Opinião
- 30 de maio de 2019
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E quando perdemos o interesse pela vida do lar?
Por Luiz Fernando dos Santos
“Defenderei a minha casa contra os invasores” (Zc 9.8).
Escrevo esta pastoral sob o benéfico impacto da Conferência City to City, um movimento global de plantação de igrejas. Tenho ainda reverberado em meu coração a palestra ministrada pelo Dr. Paul Tripp sobre os perigos da familiaridade com as coisas mais sublimes da vida.
O Dr. Tripp falava do grande perigo que um pastor corre ao acostumar-se com as coisas gloriosas, com as quais ele trabalha cotidianamente, e perder o “maravilhamento” e o deslumbre pela glória de Deus. Esse perigo pode levar o pastor a um esfriamento da fé, à negligência no cuidado geral e no ensino do povo de Deus e, de maneira fatal, à perda do sentido do seu chamado ministerial.
A mesma coisa pode acontecer em grande medida com a vida doméstica, com a vida no lar e os relacionamentos mais sublimes da vida, aqueles dentro do matrimônio e da vida familiar. Quando há a perda desse encantamento pela vida no lar, tudo o que sobra são relacionamentos distantes, frios, indiferentes, monossilábicos e marcados pela ira e impaciência. As conversas são contaminadas de criticismo ácido e de cobranças recorrentes e descabidas. A desconfiança toma conta dos corações e um sentimento amargo de rejeição e insatisfação se torna sufocante, patológico.
Existem algumas razões que tornam possível esse desencanto e faz desvanecer a admiração e o “maravilhamento”. A primeira delas é a vida corrida e frenética das famílias onde cada membro tem uma agenda exaustiva a cumprir. Preenchemos o nosso tempo com o medo de sentir-nos vazios e irrelevantes. Estamos sempre atrás de alguma coisa para fazer porque temos medo ser o que somos, não nos aceitamos, precisamos justificar a nossa existência nos definindo pelo que fazemos. Assim, estamos sempre a procura da aprovação do outro.
A segunda razão pode ser encontrada na alienação do mundo virtual e na dependência da TV. É como se quiséssemos substituir a realidade nua e crua de nossa existência nos refugiando em uma outra narrativa. Por meio das redes sociais e das relações virtuais assumimos papéis, fazemos pose, contamos uma história bem diferente do que somos. Nos “stories” demonstramos uma felicidade que parece não desfrutarmos na vida real. Já na TV ou nas séries, desejamos dar um enredo, uma narrativa extraordinária às nossas pobres vidas insossas, sem emoções fortes e repletas de trivialidades e ‘lugares comum’.
Em terceiro lugar, a ausência da vida com Deus em família, sem momentos fortes de adoração, sem partilha da Palavra e das respostas de oração. Um lar sem a perspectiva da providência divina é um lar sem esperança, sem gratidão e sem alegria. Em último lugar, mas longe de esgotar as razões, um espírito consumista e pródigo provoca um lugar propício para relações utilitaristas e descartáveis. A dinâmica da vida consistirá de me relacionar com o outro apenas na medida das minhas necessidades, ou com um propósito que não valorize o que o outro é, mas o que ele tem a oferecer. Nesse estado de coisas, quando o outro não me servir eu não hesitarei em buscar alguém que me satisfaça.
Como ressignificar os nossos relacionamentos dando a eles razões para o encantamento e o deslumbre que trará paz e contentamento aos nossos lares?
1. Aprenda a desacelerar e a descansar. É preciso construir uma agenda menos frenética e mais inclusiva. Isto é, moderar as atividades e priorizar aquelas onde todos poderão estar juntos um número maior de vezes.
2. Em casa, desligue-se da internet. Nunca fale com um membro da casa pelo WhatsApp se vocês estiverem dentro da mesma casa em cômodos diferentes. Valorize a conversa pessoal, olhos nos olhos. Nunca leve o celular para a mesa das refeições e jamais para a cama. Aprenda a deixar o celular em lugar comum da casa. Fuja da tentação da instantaneidade, de estar sempre disponível para responder mensagens e e-mails.
3. Valorize a sua história real, suas experiências familiares. Aprenda a recordar as coisas juntos, revire os arquivos de fotos, reconte boas histórias e viva intensamente cada acontecimento. Não importa as proporções dos acontecimentos, se importantes ou corriqueiros, é a história de vocês que está sendo contada.
4. Por último, devolva Deus ao centro controlador e moderador da vida familiar. Comece e termine o dia tendo-o nos lábios e no coração. Só quando o Senhor é o valor absoluto de nossas vidas é que as pessoas e as coisas são colocadas em seu devido lugar e para o seu devido fim.
Restaure a sua família!
Restaure a sua família!
***
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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