Opinião
- 28 de abril de 2017
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"Do trabalho de tuas mãos comerás..."(Sl 128.2)
Por João Leonel
Em primeiro de maio, comemoramos o Dia do Trabalho.
A data remete às manifestações ocorridas na cidade norte-americana de Chicago, em 1886, quando milhares de trabalhadores reivindicaram jornada de trabalho de 8 horas diárias.
Nos anos seguintes a data foi formalizada e vários países passaram a comemorar as conquistas trabalhistas nesse dia.
O Brasil encontra-se em meio a discussões parlamentares para alteração das leis trabalhistas e previdenciárias. Há argumentos a favor, indicando a necessidade de atualização da legislação diante das mudanças ocorridas na sociedade brasileira. E existem argumentos contrários, alegando que tais propostas não atingem questões centrais, como o endividamento público ocasionado por má gestão e corrupção, e o perdão ou a não cobrança de dívidas bilionárias com a previdência de organismos e empresas privadas. A crítica é que, enquanto o trabalhador deverá assumir o ônus de tais alterações, pessoas físicas e jurídicas bilionárias sairão ilesas do processo.
Acrescente-se que as propostas de mudança ocorrem em um contexto de denúncias que se sucedem ininterruptamente trazendo à luz corrupções as mais variadas envolvendo setores privados e altas autoridades legislativas, executivas e, provavelmente, do judiciário.
Para a grande maioria da população brasileira, não haverá o que comemorar no primeiro de maio deste ano de 2017.
Para o salmista, um dos motivos de alegria na vida é comer do trabalho de suas próprias mãos. Poder sustentar-se e à sua família. Em torno da mesa, com filhos e esposa, ele constata as bênçãos e a bondade de Deus (Sl 128.3-4).
Ele não quer nada além disso. Não sonha com fortuna, com grandes viagens, casa luxuosa. Quer apenas viver do seu trabalho. Em um mundo onde não havia legislação trabalhista, direitos e deveres do trabalhador, sindicatos etc., o salmista trabalhador consegue manter a si e à sua família com seu trabalho.
Isso significa que não são necessárias leis para regular a vida em sociedade? Claro que são necessárias. Mesmo em uma sociedade muito menos complexa como Israel havia leis. Mas elas eram diferentes, em essência, daquilo que vemos ser discutido hoje no Brasil. As leis eram muito mais simples, em menor número, e a ideia principal era: as leis devem evidenciar o cuidado de Deus para com todos, principalmente para com os necessitados.
A lei incutia tal preocupação no coração dos judeus. Quando não houvesse lei, haveria o princípio básico: Deus exige que os menos favorecidos não sejam desamparados. Era uma lei teológica e moral.
Hoje, assusta a quantidade de leis que temos em nosso país. Busca-se com elas preencher brechas, tratar de temas omitidos, impedir interpretações equivocadas, sempre pressupondo a maldade daquele que usará a lei em proveito próprio e em detrimento do outro.
Mas, segundo a Bíblia, bastaria que nossas autoridades permitissem que, à semelhança do salmista, o povo brasileiro, principalmente o trabalhador humilde, seja no campo ou na cidade, pudesse viver dignamente do trabalho de suas mãos.
Será que, passados mais de dois mil anos depois que o salmista afirmou satisfeito poder viver do trabalho de suas mãos, é exigir demais daqueles que fazem leis e comandam os destinos da nação que permitam destino semelhante aos trabalhadores brasileiros?
Querer viver dignamente do trabalho de nossas mãos é exigir demais?
• João Leonel é graduado em Teologia e Letras. Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Pós-doutor em História da Leitura pela Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Professor no Seminário Presbiteriano do Sul, Campinas (SP), e na graduação e pós-graduação em Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie, SP. Autor do e-book Perguntas de Quem Sofre.
Em primeiro de maio, comemoramos o Dia do Trabalho.
A data remete às manifestações ocorridas na cidade norte-americana de Chicago, em 1886, quando milhares de trabalhadores reivindicaram jornada de trabalho de 8 horas diárias.
Nos anos seguintes a data foi formalizada e vários países passaram a comemorar as conquistas trabalhistas nesse dia.
O Brasil encontra-se em meio a discussões parlamentares para alteração das leis trabalhistas e previdenciárias. Há argumentos a favor, indicando a necessidade de atualização da legislação diante das mudanças ocorridas na sociedade brasileira. E existem argumentos contrários, alegando que tais propostas não atingem questões centrais, como o endividamento público ocasionado por má gestão e corrupção, e o perdão ou a não cobrança de dívidas bilionárias com a previdência de organismos e empresas privadas. A crítica é que, enquanto o trabalhador deverá assumir o ônus de tais alterações, pessoas físicas e jurídicas bilionárias sairão ilesas do processo.
Acrescente-se que as propostas de mudança ocorrem em um contexto de denúncias que se sucedem ininterruptamente trazendo à luz corrupções as mais variadas envolvendo setores privados e altas autoridades legislativas, executivas e, provavelmente, do judiciário.
Para a grande maioria da população brasileira, não haverá o que comemorar no primeiro de maio deste ano de 2017.
Para o salmista, um dos motivos de alegria na vida é comer do trabalho de suas próprias mãos. Poder sustentar-se e à sua família. Em torno da mesa, com filhos e esposa, ele constata as bênçãos e a bondade de Deus (Sl 128.3-4).
Ele não quer nada além disso. Não sonha com fortuna, com grandes viagens, casa luxuosa. Quer apenas viver do seu trabalho. Em um mundo onde não havia legislação trabalhista, direitos e deveres do trabalhador, sindicatos etc., o salmista trabalhador consegue manter a si e à sua família com seu trabalho.
Isso significa que não são necessárias leis para regular a vida em sociedade? Claro que são necessárias. Mesmo em uma sociedade muito menos complexa como Israel havia leis. Mas elas eram diferentes, em essência, daquilo que vemos ser discutido hoje no Brasil. As leis eram muito mais simples, em menor número, e a ideia principal era: as leis devem evidenciar o cuidado de Deus para com todos, principalmente para com os necessitados.
A lei incutia tal preocupação no coração dos judeus. Quando não houvesse lei, haveria o princípio básico: Deus exige que os menos favorecidos não sejam desamparados. Era uma lei teológica e moral.
Hoje, assusta a quantidade de leis que temos em nosso país. Busca-se com elas preencher brechas, tratar de temas omitidos, impedir interpretações equivocadas, sempre pressupondo a maldade daquele que usará a lei em proveito próprio e em detrimento do outro.
Mas, segundo a Bíblia, bastaria que nossas autoridades permitissem que, à semelhança do salmista, o povo brasileiro, principalmente o trabalhador humilde, seja no campo ou na cidade, pudesse viver dignamente do trabalho de suas mãos.
Será que, passados mais de dois mil anos depois que o salmista afirmou satisfeito poder viver do trabalho de suas mãos, é exigir demais daqueles que fazem leis e comandam os destinos da nação que permitam destino semelhante aos trabalhadores brasileiros?
Querer viver dignamente do trabalho de nossas mãos é exigir demais?
• João Leonel é graduado em Teologia e Letras. Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Pós-doutor em História da Leitura pela Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Professor no Seminário Presbiteriano do Sul, Campinas (SP), e na graduação e pós-graduação em Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie, SP. Autor do e-book Perguntas de Quem Sofre.
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