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Opinião

É possível ser cristão mesmo estando desigrejado?

Por Karen Bomilcar

Cresce o número daqueles que intencionalmente não se ligam a uma igreja ou que deixaram as igrejas que frequentavam. O fenômeno dos “sem-igreja” é um desafio enorme e alcança comunidades cristãs em todo o mundo.

A edição 374 da revista Ultimato convidou 8 personalidades para conversar sobre o assunto e apresenta o Especial “Desigrejismo – Anomalia ou Opção?”, em matéria de 5 páginas da revista.

Confira as respostas da psicóloga clínica e mestre em teologia Karen Bomilcar. 

Estar desigrejado significa necessariamente estar fora da comunhão com outros irmãos?

Karen Bomilcar – Acredito que não necessariamente. Respondo com sinceridade e baseada não apenas na minha percepção teológica do que é ser igreja, mas também na experiência das dores de ter vivido um momento como desigrejada (da instituição “formal”). Encontrei caminhos para nutrir a comunhão, até que retornasse ao convívio “formal” da igreja. O que faz a comunhão com os irmãos é a intencionalidade, a disponibilidade em ser vulnerável junto com as pessoas que também seguem a Jesus e caminhar junto no amadurecimento espiritual e emocional e no compromisso com o serviço e a missão do Pai. Juntos refletimos o Pai. Mas você pode estar “igrejado” e ainda assim estar apenas envolvido no ativismo comunitário, cumprindo papéis sem reflexão e desprovido de relacionamentos sinceros e significativos ou transformações concretas na sua vida. Conheço muita gente “igrejada” fora da igreja e muitos “desigrejados” dentro dela. A linha é tênue, mas tendo vivido tantas experiências com a igreja e acompanhado tantas pessoas em suas lutas, hoje sou muito cautelosa para falar sobre esses aspectos, não desprezando a importância e o significado da igreja. 
 
Como cultivar, nas crianças, a ideia de comunhão com o povo de Deus?

Karen Bomilcar – Com crianças a questão é em especial o exemplo. A intencionalidade e o compromisso dos pais em nutrir as relações comunitárias são fundamentais para que compreendam a importância da comunidade como espaço de comunhão e ensino da Palavra. E uma outra dimensão prejudicada hoje na comunidade é a interação intencional entre as diferentes faixas etárias. Com a ênfase nos ministérios específicos (crianças, adolescentes etc.), que, claro, são importantes para a comunicação do evangelho aos pequenos, temos perdido de vista a importância da intergeracionalidade. É preciso promover espaços para que todas as gerações convivam, para que crianças e adolescentes compreendam que a comunhão da comunidade, do Corpo de Cristo, é inteira quando estamos todos juntos. Parece algo simples, mas faz toda a diferença na percepção e construção relacional e de igreja. Uma vez que se sintam parte, incluídos nas relações comunitárias e com espaço para convivência conjunta, percebem naturalmente seu papel e amadurecem ao longo dos anos neste espaço e no aprendizado nas relações e discipulado.

• Karen Bomilcar trabalha como psicóloga clínica hospitalar em São Paulo, SP. É mestre em teologia e estudos interdisciplinares – Regent College/UBC (Canadá).

» Leia na íntegra o especial Desigrejismo – “anomalia” ou opção?

» Conheça o livro Dê Outra Chance à Igreja, de Todd Hunter

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