anos de casamento. Os filhos estavam morando em outra cidade e não tinham muito tempo para dedicar à mãe. Com essa dor e esse vazio, ela foi procurar pessoas que a ajudassem. Depois de uma noite mal dormida, ela procurou uma amiga de longa data. As duas tinham muito a conversar. Mas quando a viúva começou a falar de sua solidão, a amiga emendou com seus queixumes pessoais, como quem está dizendo: “Todo mundo tem problemas e os meus devem ser tão grandes ou maiores do que os teus”. A viúva fez mais duas tentativas para falar de seu sofrimento, mas a amiga estava resoluta: deveria rebater com mais lamúrias (iguais ou maiores, no seu entender). Resultado: depois de uma noite mal dormida, a viúva também teve um dia desperdiçado. Voltou para casa vazia e sentindo-se pior. Havia procurado apoio e encontrou insensibilidade.
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Aos 63 anos, aquele homem sempre vigoroso foi hospitalizado. Nunca estivera internado antes. E, agora, os exames mostraram que ele estava com câncer. O diagnóstico caiu como uma bomba sobre ele. Aquele homem robusto já não queria mais se alimentar. Os sedativos o ajudavam a dormir. Felizmente havia naquele hospital uma equipe de voluntários fazendo visitas a doentes. A voluntária incumbida de visitá-lo havia sido bem preparada para esse ministério pela capelania hospitalar. Antes da visita, ela se preparou mediante oração. Ela se informou sobre a situação do paciente. Seus trajes eram sóbrios, discretos, não portava joias e nem perfume acentuado. Ela se sentia incumbida por Deus. Ao entrar no quarto, a voluntária o cumprimentou, apresentando-se e pronunciando o nome do paciente. Perguntou-lhe se ele aceitaria uma visita. Ela falava baixo e pausadamente. Ela possibilitou ao paciente falar espontaneamente sobre a sua enfermidade e sofrimento. Ela se interessou pelo depoimento do paciente, mas não transformou esse interesse em curiosidade. Depois de ouvir o relato do paciente, ela perguntou se poderia ler um texto da Bíblia. Em seguida, ela orou – de um modo sereno e confiante. Tudo foi entregue nas mãos de Deus.
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Estes são dois episódios contrastantes. O que faltou no contato que a senhora procurou? E o que foi tão marcante na visita que o paciente recebeu no hospital? A diferença está num conceito simples, mas decisivo: empatia. Uma vez que a empatia é tão fundamental no relacionamento interpessoal e, sobretudo, no diálogo com alguém que se encontra em sofrimento, vamos refletir sobre estas duas definições. A primeira definição foi formulada pelo psicólogo Rollo May:
“’Empatia’ vem da tradução de uma palavra usada pelos psicólogos alemães, Einfühlung, que significa literalmente ‘sentir dentro’. É derivada do grego pathos, que quer dizer um sentimento forte e profundo, semelhante ao sofrimento e tendo como prefixo a preposição ‘in’. É uma palavra obviamente paralela à ‘simpatia’. Mas, enquanto ‘simpatia’ denota ‘sentir com’ e pode levar à sentimentalidade, ‘empatia’ significa um estado de identificação mais profundo de personalidade em que uma pessoa se sente tão dentro da outra que chega a perder temporariamente a sua própria identidade. É neste profundo e um tanto misterioso processo de empatia que ocorrem a compreensão, a influência e outras relações significativas entre as pessoas”.
(Rollo May, “A arte do aconselhamento psicológico”, p. 65).
Também o psicoterapeuta Irvin Yalom – autor de “Quando Nietzsche chorou” - legou-nos uma definição bastante apropriada:
“Empatia na dose certa é um traço essencial não apenas para os terapeutas, mas também para os pacientes, e devemos ajudar os pacientes a desenvolverem empatia pelos outros. Tinha sempre em mente que nossos pacientes geralmente nos procuram porque não têm sucesso em desenvolver e manter relacionamentos interpessoais gratificantes. Muitos não conseguem empatizar com os sentimentos e experiências dos outros. Acredito que o aqui-e-agora oferece aos terapeutas uma maneira poderosa de ajudar os pacientes a desenvolverem empatia. A estratégia é simples e direta: ajude os pacientes a sentirem empatia por você, e eles automaticamente farão as extrapolações necessárias para outras figuras importantes em suas vidas. É bem comum os terapeutas perguntarem aos pacientes como uma determinada sentença ou ação deles poderia afetar os outros. Sugiro simplesmente que o terapeuta inclua a si próprio nessa pergunta”.
(Irvin Yalom, “Os desafios da terapia”, p. 38).
O terapeuta Richard Carlson tornou-se conhecido com o seu livro “Não faça tempestade em copo d’água,” um best-seller que foi publicado em 135 países. Ele reflete a empatia a partir da compaixão:
“Nada ajuda a desenvolver mais nossa perspectiva de vida do que aprender a ter compaixão pelos outros. A compaixão é um sentimento empático. Ela implica a vontade de nos colocarmos no lugar dos outros, de tirarmos os olhos de nós mesmos e imaginarmos o que é viver as dificuldades alheias, bem como, simultaneamente, sentir amor por essas pessoas”.
(Richard Carlson, “Não faça tempestade em copo d’água”).
Podemos nos exercitar na compaixão, afirma o terapeuta e escritor:
“A compaixão é algo que pode ser desenvolvido com a prática. Envolve, basicamente, duas coisas: intenção e ação. Intenção significa simplesmente abrir seu coração a outras pessoas; você desloca a noção de que e quem importa, de você para os outros. Ação é simplesmente ‘o que faço com isso’. Tudo que podemos fazer são pequenas coisas com muito amor’”.
(Richard Carlson, “Não faça tempestade em copo d’água”).
Novamente, Rollo May deve usar a palavra para nos ajudar na preparação e, assim, nos sentirmos incumbidos por Deus para essa nobre tarefa, que é a visitação:
“A vida não é uma questão de simples otimismo, pois o mal existe; nem de mero pessimismo, pois o bem também existe. A possibilidade da nobreza frente ao mal é que dá à vida seu significado trágico”.
(Rollo May, “A arte do aconselhamento psicológico”, p. 161).
Você se sente chamado(a) para ser um(a) visitador(a) hospitalar?
• Maria Luiza Rückert é pastora com especialização em Capelania Hospitalar. Cursou Teologia na EST e Clinical Pastoral Education no Hospital da Universidade de Minnesota. Fez pós-graduação em Ética, subjetividade e cidadania na EST. Atuou por duas décadas no Hospital Evangélico de Vila Velha, ES. Visite seu site: www.capelaniamarialuiza.org
No prelo: Ultimato prepara um livro de Maria Luiza sobre capelania hospitalar. Em breve!
Leia também
Dez dicas práticas de como orar
Jesus era tomado de compaixão pelo sofrimento alheio
Caminhos da graça
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Aos 63 anos, aquele homem sempre vigoroso foi hospitalizado. Nunca estivera internado antes. E, agora, os exames mostraram que ele estava com câncer. O diagnóstico caiu como uma bomba sobre ele. Aquele homem robusto já não queria mais se alimentar. Os sedativos o ajudavam a dormir. Felizmente havia naquele hospital uma equipe de voluntários fazendo visitas a doentes. A voluntária incumbida de visitá-lo havia sido bem preparada para esse ministério pela capelania hospitalar. Antes da visita, ela se preparou mediante oração. Ela se informou sobre a situação do paciente. Seus trajes eram sóbrios, discretos, não portava joias e nem perfume acentuado. Ela se sentia incumbida por Deus. Ao entrar no quarto, a voluntária o cumprimentou, apresentando-se e pronunciando o nome do paciente. Perguntou-lhe se ele aceitaria uma visita. Ela falava baixo e pausadamente. Ela possibilitou ao paciente falar espontaneamente sobre a sua enfermidade e sofrimento. Ela se interessou pelo depoimento do paciente, mas não transformou esse interesse em curiosidade. Depois de ouvir o relato do paciente, ela perguntou se poderia ler um texto da Bíblia. Em seguida, ela orou – de um modo sereno e confiante. Tudo foi entregue nas mãos de Deus.
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Estes são dois episódios contrastantes. O que faltou no contato que a senhora procurou? E o que foi tão marcante na visita que o paciente recebeu no hospital? A diferença está num conceito simples, mas decisivo: empatia. Uma vez que a empatia é tão fundamental no relacionamento interpessoal e, sobretudo, no diálogo com alguém que se encontra em sofrimento, vamos refletir sobre estas duas definições. A primeira definição foi formulada pelo psicólogo Rollo May:
“’Empatia’ vem da tradução de uma palavra usada pelos psicólogos alemães, Einfühlung, que significa literalmente ‘sentir dentro’. É derivada do grego pathos, que quer dizer um sentimento forte e profundo, semelhante ao sofrimento e tendo como prefixo a preposição ‘in’. É uma palavra obviamente paralela à ‘simpatia’. Mas, enquanto ‘simpatia’ denota ‘sentir com’ e pode levar à sentimentalidade, ‘empatia’ significa um estado de identificação mais profundo de personalidade em que uma pessoa se sente tão dentro da outra que chega a perder temporariamente a sua própria identidade. É neste profundo e um tanto misterioso processo de empatia que ocorrem a compreensão, a influência e outras relações significativas entre as pessoas”.
(Rollo May, “A arte do aconselhamento psicológico”, p. 65).
Também o psicoterapeuta Irvin Yalom – autor de “Quando Nietzsche chorou” - legou-nos uma definição bastante apropriada:
“Empatia na dose certa é um traço essencial não apenas para os terapeutas, mas também para os pacientes, e devemos ajudar os pacientes a desenvolverem empatia pelos outros. Tinha sempre em mente que nossos pacientes geralmente nos procuram porque não têm sucesso em desenvolver e manter relacionamentos interpessoais gratificantes. Muitos não conseguem empatizar com os sentimentos e experiências dos outros. Acredito que o aqui-e-agora oferece aos terapeutas uma maneira poderosa de ajudar os pacientes a desenvolverem empatia. A estratégia é simples e direta: ajude os pacientes a sentirem empatia por você, e eles automaticamente farão as extrapolações necessárias para outras figuras importantes em suas vidas. É bem comum os terapeutas perguntarem aos pacientes como uma determinada sentença ou ação deles poderia afetar os outros. Sugiro simplesmente que o terapeuta inclua a si próprio nessa pergunta”.
(Irvin Yalom, “Os desafios da terapia”, p. 38).
O terapeuta Richard Carlson tornou-se conhecido com o seu livro “Não faça tempestade em copo d’água,” um best-seller que foi publicado em 135 países. Ele reflete a empatia a partir da compaixão:
“Nada ajuda a desenvolver mais nossa perspectiva de vida do que aprender a ter compaixão pelos outros. A compaixão é um sentimento empático. Ela implica a vontade de nos colocarmos no lugar dos outros, de tirarmos os olhos de nós mesmos e imaginarmos o que é viver as dificuldades alheias, bem como, simultaneamente, sentir amor por essas pessoas”.
(Richard Carlson, “Não faça tempestade em copo d’água”).
Podemos nos exercitar na compaixão, afirma o terapeuta e escritor:
“A compaixão é algo que pode ser desenvolvido com a prática. Envolve, basicamente, duas coisas: intenção e ação. Intenção significa simplesmente abrir seu coração a outras pessoas; você desloca a noção de que e quem importa, de você para os outros. Ação é simplesmente ‘o que faço com isso’. Tudo que podemos fazer são pequenas coisas com muito amor’”.
(Richard Carlson, “Não faça tempestade em copo d’água”).
Novamente, Rollo May deve usar a palavra para nos ajudar na preparação e, assim, nos sentirmos incumbidos por Deus para essa nobre tarefa, que é a visitação:
“A vida não é uma questão de simples otimismo, pois o mal existe; nem de mero pessimismo, pois o bem também existe. A possibilidade da nobreza frente ao mal é que dá à vida seu significado trágico”.
(Rollo May, “A arte do aconselhamento psicológico”, p. 161).
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• Maria Luiza Rückert é pastora com especialização em Capelania Hospitalar. Cursou Teologia na EST e Clinical Pastoral Education no Hospital da Universidade de Minnesota. Fez pós-graduação em Ética, subjetividade e cidadania na EST. Atuou por duas décadas no Hospital Evangélico de Vila Velha, ES. Visite seu site: www.capelaniamarialuiza.org
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