Opinião
- 28 de abril de 2017
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E depois da Páscoa?
“Vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19 NVI).
Jesus Cristo ressuscitou, e agora? O que vai ser? O que devemos fazer? Os relatos dos evangelhos nos dizem exatamente como as coisas estavam mesmo após a ressurreição de Cristo. O temor, o assombro, o desânimo, a dureza de coração e sobremaneira a incredulidade faziam parte do estado geral do humor dos discípulos.
O medo era tamanho que estavam escondidos com as portas bem trancadas por medo de seus patrícios judeus. Alguns queriam distância de Jerusalém como parece ser o caso dos discípulos a caminho de Emaús. Outros, como o de Tomé, por exemplo, o paradeiro era ignorado até mesmo pelos demais apóstolos.
Os evangelhos nos conservaram as memórias e os atos redentivos daqueles dias que se seguiram à ressurreição. Jesus restaura Pedro, corrige e encoraja Tomé, abre o entendimento e aquece o coração dos discípulos de Emaús, aparece aos onze e aos que com eles estavam, dá-lhes o dom do seu espírito e autoridade de perdoar os pecados pela proclamação do Evangelho da Graça.
Mais tarde, encontrando-os na Galiléia, no monte, censura-lhes mais uma vez a dureza de coração e a incredulidade. Conforta-os com a certeza de que toda a autoridade lhe foi concedida pelo Pai na terra e nos céus e que com isso a sua presença seria permanente entre os seus enquanto estivessem fazendo discípulos de todas as nações. Subindo aos céus, o Senhor Jesus no tempo devido, derramou sobre os discípulos o Espírito da promessa e enviou-os cheios de poder, autoridade e audácia a testemunhar e proclamar as Boas Novas do Reino.
Desde aqueles dias, esse movimento não cessou. Sofreu oposições, deserções, dissenções, traições, martírios, mas nunca deixou de existir. Sempre que a igreja cristã celebra a Páscoa da Ressurreição inevitavelmente ela se encontra com aquilo que deve acontecer depois da festa, isto é, a restauração do espírito da ordem dada sobre o monte de fazer discípulos, de ir pelo mundo a fora, de cidade em cidade, país em país, de etnia em etnia, até que não haja povo, nação e língua sobre a face da terra, nas metrópoles, nas aldeias, nas vilas, à beira dos rios, nos desertos que não tenham ouvido falar do Evangelho de Jesus Cristo para o perdão dos pecados.
Páscoa sem missão é tão incoerente e inútil quanto a páscoa dos ovos de chocolate e do coelhinho. O Espírito do Ressuscitado está presente na comunidade cristã. O Espírito derramado em pentecostes é o Espírito do movimento das missões, Espírito que empurra a Igreja ao encontro do mundo, que direciona os passos da comunidade de fé para os contextos de alienação, marginalização, dor e desumanidades em geral.
Uma igreja ensimesmada que utilize o melhor de seus recursos humanos, financeiros, tecnológicos e que invista a maior parte de sua energia, tempo e espiritualidade com atividades para o interior de si mesma, é uma comunidade que celebrou a Páscoa, mas não fez Páscoa. Celebrou a ressurreição de Jesus, mas ela mesma não experimentou coisa alguma dessa ressurreição.
O Cristo redivivo que vive na sua Igreja é o missionário do Pai que nesse exato momento está em plena ação missionária no mundo. Ele continua buscando os perdidos, perdoando os pecados, curando vidas, salvando os que creem. Continua fazendo isso ordinariamente por meio da sua Igreja e extraordinariamente por meios que só Ele sabe quais. Todavia, em sua ressurreição e na sua ascensão, Ele quis contar com a cooperação, o trabalho, o compromisso dos seus discípulos de todas as eras. Para isso Ele nos ‘empoderou’ com o Espírito Santo. Por isso Ele nos legou os meios de graça a fim de que estivéssemos sempre supridos para cumprir à ordem dada.
Ressurreição de Cristo e Missão da Igreja são verdades inseparáveis, fazem parte integrante do núcleo credal e da essência do cristianismo. Um cristianismo sem missão é um cristianismo que ainda não ressuscitou, ainda está morto, como estavam mortos pelo medo, o desânimo, a dureza de coração e pela incredulidade aqueles primeiros discípulos de Jesus. Que todos nós estejamos conscientes que depois da Ressurreição o que nos cabe fazer é enquanto peregrinamos aqui nossa tarefa é fazer discípulos, batizar, ensinar a todos a viver a vida do Reino pelo Evangelho de Cristo. Que o Espírito do Ressuscitado nos encoraje e envie em Missão.
• Luiz Fernando é ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira (SP).
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Imagem: Pixabay.com.
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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