Opinião
15 de agosto de 2022
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Do lado certo
Por Luiz Fernando dos Santos

“Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer” (Gl 2.10).
Durante muitos anos na América Latina, os cristãos católicos, luteranos, anglicanos e alguns pouquíssimos reformados e evangelicais, optaram por uma filosofia ministerial cujo tema central era: A Evangélica Opção Preferencial Pelos Pobres. Mais tarde, com os muitos desdobramentos da história e o ulterior progresso do pensamento e da práxis pastoral e missionária na América Latina, uma pequena, mas significativa modificação foi feita: A Evangélica Opção Preferencial e Não Excludente Pelos Pobres. Isso significava dizer que ninguém deveria ficar de fora do banquete da vida oferecido por Jesus e que todos os convertidos, não importando se ‘opressor’ de outrora, agora passando pelo processo de metanoia, seria bem-vindo à mesa.
Essa opção preferencial pelos pobres, evangélica em sua essência, viu-se mais tarde, grosso modo, comprometida quando as ideologias ‘das esquerdas’ e suas chaves hermenêuticas marxistas passaram a ditar e a formar a cosmovisão das comunidades e a visão do Reino foi sendo diluída. Então, a evangélica opção pelos pobres passou a ser falaciosamente identificada com os pressupostos de Marx e ‘Cia. Ltda.’ O transcendente Reino de Cristo, espiritual e meta-histórico, deu lugar à utópica tentativa de instaurar um paraíso terrestre por meio da revolução, e da implantação de uma comunidade planetária sob os signos do martelo e da foice. Cristo foi identificado como um subversivo mestre revolucionário e os seus discípulos soldados profetas de um novo mundo trazido à força para dentro da história.
Não demorou muito, não obstante o sonho ter sido sonhado por muitos, logo toda essa igreja inserida e comprometida com a luta dos pobres e a transformação da sociedade deu lugar a uma igreja mística, com uma espiritualidade desencarnada, aburguesada, passiva, moralista e autocentrada. Foi uma espécie de ressaca teológica ou missionária. A Igreja, então, fez Uma Opção Por Ela Mesma e dessa vez Excludente. Excluiu os pobres e as causas mais nobres e passou a fazer lobby, a cortejar o poder e caminhar ao lado dos poderosos.
Um remanescente dessa época permaneceu fiel em seu compromisso evangélico, diga-se, eminentemente evangélico e permaneceu ao lado dos fracos, são os que se envolvem com a assim chamada Missão Integral. Esses irmãos, teólogos, pastores, missionários e companheiros de jugo, permaneceram firmes em caminhar com os vulneráveis e os pobres da terra. São profetas da esperança e da resistência, semeiam um mundo novo não com um chamado a pegar em armas ou iniciar uma revolução. Mas, com um vigoroso chamado à conversão, com propostas intelectualmente honestas de leitura da realidade com os inegociáveis e irredutíveis pressupostos do Reino de Deus trazidos por Jesus Cristo no seu Evangelho eterno. São homens e mulheres animados pelo Espírito Santo, auxiliados pela graça e iluminados pela Palavra, enquanto denunciam as poderosas e nefastas estruturas do mal, que de maneira sistêmica e sistemática, operam com base no egoísmo e na busca do poder pelo poder, proclamam as excelências daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Entretanto, se recusam a permanecer em um denuncismo vazio, que logo se configuraria legalismo e farisaísmo e tampouco esgotam a sua missão em palavrório religioso sem nenhuma incidência sobre a realidade. Isso seria alienação e crassa superstição.
Sua missão é chamada de integral porque além de exigir o compromisso de uma vida santa por uma ética transformadora, é integral também porque permite que o Reino de Jesus seja ‘chegante’ na história dos pobres levando pão, educação, resgate da dignidade humana, organizando e executando projetos de transformação social. Esses missionários (cristãos), consciente e intencionalmente convidam a todos indistintamente a tomarem parte no que Deus está fazendo no mundo por meio do seu povo, comunicando a sua ‘Shalom’, ofertando a sua amizade, concedendo perdão e reconciliação, derrubando os muros da inimizade por meio da Cruz do seu amado Filho e sublime Rei do Reino de justiça e luz. Convidam de maneira especial os marginalizados, os que vivem nas periferias existenciais, os pobres, os vulneráveis para virem e ocuparem o seu lugar à mesa no festim dos eleitos e assumirem o seu protagonismo na história, para que esteja próximo o dia em que: “Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar” (Is 11.9) e “Ele julgará entre muitos povos e resolverá contendas entre nações poderosas e distantes. Das suas espadas, farão arados, e das suas lanças, foices. Nenhuma nação erguerá a espada contra outra, e não aprenderão mais a guerra” (Mq 4.3) e ainda: “O amor e a fidelidade se encontrarão; a justiça e a paz se beijarão” (Sl 85.10).
E você, escolhe ficar de que lado da história?

Quem faz essa pergunta também tem os olhos abertos para as ameaças que cercam as crianças. Assim, não se trata de uma torcida apenas. É uma provisão de “cercas de proteção”, incentivos, ensino, cuidados, promoção; não sem preocupações, lutas e, acima de tudo, intercessão. Oramos por estas crianças expressando as nossas mais santas e nobres expectativas e contando que Deus vai guiá-las para que sejam, de fato, quem devem ser e para que ocupem o seu lugar na Grande História.
Saiba mais
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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