Opinião
- 07 de janeiro de 2010
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Em 2010 a grande novidade será Jesus Cristo
Derval Dasilio
No Kol Nidrei, entoado no Dia do Perdão da tradição israelita, o ritual cheio de magia pode neutralizar “demônios” e “maus espíritos”. Todas as promessas feitas nesse dia deverão ser cumpridas, confessar e perdoar-nos uns aos outros, inclusive porque está implícito, nesse dia, que Deus já nos perdoou!
Gerações do povo bíblico conhecem o poder da palavra capaz de gerar o novo (“davar”), quando o próprio homem se oferece como garantia. “Nos primeiros instantes do Dia do Perdão, ao iniciar nossa ‘limpeza espiritual’, somos lembrados que uma promessa, a palavra, é arma poderosa. Se bem usada pode reconfortar, construir; mas usada de forma inadequada ou leviana pode destruir” (N. Schaman).
Para fazer um balanço de 2009, lembremos um mito da antiga cultura mediterrânea. De tempos em tempos, a águia se renova totalmente (como a fênix egípcia que nasce das cinzas). Ela voa cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendeiam e ela toda começa a arder; vira uma tocha no espaço. Quando chega a este ponto, ela se precipita do céu, qual flecha incandescente, nas águas frias do lago. Perdendo as penas queimadas, na experiência de fogo e de água, a velha águia rejuvenesce. Volta a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e vigor da juventude.
Seguramente, este mito constitui o substrato do salmo: “O Senhor perdoa todas as tuas culpas. Ele cura, sana as tuas doenças; faz com que a juventude se renove como uma águia". Fogo e água são opostos. Mas, quando unidos, são poderosos símbolos de transformação. A água irriga a terra matricial e generosa; é símbolo do ventre fecundo da mulher. Lembra também dimensões criadoras, no homem e na mulher.
O fogo simboliza o céu, a consciência e as dimensões fortes de resistência, coragem, ousadia. Embora masculinas, estas dimensões estão no homem e na mulher. O fogo, no entanto, nos faz imaginar fornalhas que queimam e acrisolam, eliminam tudo o que não é essencial. O fogo do inferno, na Idade Média, foi mais além; apontava a perdição, a danação, em razão de grandes erros humanos. Aqui, o sobrenatural fascina e nega a verdadeira natureza humana.
Passar pelo fogo e pela água significa integrar em si os opostos e crescer como pessoas, fortalecendo a identidade pessoal. Assim os sábios da Bíblia classificam esses elementos transformadores.
O velho, o que é? São os antigos hábitos, as velhas atitudes, torcer o nariz, virar o rosto diante das desgraças humanas; negar compaixão, solidariedade, misericórdia, omissão no cuidado com o próximo e o distante; desinteresse pelo bem comum, indiferença quanto ao lixo cultural que nos impõem aceitação passiva das pesadas armaduras ideológicas narcisistas, egoístas, no modo de vida individualista e consumista de inutilidades. Distanciamento das últimas fronteiras do ser com dignidade, onde se preservam os melhores valores das gerações ancestrais, sobre direitos do homem e da mulher.
Rejuvenescer como águia significa também desprender-nos de ideias que um dia foram boas, luminosas, mas que lentamente se tornaram ultrapassadas e incapazes de inspirar o caminho da vida; de motivar as novas gerações para viverem o sermão de Jesus (Mt 5-7). Permanecer velho é dizer que ideias fossilizadas têm o mesmo valor que ideias renovadoras e revitalizantes. Rejuvenescer como águia significa ter coragem para aceitar o novo, recomeçar e estar sempre aberto a escutar, aprender com a Palavra que sempre gera o novo. É isso que nos propomos a cada novo ano?
Que o ano que se inaugura, nos ensine a não temer a Palavra, o fogo que queima a penugem inútil para dar lugar à nova plumagem, novas garras, disposição para o confronto valente, indignado, com os inimigos do Reino (cf. resultados da Cop-15). Sem temor de mergulhar na fogueira a velha mulher e o velho homem que há em nós; fazer compromissos com Deus.
O salmo completa: “Os que confiam no Senhor voarão como águias, subirão até as alturas”. É hora de assumir riscos, voar, galgar espaços altos, atravessar e transpor montanhas, rumar na direção dos horizontes não conquistados, utopias libertárias do reino sonhadas no Cristo de Deus: Jesus será a grande novidade em 2010. Se permitirmos.
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No Kol Nidrei, entoado no Dia do Perdão da tradição israelita, o ritual cheio de magia pode neutralizar “demônios” e “maus espíritos”. Todas as promessas feitas nesse dia deverão ser cumpridas, confessar e perdoar-nos uns aos outros, inclusive porque está implícito, nesse dia, que Deus já nos perdoou!
Gerações do povo bíblico conhecem o poder da palavra capaz de gerar o novo (“davar”), quando o próprio homem se oferece como garantia. “Nos primeiros instantes do Dia do Perdão, ao iniciar nossa ‘limpeza espiritual’, somos lembrados que uma promessa, a palavra, é arma poderosa. Se bem usada pode reconfortar, construir; mas usada de forma inadequada ou leviana pode destruir” (N. Schaman).
Para fazer um balanço de 2009, lembremos um mito da antiga cultura mediterrânea. De tempos em tempos, a águia se renova totalmente (como a fênix egípcia que nasce das cinzas). Ela voa cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendeiam e ela toda começa a arder; vira uma tocha no espaço. Quando chega a este ponto, ela se precipita do céu, qual flecha incandescente, nas águas frias do lago. Perdendo as penas queimadas, na experiência de fogo e de água, a velha águia rejuvenesce. Volta a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e vigor da juventude.
Seguramente, este mito constitui o substrato do salmo: “O Senhor perdoa todas as tuas culpas. Ele cura, sana as tuas doenças; faz com que a juventude se renove como uma águia". Fogo e água são opostos. Mas, quando unidos, são poderosos símbolos de transformação. A água irriga a terra matricial e generosa; é símbolo do ventre fecundo da mulher. Lembra também dimensões criadoras, no homem e na mulher.
O fogo simboliza o céu, a consciência e as dimensões fortes de resistência, coragem, ousadia. Embora masculinas, estas dimensões estão no homem e na mulher. O fogo, no entanto, nos faz imaginar fornalhas que queimam e acrisolam, eliminam tudo o que não é essencial. O fogo do inferno, na Idade Média, foi mais além; apontava a perdição, a danação, em razão de grandes erros humanos. Aqui, o sobrenatural fascina e nega a verdadeira natureza humana.
Passar pelo fogo e pela água significa integrar em si os opostos e crescer como pessoas, fortalecendo a identidade pessoal. Assim os sábios da Bíblia classificam esses elementos transformadores.
O velho, o que é? São os antigos hábitos, as velhas atitudes, torcer o nariz, virar o rosto diante das desgraças humanas; negar compaixão, solidariedade, misericórdia, omissão no cuidado com o próximo e o distante; desinteresse pelo bem comum, indiferença quanto ao lixo cultural que nos impõem aceitação passiva das pesadas armaduras ideológicas narcisistas, egoístas, no modo de vida individualista e consumista de inutilidades. Distanciamento das últimas fronteiras do ser com dignidade, onde se preservam os melhores valores das gerações ancestrais, sobre direitos do homem e da mulher.
Rejuvenescer como águia significa também desprender-nos de ideias que um dia foram boas, luminosas, mas que lentamente se tornaram ultrapassadas e incapazes de inspirar o caminho da vida; de motivar as novas gerações para viverem o sermão de Jesus (Mt 5-7). Permanecer velho é dizer que ideias fossilizadas têm o mesmo valor que ideias renovadoras e revitalizantes. Rejuvenescer como águia significa ter coragem para aceitar o novo, recomeçar e estar sempre aberto a escutar, aprender com a Palavra que sempre gera o novo. É isso que nos propomos a cada novo ano?
Que o ano que se inaugura, nos ensine a não temer a Palavra, o fogo que queima a penugem inútil para dar lugar à nova plumagem, novas garras, disposição para o confronto valente, indignado, com os inimigos do Reino (cf. resultados da Cop-15). Sem temor de mergulhar na fogueira a velha mulher e o velho homem que há em nós; fazer compromissos com Deus.
O salmo completa: “Os que confiam no Senhor voarão como águias, subirão até as alturas”. É hora de assumir riscos, voar, galgar espaços altos, atravessar e transpor montanhas, rumar na direção dos horizontes não conquistados, utopias libertárias do reino sonhadas no Cristo de Deus: Jesus será a grande novidade em 2010. Se permitirmos.
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É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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