Opinião
- 11 de fevereiro de 2009
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Do dogmatismo evolucionista
Robinson Cavalcanti
Com a celebração dos duzentos anos do nascimento de Charles Darwin e dos 150 anos da publicação de sua obra “A Origem das Espécies”, o debate criacionismo versus evolucionismo voltou a ocupar amplos espaços na imprensa, quase sempre marcado pela falta de imparcialidade e uma boa dose de sensacionalismo. O legado da Idade Contemporânea inclui uma forte herança do cientificismo, ou cienticismo, sistematizado no Positivismo de Augusto Comte (a teologia e a filosofia como fases “inferiores” do saber versus a fase “superior” da ciência), que influenciou várias teorias, inclusive o marxismo.
Há uma amnésia histórica em relação ao fato de que todas as universidades do mundo, desde seus primórdios no século 9 ao século 19 (cuja exceção foi a Escola Politécnica de Paris, fundada por Napoleão), foram criadas pelas instituições religiosas com a presença curricular da teologia, da filosofia e das ciências (da natureza, sociais e as ditas exatas). Enquanto vivemos hoje sob um novo surto de secularismo (pseudolaicismo) que quer empurrar a religião para fora da esfera pública (política, academia), restringindo-a ao subjetivismo individual e ao espaço fechado dos lares e dos templos, vamos testemunhando uma nova valorização da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade (quebrando do departamentalismo estanque), a revalorização do saber teológico e filosófico, e a compreensão dos seres humanos como além-cerebrais, e que o conhecimento inclui o afetivo, o erótico, o místico, o estético etc., e não somente o racional e o sistemático-verificacional.
O mundo do saber deve ser eminentemente plural. Em cada disciplina há diversidade de escolas e teorias, nenhuma sendo monolítica, e, muito menos, estática, pois todo saber tem um quê de provisoriedade. A liberdade de cátedra, com espaço para a exposição e a crítica, para novas sínteses e novas propostas, é uma marca central da vida acadêmica. Na história do debate entre criacionismo e evolucionismo, tivemos entre judeus e cristãos propostas de evolucionismos teístas e de criacionismos evolutivos, como Telhard Chardin (entre os católicos romanos) e Bernard Ramm (entre os protestantes).
Enquanto se critica alguns fundamentalistas norte-americanos por serem contrários à inclusão do evolucionismo nas escolas públicas daquele país, no Brasil (e em outros países), são os evolucionistas que de forma arrogante, intolerante e dogmática lutam para proibir, de forma absoluta, a presença do ensino criacionismo em nossas escolas. É a mesma atitude, com sinais trocados.
Não se pode negar que o evolucionismo teve rebatimentos além da biologia, com pensadores no campo sociológico e político defendendo um “darwinismo social” (a sobrevivência dos mais fortes e mais aptos), e, com a ausência da intervenção divina e da revelação, resulta em um relativismo moral, com a dificuldade de se condenar a delinquência.
Os evolucionistas precisam, urgentemente, de um choque de humildade, permitindo uma crítica aos seus postulados na sala de aula. Precisam recuperar o valor concreto da liberdade acadêmica, e, mais ainda, o respeito a docentes e alunos em sua capacidade de investigar, discernir e escolher.
Nós, os retrógrados religiosos, apenas exercemos a nossa cidadania, os nossos direitos humanos e a nossa defesa da liberdade de expressão e do retorno da universidade à proposta original que motivou a sua criação por homens e mulheres de fé.
• Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política -- teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo -- desafios a uma fé engajada.
www.dar.org.br
Com a celebração dos duzentos anos do nascimento de Charles Darwin e dos 150 anos da publicação de sua obra “A Origem das Espécies”, o debate criacionismo versus evolucionismo voltou a ocupar amplos espaços na imprensa, quase sempre marcado pela falta de imparcialidade e uma boa dose de sensacionalismo. O legado da Idade Contemporânea inclui uma forte herança do cientificismo, ou cienticismo, sistematizado no Positivismo de Augusto Comte (a teologia e a filosofia como fases “inferiores” do saber versus a fase “superior” da ciência), que influenciou várias teorias, inclusive o marxismo.
Há uma amnésia histórica em relação ao fato de que todas as universidades do mundo, desde seus primórdios no século 9 ao século 19 (cuja exceção foi a Escola Politécnica de Paris, fundada por Napoleão), foram criadas pelas instituições religiosas com a presença curricular da teologia, da filosofia e das ciências (da natureza, sociais e as ditas exatas). Enquanto vivemos hoje sob um novo surto de secularismo (pseudolaicismo) que quer empurrar a religião para fora da esfera pública (política, academia), restringindo-a ao subjetivismo individual e ao espaço fechado dos lares e dos templos, vamos testemunhando uma nova valorização da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade (quebrando do departamentalismo estanque), a revalorização do saber teológico e filosófico, e a compreensão dos seres humanos como além-cerebrais, e que o conhecimento inclui o afetivo, o erótico, o místico, o estético etc., e não somente o racional e o sistemático-verificacional.
O mundo do saber deve ser eminentemente plural. Em cada disciplina há diversidade de escolas e teorias, nenhuma sendo monolítica, e, muito menos, estática, pois todo saber tem um quê de provisoriedade. A liberdade de cátedra, com espaço para a exposição e a crítica, para novas sínteses e novas propostas, é uma marca central da vida acadêmica. Na história do debate entre criacionismo e evolucionismo, tivemos entre judeus e cristãos propostas de evolucionismos teístas e de criacionismos evolutivos, como Telhard Chardin (entre os católicos romanos) e Bernard Ramm (entre os protestantes).
Enquanto se critica alguns fundamentalistas norte-americanos por serem contrários à inclusão do evolucionismo nas escolas públicas daquele país, no Brasil (e em outros países), são os evolucionistas que de forma arrogante, intolerante e dogmática lutam para proibir, de forma absoluta, a presença do ensino criacionismo em nossas escolas. É a mesma atitude, com sinais trocados.
Não se pode negar que o evolucionismo teve rebatimentos além da biologia, com pensadores no campo sociológico e político defendendo um “darwinismo social” (a sobrevivência dos mais fortes e mais aptos), e, com a ausência da intervenção divina e da revelação, resulta em um relativismo moral, com a dificuldade de se condenar a delinquência.
Os evolucionistas precisam, urgentemente, de um choque de humildade, permitindo uma crítica aos seus postulados na sala de aula. Precisam recuperar o valor concreto da liberdade acadêmica, e, mais ainda, o respeito a docentes e alunos em sua capacidade de investigar, discernir e escolher.
Nós, os retrógrados religiosos, apenas exercemos a nossa cidadania, os nossos direitos humanos e a nossa defesa da liberdade de expressão e do retorno da universidade à proposta original que motivou a sua criação por homens e mulheres de fé.
• Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política -- teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo -- desafios a uma fé engajada.
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