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19 de agosto de 2019
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Deus nos criou para fazer o bem. Por que não o fazemos?
Por Rute Salviano Almeida | Resenha
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No excelente livro Fazer o bem faz bem - Uma introdução à Ética (Editora Sinodal), o teólogo Gottfried Brakemeier dedicou-se a conduzir o leitor na reflexão sobre a importância da prática do bem e o tornou uma ferramenta indispensável para os que desejam se aprofundar no campo da ética. Partindo da perspectiva luterana e baseado no testemunho bíblico e teológico, divide seu livro em quatro capítulos: Questões básicas sobre a ética; ênfases luteranas; desdobramentos em esferas de responsabilidade e causas prioritárias.
Nas questões básicas, o autor explica o significado da palavra “ética” e enfatiza que ela é uma teoria da conduta, porém, é mais elevada do que a moral, ou padrões de conduta existentes, porque requer uma reflexão crítica e cobra um agir consciente. Portanto, quando os padrões morais perdem a importância, como vimos ocorrer hoje em dia, a ética se torna urgente para uma reelaboração da moral e uma nova definição dos valores humanos.
Nas ênfases luteranas, além de contextualizar a questão da ética no período da Reforma, Brakemeier retrocede até a Idade Média e apresenta a Igreja que preconiza uma ética dupla: para o cidadão comum e para os perfeitos. Dividida entre os santos, que absolviam os pecados, e os pecadores, seguia alimentando o medo e baseando sua ética em ameaças.
Lutero, herdeiro desse pensamento, descobre que o ser humano não consegue livrar-se do pecado por suas próprias forças e que é justificado por graça e por fé. Portanto, para o reformador, a ética brota da liberdade evangélica (Gálatas 5.1), mas sem descuidar das boas obras, pois o bom comportamento faz parte da vida humana.
Quanto aos desdobramentos em esferas de responsabilidade, o autor discorre sobre a ética política, mostrando que o homem possui direitos e deveres que acarretam privilégios e compromissos cívicos. E na relação entre fé e política, Brakemeier enfatiza que o partido da igreja é Jesus Cristo, ou seja, o cidadão faz sua opção partidária, mas a igreja não. Não há forma de governo cristã e nenhum regime tem o direito de reivindicar benção em nome de Cristo.
A doutrina luterana e bíblica do “sacerdócio geral de todos os crentes” leva Lutero a ensinar a fé consciente e a reprovar a monopolização do poder na igreja. Existe sim necessidade de liderança e ordem, mas a autoridade máxima é Cristo, não qualquer pessoa humana e falha.
Sobre o Brasil, ele destaca a baixa reputação da classe política com a crescente corrupção e demais escândalos, afirma que mudanças são necessárias e que o estudo da ética levará à compreensão da ação política como um serviço ao povo.
Outro assunto polêmico e complexo apresentado é a ética sexual. Brakemeier reforça que toda pessoa existe como homem ou mulher e deve assumir seu respectivo sexo. A sexualidade não se limita a “genitalismo”, mas se realiza em relações interpessoais, necessitando ser gerenciada e conduzida adequadamente.
Para a ética econômica, o autor, partindo da premissa bíblica do valor do trabalho e de que o ser humano deve administrar os bens que Deus lhe conferiu, esclarece que a ética protestante é em boa parte a ética do trabalho. Porém, o mercado desconhece a ética e são as pessoas que o gerem quem definem suas regras, por isso é imperativo imprimir disciplina ao mercado para que não atue em prejuízo do ser humano.
![](/image/atualiza_home/principal/ultimas/por_escrito/2019/08%20agosto/livro_fazer-o-bem.png)
Seu brilhante último capítulo sobre as causas prioritárias conclui o livro com chave de ouro, pois nele Brakemeier enfatiza que os anseios mais ardentes do ser humano podem ser conquistados com o exercício da ética cristã: paz, justiça, amor e liberdade; sendo que a liberdade não é fazer o que se quer, mas o que exige a paz, a justiça e o amor. Sem desconsiderar o pecado humano que despreza a vontade de Deus e prejudica o bem comum, o autor reforça que a ética está deficitária, pois se perdeu a consciência de que fazer o bem faz bem.
Em sua ponderação final, consciente de que “o campo da ética é como o oceano: é amplo demais para ser esgotado”, reforça que a ética precisa responder aos novos desafios e ser reelaborada sob novas perspectivas, sem abrir mão de critérios convincentes e consistentes.
>> Conheça também o livro Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos, de John Stott
Leia mais
» Certezas ideológicas, não; perguntas teológicas, sim! | Gerson Borges
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Mestre em teologia e pós-graduada em história do cristianismo, é autora de Vozes Femininas nos Avivamentos (Ultimato), além de Vozes Femininas no Início do Cristianismo, Uma Voz Feminina Calada pela Inquisição, Uma Voz Feminina na Reforma e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro (Prêmio Areté 2015).
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