Opinião
07 de maio de 2015
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Dona Romilda: uma serva de Deus na periferia

Dona Romilda casou, mudou com a família para o litoral Paulista, mas teve que ir sozinha trabalhar como cozinheira em São Paulo até conseguir trazer a família. Em 1988, foi a primeira invasora de um terreno, na beira de um córrego que mais parecia um esgoto. Conheceu violência, enchente, fome. Sentiu a exclusão social por morar em favela, o descaso das autoridades, mas lutou, perseverou e dedicou-se a minimizar o sofrimento do todos à sua volta! Ajudava como podia: dando banho nos idosos, preparando sua comida, ficando com as crianças para as mães trabalharem, acompanhando as mães para fazer a matrícula dos filhos, dando aula de crochê. De origem católica, Dona Romilda procurou várias igrejas, mas acabou identificando-se com a Congregação Cristã do Brasil onde participa há dezesseis anos.
“Recebi um chamado de Deus para servir à minha comunidade. Eram coisas difíceis para mim, mas não para Deus. Muitas necessidades, crianças maltratadas, pessoas viciadas em droga e álcool, problemas de saúde (demora seis meses para se conseguir uma consulta médica). Sei o que é sentir-se abandonada, por isto procuro apoiar! Faço de tudo um pouco!”.
São carências espirituais, emocionais e materiais. Muitos estão entristecidos e desanimados diante de tantos problemas. Montou, com uma amiga, duas turmas de evangelismo em sua casa: uma na cozinha e outra no quarto.
Em 2006, estava deprimida diante de tanto sofrimento, da violência da polícia, do avanço das drogas, quando dois netos e duas crianças vizinhas foram atendidos por uma creche cristã. Dona Romilda foi acolhida pelo Projeto, animou-se e mobilizou a comunidade para a construção de um salão comunitário onde são oferecidos cursos de padaria, costura, artesanato, manicure. Montaram a Associação de Moradores e começaram a cobrar da prefeitura a coleta do lixo e outras benfeitorias. Promoveu parcerias com a Ong Teto para a construção de casas em mutirão, com a Igreja Presbiteriana, com ABU. A creche ampliou suas atividades, capacitando lideranças, promovendo cursos de geração de renda e abrindo caminhos de superação. Hoje, Dona Romilda é contratada pelo Projeto como Agente de Ação Social e líder Comunitária. Com uma colega, visita as famílias e procura levar esperança.
É chamada de vó pelas crianças e adolescentes, de tia pelos mais velhos. Até o tráfico a respeita. Sabe que ela não apoia, mas procura sair de perto ou abaixar os olhos quando ela passa. Dona Romilda confessa: “Tenho medo é da polícia, pois alguns são capazes de forjar qualquer coisa para extorquir dinheiro. Como não são aqui, não sabemos quem é correto.” Ela se emociona ao comentar que os jovens entram cada vez mais cedo nas drogas. Muitos não têm nem 12 anos!
Dona Romilda teve 5 filhos. O segundo casou, mas separou-se. Hoje está na casa dela e recebe tratamento após descobrirem que é esquizofrênico. Cria também uma neta de 14 anos, do primeiro casamento da filha, que requer muitos cuidados, pois vive “testando” o amor dela. O marido está desempregado e, às vezes, busca refúgio na bebida. Mas Dona Romilda é resiliente. Busca forças em Deus e continua servindo com carinho e dedicação.
Termino com o depoimento da Luciana, coordenadora do Projeto:
“Dona Romilda é uma mulher surpreendente, seu amor pelas pessoas é cativante. Ela é muito inteligente, batalhadora, luta pelos direitos da Comunidade e acima de tudo pelos direitos das crianças. Não suporta ver uma criança sendo maltratada, chora quando narra alguma situação assim. Elas, ‘as minhas crianças’ como ela as chama, são o seu maior tesouro. Os pequenos a amam também. Dona Romilda é muito respeitada pelos moradores. Quando andamos pelos becos e vielas da Comunidade para visitar as famílias, ela tem passagem livre por todos os lugares. Acima de tudo Dona Romilda é uma mulher de Deus, que batalha muito para que a Comunidade viva um pouco do Reino aqui nessa terra tão injusta e desigual. Tenho profunda admiração, respeito e amor por essa mulher virtuosa”.
Em 2006, escrevi para a revista Ultimato um artigo intitulado Pobres e anônimos que nos precedem no Reino de Deus. Com certeza, Dona Romilda faz parte deste time de pessoas que nos inspiram por sua disponibilidade para repartir o que têm, servir e ser luz, transformando o mal em bem!
* O nome do local e outros detalhes não foram informados para que a pessoa e o trabalho de Dona Romilda sejam preservados.
• Isabelle Ludovico, casada com Osmar Ludovico, é psicóloga com especialização em Terapia Familiar Sistêmica. Contato: isabelle@ludovicosilva.com.br.
Foto: Fabio Pozzebom/ABr
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