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- 23 de novembro de 2022
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Emoções e a reorganização do caos
Por Lissânder Dias
O desafio de reorganizar as emoções depois de tantos desafios pessoais, familiares e sociais nos últimos três anos não é tarefa fácil. A pandemia e ainda o período eleitoral foram fatores que tensionaram sentimentos, relações e convicções. Mas como lidar com tudo isso? Qual o caminho do cuidado diante dessa realidade?
Partindo do tema “Emoções fora do lugar: como cuidar?”, o Diálogos de Esperança conversou com dois psicólogos no último dia 15 de novembro: Esther Carrenho e Carlos Catito Grzybowski.
O fator pandemia
Para Esther e Catito, a pandemia trouxe à tona situações inesperadas – e, portanto, fora do nosso controle. “A pandemia, com a perda de emprego e a perda de pessoas, estabeleceu um caos. No caos, o que está dentro de nós também surge: as emoções vêm à flor da pele e muitos não sabem lidar com elas (como medo e raiva). Não foi a pandemia que criou as emoções; elas já estão dentro de nós. O inesperado só detona o que está lá. Passado o caos, agora o trabalho é reorganizar a vida, retomar, me achar, e isso traz situações novas também”, diz Esther.
Catito concorda com Esther sobre o afloramento de emoções fortes em períodos de crise e acrescenta que há aspectos positivos nessas circunstâncias: “Elas são úteis em momentos de perda porque ajudam a processá-la. Nesse sentido, o período da pandemia foi importante para que aprendêssemos a expressar emoções que até então não sabíamos ou que ficavam no limbo, e agora elas vieram mais fortes. Por outro lado, se forem expostas de forma negativa, podem se tornar crônicas”.
Emoções fora do lugar?
Qual o lugar das emoções? Será que elas estão fora do lugar?, questiona Esther. “Talvez o problema seja que as emoções estejam em um único lugar e precisam sair de lá”, diz. Ela acrescenta que o ser humano é um ser emocional. “O emocional é a capacidade de sentir. Somos criados à imagem e semelhança de Deus, e Deus também é emocional. Para que as emoções estejam equilibradas, precisamos aprender a integrá-las. Devemos trazer as emoções para a consciência e nomeá-las. Temos que fazer como o salmista: conversar com nossas emoções; e aí que acontece a integração entre a emoção e a razão. Aí então podemos escolher que comportamento devemos ter para determinada circunstância”.
Esther lembra que a desconexão emocional começa no Éden. “Quando Adão peca, e ele se esconde, Deus o chama e pergunta por que está escondido. Adão responde que ficou com medo e fugiu. Só que, na verdade, o sentimento ali não era medo, mas sim vergonha. Nessa conversa de Adão com Deus, nós já percebemos que há uma desconexão dele com ele mesmo (normalmente, os pastores pregam sobre a desconexão dele com Deus e com o outro, mas ignora a desconexão de Adão consigo mesmo). A partir do calvário e na redenção de Jesus Cristo, no entanto, eu posso chegar com todos os meus sentimentos e contar para ele. Eu não preciso escondê-los mais. A melhor forma de Deus nos ajudar é diante de nossa confissão, sabendo nós que Deus nunca rejeitou nenhum dos seus filhos por estarem sentindo tristeza (Elias), burnout (Moisés) ou luto (Jó). Seja a dor que for, Deus caminha conosco”.
Como integrar as emoções?
Essa integração é, sobretudo, um aprendizado, já que não nascemos prontos para isso. “Todo sentimento é uma oportunidade de crescimento. Muitas vezes, os pais não sabem ensinar isso aos filhos. Muito cedo, as crianças já são proibidas de sentir raiva. O ideal é o pai ensinar ao filho que ele deve reconhecer o sentimento de raiva, mas não deve ser violento. Acho que é por isso que a Bíblia diz ‘irar e não pecar’. Temos a autorização para nos enraivecer, mas não temos para sermos violentos”, explica Esther.
As famílias e o senso de descontrole
Segundo Catito, as famílias cristãs sofreram impacto emocional tanto quanto as não cristãs durante a pandemia. "O que a pandemia tirou de nós foi o sentido de controle. A família cristã pode crer, no entanto, que há um Deus que mesmo diante de toda a situação caótica, está conosco, está no controle. As emoções saem do lugar? Sim. Jesus mesmo dá um exemplo quando ele conta a parábola do filho pródigo. Ele falou desse filho que saiu, fez festas, gastou toda a herança do pai, e depois de tudo isso, ‘caiu em si’ (eu gosto muito dessa expressão). Se Jesus disse que o filho caiu em si é porque antes ele estava fora de si, ou seja, as emoções dele estavam completamente fora do lugar. Outra lição de Jesus: o Sermão do Monte nos ensina a viver cada dia. Devemos saber que até os fios de nossa cabeça estão contados. Jesus conecta isso com a ansiedade, quando diz para não ficarmos ansiosos, porque Deus está no controle. Ter momentos de ansiedade é uma coisa; outra é termos essa ansiedade contínua, que não passa. Isso se elevou muitíssimo com a morte iminente durante a pandemia”, diz Catito.
Caminhos de cura
Quando perguntados sobre os caminhos de cura (ou de reequilíbrio emocional), tanto Esther quanto Catito foram unânimes em sinalizar:
1. Busque o autoconhecimento
Jesus nos convida ao autoconhecimento quando ele diz para olharmos antes para a trave em nossa vista, e não o cisco nos olhos dos outros. Da mesma forma, quando ele afirma que o que nos contamina é o que vem de dentro, está enfatizando o autoconhecimento.
2. Expresse os seus sentimentos (principalmente os doloridos)
Expresse seus sentimentos a um grupo, um mentor, Deus, um amigo de confiança ou um profissional da área da Psicologia. Não disfarce nem esconda.
3. Não atue com o sentimento
Vale lembrar que há uma diferença entre expressar os seus sentimentos e atuar com suas emoções. Você pode dizer a alguém que sentiu raiva por conta de um comportamento dele, mas não deve ir até ele e dar um soco em seu rosto. Muitos estavam com raiva dos guardas que queriam levar Jesus preso, mas só Pedro sacou uma escada e cortou a orelha de um deles. Jesus então disse ao seu discípulo que guardasse a arma. Ou seja, que ele não atuasse com o sentimento.
4. Retire-se para reorganizar as emoções
Escute os sinais do seu corpo e aja preventivamente. Em alguns casos, a mão sua, o corpo fica inquieto. Quando isso acontecer, a melhor decisão é parar, porque você já deixou de usar o córtex superior e está utilizando a parte mais animal que temos no tronco encefálico. Se você não parar, você vai machucar alguém.
No final da live, os entrevistados lembraram de algumas palavras bíblicas:
“Sede inteiros”
Esther leu o texto de Mateus 5.28, em que Jesus faz o seguinte convite: “sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês”, ressaltando que, por causa da palavra “teleia”, alguns comentaristas preferem traduzir como: “sejam inteiros como inteiro é o Pai...”. Se seguirmos esse conselho de Cristo, teremos uma vida bem melhor.
“Guarde no coração”
Catito lembrou que, após o episódio (Lucas 2.42-51) em que os pais de Jesus se perderam dele no templo e então o encontraram, Maria “guardava todas essas coisas em seu coração” (2.51). “Guardar no coração e refletir sobre o que Deus nos ensina vai nos levar a uma compreensão maior sobre Jesus e sobre o Evangelho”, conclui.
Playlist do Diálogos de Esperança
Assista a todas as lives já realizadas aqui.
A IGREJA E A (PÓS) PANDEMIA | REVISTA ULTIMATO
Resiliência é a capacidade humana de seguir em frente. Começamos o “novo normal”, adequando-nos às transformações que nos são impostas. Falamos em pós-pandemia, mas sabemos que ainda há uma janela de possibilidades imprevisíveis.
É disso que trata a matéria de capa da edição 384 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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Saiba mais:
Lissânder Dias do Amaral é jornalista, blogueiro, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e o Conselho da Unimissional. É autor de “O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas” e responsável pelo blog Fatos e Correlatos do Portal Ultimato. É um dos fundadores do Movimento Vocare e ajudou a criar as organizações cristãs de cooperação Rede Mãos Dadas e Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS).
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Site: http://www.fatosecorrelatos.com.br
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