Opinião
- 30 de abril de 2021
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Domingo: um dia essencial
Por Luiz Fernando dos Santos
“Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja com vocês!” (João 20:19).
Desde a manhã da ressurreição o domingo foi incorporado à dinâmica da vida cristã. O domingo passou a marcar o compasso da história da redenção, continuada pelo Espírito Santo no ministério da igreja. De domingo a domingo a igreja avança a sua peregrinação rumo à Jerusalém celeste. De domingo a domingo a eternidade invade o tempo e traz consigo os valores e a vida do Reino definitivo.
O domingo passou a ser o dia eterno e o dia dos dias. Nele, a comunidade dos discípulos ‘revive’, pela memória e pela representação do drama eucarístico, a páscoa definitiva de Jesus. Na verdade, o domingo é a nossa páscoa semanal, isto significa, entre outras coisas, que nesse dia fazemos a passagem de uma vida ordinária, vulgar e terrena, para na comunhão dos santos experimentar uma vida de graça extraordinária, com o propósito exclusivo da adoração e a antecipação de nossa vocação escatológica.
O evangelho de João no capítulo vinte, a partir do versículo 19, dá a exata dimensão de como o domingo afeta a vida do cristão. Nos versículos 19 e 20: o simples fato de estarmos reunidos não muda o nosso humor nem transforma as disposições do nosso coração. Mas quando Jesus irrompe em nossa reunião os nossos temores se desfazem. À presença de Jesus o medo cede lugar em nosso coração à esperança. Ainda nessa passagem, Jesus se manifesta aos discípulos e oferece o dom da paz, o que imediatamente devolve a alegria àqueles corações entristecidos, enlutados. Quando nos reunimos para a adoração no domingo sofremos essa mesma ação terapêutica, essa ação medicinal de Jesus para a cura das nossas emoções, para o equilíbrio da nossa psique e para a estabilidade do nosso coração. Nos versículos 21 e 22, o Senhor graciosamente dá um propósito mais alto, mais sublime, à nossa vida consumida pelas questões mais comezinhas da existência. O Senhor nos faz participantes da sua missão, nos concede o privilégio de sermos suas testemunhas e coloca em nossos lábios as boas novas que devolvem o sentido à vida do mundo. No versículo 23 Jesus sopra o Espírito Santo sobre os discípulos e outorga o perdão dos seus pecados e os habilita também a serem perdoadores.
Em cada domingo, o Espírito do Senhor está presente na reunião da igreja e o seu ministério é o de restaurar vidas pela oferta generosa de perdão. Ao nos submetermos às influências desta santa presença, nosso coração é enternecido e quebrantado, nossa consciência é aguilhoada e o nosso escrúpulo nos acusa diante de Deus. Nossa única saída é a confissão sincera e confiante dos nossos pecados na esperança-certeza de seremos refeitos, perdoados. Ao mesmo tempo, somos habilitados pela graça a darmos um passo generoso em direção das pessoas que ofendemos e pedir humildemente o perdão ou com largueza de coração deixar morrer no abraço da paz os pecados cometidos contra nós.
Nesse ambiente, atingimos aquela sanidade mental que não podemos encontrar em nenhum outro lugar na face da terra. Porque ali, nesse dia de salvação que é o domingo, nada mais importante temos a fazer do que usufruir da companhia de Deus que tem prazer em se relacionar conosco e de abrir diálogo conosco mediante a sua Palavra. No domingo, o Senhor nos chama à sua intimidade e antecipa para nós as bodas do Cordeiro quando a ceia e celebrada. Neste gesto singelo e solene, entramos em um outro nível de comunhão com Jesus que nos é impossível em outras ocasiões da vida. Em cada reunião dominical somos levados a renovação de nossa convicção do amor de Deus por nós, de sua presença em nossas vidas, independentemente das circunstâncias, do nosso estado de humor ou de nossa percepção.
Se você avançar a leitura, nos versículos seguintes, verá que o domingo também é uma oportunidade para a restauração da nossa fé. Tomé, não obstante um apóstolo, estava passando por um momento de incredulidade e até de deserção do colégio apostólico. Contudo, ao retornar para o culto, oito dias depois da ressurreição, Tomé, junto com os discípulos, faz a experiência de um encontro pessoal com Jesus a partir do seu contexto de incredulidade. Tomé ouve as Palavras de Jesus, até certo ponto duras, porém uma vez confrontado é também restaurado. Assim também isso acontece comigo e com você. Muitas são as pressões e as vicissitudes da vida que podem nos empurrar para o desânimo e um período de incredulidade, até. Entretanto, no Dia do Senhor, o encontro com o Evangelho de Jesus, somos restaurados em nossa fé. Por tudo isso e muito mais, para o crente o domingo é um dia essencial.
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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