Opinião
- 12 de dezembro de 2024
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Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
Nunca antes houve tamanha movimentação de pessoas ao redor do globo, e projeções indicam que os números continuarão a crescer
Por Fabiana Braun
No vasto cenário das missões globais, destaca-se um movimento que se tornou um dos mais poderosos e crescentes canais de transformação: a diáspora. Originalmente referida aos judeus dispersos de sua terra natal, a diáspora agora abrange qualquer grupo humano que se desloca além de suas fronteiras, sejam elas internas ou externas.
Atualmente, cerca de 3,6% da população mundial reside fora de seu país de origem. Conforme dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), esse número aumentou de 220 milhões em 2010 para 280 milhões em 2020, impulsionado por conflitos, crises econômicas e desastres naturais. Esse fluxo incessante de pessoas cria um cenário singular para a missão cristã, onde a diversidade cultural e linguística se apresenta como uma oportunidade para o evangelismo e o discipulado, visando a expansão do Reino de Deus.
Nas Escrituras, o movimento é uma expressão da própria natureza de Deus, que se revela em ação constante. Desde Gênesis, onde Deus se move sobre as águas, até as narrativas de figuras como Abraão, Noé, José, Noemi e Daniel, observa-se um fio condutor de deslocamento associado ao cumprimento dos propósitos divinos.
O Antigo e o Novo Testamento, estão repletos de exemplos que mostram como Deus utiliza o deslocamento para moldar e guiar Seu povo. Esses relatos ilustram que, mesmo em meio a desafios e adversidades, a presença e a soberania de Deus se manifestam poderosamente. Em Atos 8:4, lemos que "os que foram dispersos iam por toda parte pregando o evangelho", reafirmando ali o papel essencial de testemunho daqueles que vivem em movimento, residindo em regiões além de sua terra natal.
A missiologia diáspórica e o movimento Lausanne
Desde os primeiros passos do movimento Lausanne em 1974, com a aspiração de alcançar todas as nações, a questão das migrações globais começou a ganhar destaque. Contudo, foi nas décadas seguintes que a diáspora emergiu como uma força vital na propagação do evangelho. Durante os anos 1980 e 1990, missiólogos começaram a reconhecer que os movimentos migratórios estavam transformando profundamente o cenário missionário, aproximando as nações de maneiras inéditas e sem precedentes.
Sob a soberania de Deus, diversas redes de diáspora étnica começaram a surgir. Um dos primeiros esforços foi o Comitê Chinês de Coordenação para a Evangelização Mundial (CCCOWE) em 1976, seguido pela Rede Internacional Filipina (FIN) em 1994, a Rede Internacional de Líderes da Diáspora do Sul da Ásia (INSADL) em 1996, e a Rede da Diáspora Coreana (KDN) em 2004. Cada uma dessas redes organizou reuniões e consultas, resultando na criação de boletins informativos e no desenvolvimento de recursos valiosos para aprimorar os ministérios de suas diásporas espalhadas globalmente. Essas redes emergentes geraram diálogos significativos com diversas estruturas eclesiásticas, tanto em âmbito nacional quanto internacional.
Entre os evangélicos, uma das primeiras deliberações formais sobre "Povos em Movimento” aconteceu na Consulta da Missão Lausanne em Pattaya, em 2004, resultando na publicação do documento “As Novas Pessoas ao Lado” (LOP 55). Este documento impulsionou um maior envolvimento com a questão da migração global e despertou o interesse pelas missões diaspóricas em várias conferências cristãs, grupos de reflexão missionários e instituições teológicas. Esse movimento foi essencial para o desenvolvimento da missão da diáspora como uma rede temática dentro do movimento Lausanne em 2007.
Foi então que, no Congresso do movimento Lausanne, na Cidade do Cabo, em 2010, o tema "diáspora" foi introduzido como uma área estratégica de foco para a igreja global. Este evento foi crucial para ressaltar a importância das comunidades migrantes na missão cristã. O Compromisso da Cidade do Cabo (Parte II, Seção C5) incluiu uma declaração sobre a missão da diáspora, enfatizando a necessidade de a igreja reconhecer e responder às oportunidades missionárias apresentadas por essas comunidades.
Muitas das redes do movimento Lausanne nasceram de amizades unidas por um propósito comum. E ao final do 3º Congresso Lausanne, na Cidade do Cabo, África do Sul, o grupo central de líderes missionários da diáspora destacando-se Joy Tira, Enoch Wan, Ted Yamamori, TV Thomas e o brasileiro Elias Medeiros, reuniu-se para estabelecer a Rede Global da Diáspora (GDN), com o objetivo de expandir e aprofundar ainda mais a agenda da diáspora em nível global, catalisando igrejas, agências missionárias e instituições teológicas. A GDN está empenhada em cumprir a “missão redentora de Deus para as pessoas em movimento”. Em 2012, foi constituída como entidade legal em Manila, nas Filipinas, com membros da equipe executiva baseados em diferentes regiões do mundo. A GDN convocou um fórum global da diáspora em Manila, de 24 a 28 de março de 2015, reunindo mais de 350 líderes acadêmicos, missionários, praticantes de ministérios, líderes denominacionais, funcionários governamentais, representantes de ONGs e outros de mais de oitenta países. O fruto deste fórum foi a compilação do Compêndio de Missiologia da Diáspora, “Scattered and Gattered”, publicado pela Regnum (Reino Unido) em 2017.
Posteriormente, a GDN se reorganizou com uma nova equipe executiva e com dois catalisadores nomeados pelo movimento Lausanne para as diásporas, convocando várias consultas globais e regionais anualmente em todas as principais regiões do mundo. Além disso, a GDN fornece aconselhamento a numerosas organizações missionárias e instituições teológicas sobre estudos e pesquisas missionárias da diáspora. O livreto Dispersos para a Colheita foi revisado em 2017 e traduzido para vários idiomas, como coreano, mandarim, japonês, espanhol e também português, disponibilizado como e-book na Amazon Kindle, enquanto o compêndio foi revisado e republicado em 2020 pela Langham Publishers para maior circulação.
Ao longo dos anos, muitos eventos e materiais foram organizados e preparados pela rede GDN – informações podem ser acessadas em www.globaldiasporanetwork.org. Em destaque, é importante mencionar as consultas realizadas na África do Sul em 2022 e na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul, onde líderes de diásporas globais, missiólogos e missionários se reuniram para refletir sobre as diásporas africanas e asiáticas, tanto dentro quanto fora de seus continentes, resultando na publicação de dois livros referenciais sobre o tema. Além disso, o ano de 2024 foi marcado pela iniciativa “NexGen”, que visa mentorar a nova liderança das diásporas para que prossigam com o trabalho até então realizado. Uma importante iniciativa da rede também foi o lançamento de um aplicativo chamado Gmove, com o intuito de digitalizar e conectar os cristãos em movimento, além da publicação de dois documentos sobre o tema: LOP 70 "People on the Move" e LOP 78 "Forcibly Displaced People" que podem ser encontrados no site do movimento Lausanne.
Já no Quarto Congresso Lausanne, na Coreia do Sul, o tema diáspora foi apresentado através do grupo de colaboração “Pessoas em movimento”, como uma das 25 lacunas que necessitam da atenção da igreja global. Este esforço contou com o apoio colaborativo de diversas redes temáticas do movimento Lausanne, como a Rede de Estudantes Internacionais, Hindus, povos não alcançados, fazedores de tenda e Business as Mission, liderada pelos atuais catalisadores da rede de Diáspora, Dr. Sam George e Dr. Bulus Galadima.
No quinto dia do congresso, a delegação brasileira foi convocada pelo atual chair man da GDN, TV Thomas, da Malásia, e pelos seus catalisadores Dr. Sam George, da Índia, e Dr. Bulus Galadima, da Nigéria, para refletir sobre a importância de nomear e entender o papel das diásporas em nível nacional e global. Um grupo de colaboração foi formado para discutir e desenvolver iniciativas sobre a diáspora brasileira, promovendo trocas de materiais e discussões sobre o tema, para que os líderes ali representados estejam cientes da importância desse evento no país, seja ela interna ou externa. Segundo os catalisadores e pesquisas de Lausanne, a diáspora brasileira externa cristã está entre as dez principais do mundo, exercendo um papel importante na aceleração da evangelização mundial através dos movimentos diaspóricos.
A diáspora brasileira
A diáspora brasileira é um fenômeno notável que reflete a crescente mobilidade dos brasileiros ao redor do mundo. O Brasil, historicamente reconhecido por sua tradição de acolher imigrantes, também se tornou um país de emigração desde a década de 1980, com um aumento significativo após 2011. Atualmente, estima-se que mais de 5 milhões de brasileiros vivam fora do país.
Podemos pensar em duas categorias principais sobre a diáspora brasileira: a interna e a externa. A diáspora interna inclui aqueles que, embora nascidos em outros países, decidiram se estabelecer no Brasil, além dos deslocamentos internos, como a migração de áreas rurais para urbanas. De acordo com dados governamentais, há oficialmente cerca de 1,5 milhão de estrangeiros residindo no Brasil por um longo período.
Por outro lado, a diáspora externa representa um fenômeno em constante crescimento, com brasileiros se mudando para diferentes partes do mundo. Diversos motivos impulsionam esse movimento, sendo a busca por condições econômicas mais vantajosas (como emprego, trabalho, conforto e oportunidades relacionadas) e segurança os principais, seguidos daqueles que procuram investir em seus estudos, seja no aprendizado de idiomas, no campo acadêmico ou em cursos livres e profissionalizantes. Outros se mudam devido a designações institucionais ou organizacionais, como empregos, atividades religiosas ou projetos internacionais.
A diáspora brasileira externa cristã está entre as dez maiores do mundo, desempenhando um papel vital na disseminação do evangelho. Esse fenômeno oferece à igreja brasileira uma oportunidade única de atuar globalmente, tanto ao acolher estrangeiros como ao mobilizar brasileiros no exterior para serem agentes da missão de Cristo. Essa dinâmica ressalta a importância de estratégias missionárias que considerem a mobilidade humana como uma ferramenta poderosa para a propagação do evangelho.
Além disso, a riqueza cultural e a diversidade do Brasil são trunfos valiosos, permitindo que o evangelho seja comunicado de maneira contextualizada e relevante em diferentes partes do mundo. Ao mesmo tempo, a experiência dos brasileiros no exterior oferece uma nova perspectiva e desafios que podem enriquecer as igrejas locais, promovendo uma visão mais global e inclusiva da missão cristã.
Diáspora como ferramenta missionária
Historicamente, a abordagem tradicional de missões, tal como a praticamos e compreendemos, tem se concentrado majoritariamente no envio de missionários para países estrangeiros, buscando disseminar o evangelho além-fronteiras. No entanto, ao considerarmos o cenário atual, torna-se evidente que as diásporas representam uma oportunidade missionária sem precedentes, uma verdadeira seara a ser explorada. Nunca antes em nossa história houve tamanha movimentação de pessoas ao redor do globo, e as projeções indicam que esses números continuarão a crescer, especialmente no que diz respeito aos deslocamentos forçados, causados por conflitos, crises econômicas e desastres naturais.
Diante dessa realidade, é imperativo que revisitemos os modelos das Escrituras e integremos as novas dinâmicas das diásporas em nossa estratégia missionária. Precisamos reconhecer que não se trata de abandonar o modelo tradicional, mas sim de complementá-lo com uma visão que inclui a mobilidade humana contemporânea. As diásporas nos oferecem a chance de alcançar e mobilizar indivíduos de diversas culturas, capacitando-os a se tornarem agentes ativos na obra missionária global. Ao fazer isso, podemos fomentar uma comunidade de fé que transcende fronteiras, onde cada cristão, independentemente de sua localização geográfica, pode participar do grande chamado de disseminar o evangelho e servir como testemunho vivo do amor de Cristo no mundo.
Diásporas como uma ferramenta poderosa para a missão cristã pode ser dividida em três dimensões: missão para, com e além das diásporas.
A missão para as diásporas foca na evangelização contextualizada e no pastoreio das comunidades, adaptando a mensagem do Evangelho aos contextos culturais variados. Criar espaços seguros onde a fé possa florescer é fundamental para o crescimento espiritual dessas comunidades.
A missão com as diásporas envolve a mobilização dos cristãos dispersos como testemunhas ativas do Evangelho. Cada indivíduo na diáspora é visto como um agente de transformação, chamado a exercer seus dons e talentos em suas novas esferas de influência. As diásporas não são apenas recipientes do Evangelho, mas também portadoras de sua mensagem, contribuindo para o fortalecimento das igrejas locais.
Por fim, a missão além das diásporas desafia a ultrapassar barreiras culturais e étnicas, promovendo uma inclusão que reflete a universalidade do Evangelho. Essa dimensão destaca a necessidade de um envolvimento intercultural profundo, onde a igreja é chamada a ser uma presença encarnacional, vivendo e testemunhando a mensagem de Cristo em todas as culturas.
Um chamado à ação
A diáspora oferece à igreja brasileira uma oportunidade sem precedentes para reescrever Atos 8.4, que nos lembra que os primeiros cristãos, ao serem dispersos, pregavam a Palavra por onde quer que fossem. Assim como no passado, hoje somos chamados a ver o movimento das pessoas como uma parte do plano divino para levar o evangelho a todas as nações.
É hora de a igreja brasileira responder a esse chamado, reconhecendo as oportunidades que a diáspora apresenta para a missão global. Precisamos estar preparados para acolher, discipular e enviar aqueles que estão em movimento, transformando desafios em oportunidades para o reino de Deus.
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Para mais informações, acesse o Blog Lausanne ou entre em contato pelo e-mail diasporamov@gmail.com. Junte-se a nós nesta missão transformadora e faça parte do movimento de Deus através das nações.
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Saiba mais:
» O Compromisso da Cidade do Cabo – Uma declaração de fé e uma chamado para agir, Movimento Lausanne
» O Mundo – Uma missão a cumprir, John Stott e Tim Chester
» O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lessline Newbigin
» Olhando para frente - Jovens líderes Lausanne, por Sabrina Lujić e Justin A. Schell
» A extraordinária reevangelização da Europa, por Jim Memory
Clique aqui e assista à entrevista com Fabiana Braun sobre a diáspora brasileira na missão de Cristo, publicada pela Radio Trans Mundial.
Por Fabiana Braun
No vasto cenário das missões globais, destaca-se um movimento que se tornou um dos mais poderosos e crescentes canais de transformação: a diáspora. Originalmente referida aos judeus dispersos de sua terra natal, a diáspora agora abrange qualquer grupo humano que se desloca além de suas fronteiras, sejam elas internas ou externas.
Atualmente, cerca de 3,6% da população mundial reside fora de seu país de origem. Conforme dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), esse número aumentou de 220 milhões em 2010 para 280 milhões em 2020, impulsionado por conflitos, crises econômicas e desastres naturais. Esse fluxo incessante de pessoas cria um cenário singular para a missão cristã, onde a diversidade cultural e linguística se apresenta como uma oportunidade para o evangelismo e o discipulado, visando a expansão do Reino de Deus.
Nas Escrituras, o movimento é uma expressão da própria natureza de Deus, que se revela em ação constante. Desde Gênesis, onde Deus se move sobre as águas, até as narrativas de figuras como Abraão, Noé, José, Noemi e Daniel, observa-se um fio condutor de deslocamento associado ao cumprimento dos propósitos divinos.
O Antigo e o Novo Testamento, estão repletos de exemplos que mostram como Deus utiliza o deslocamento para moldar e guiar Seu povo. Esses relatos ilustram que, mesmo em meio a desafios e adversidades, a presença e a soberania de Deus se manifestam poderosamente. Em Atos 8:4, lemos que "os que foram dispersos iam por toda parte pregando o evangelho", reafirmando ali o papel essencial de testemunho daqueles que vivem em movimento, residindo em regiões além de sua terra natal.
A missiologia diáspórica e o movimento Lausanne
Desde os primeiros passos do movimento Lausanne em 1974, com a aspiração de alcançar todas as nações, a questão das migrações globais começou a ganhar destaque. Contudo, foi nas décadas seguintes que a diáspora emergiu como uma força vital na propagação do evangelho. Durante os anos 1980 e 1990, missiólogos começaram a reconhecer que os movimentos migratórios estavam transformando profundamente o cenário missionário, aproximando as nações de maneiras inéditas e sem precedentes.
Sob a soberania de Deus, diversas redes de diáspora étnica começaram a surgir. Um dos primeiros esforços foi o Comitê Chinês de Coordenação para a Evangelização Mundial (CCCOWE) em 1976, seguido pela Rede Internacional Filipina (FIN) em 1994, a Rede Internacional de Líderes da Diáspora do Sul da Ásia (INSADL) em 1996, e a Rede da Diáspora Coreana (KDN) em 2004. Cada uma dessas redes organizou reuniões e consultas, resultando na criação de boletins informativos e no desenvolvimento de recursos valiosos para aprimorar os ministérios de suas diásporas espalhadas globalmente. Essas redes emergentes geraram diálogos significativos com diversas estruturas eclesiásticas, tanto em âmbito nacional quanto internacional.
Entre os evangélicos, uma das primeiras deliberações formais sobre "Povos em Movimento” aconteceu na Consulta da Missão Lausanne em Pattaya, em 2004, resultando na publicação do documento “As Novas Pessoas ao Lado” (LOP 55). Este documento impulsionou um maior envolvimento com a questão da migração global e despertou o interesse pelas missões diaspóricas em várias conferências cristãs, grupos de reflexão missionários e instituições teológicas. Esse movimento foi essencial para o desenvolvimento da missão da diáspora como uma rede temática dentro do movimento Lausanne em 2007.
Foi então que, no Congresso do movimento Lausanne, na Cidade do Cabo, em 2010, o tema "diáspora" foi introduzido como uma área estratégica de foco para a igreja global. Este evento foi crucial para ressaltar a importância das comunidades migrantes na missão cristã. O Compromisso da Cidade do Cabo (Parte II, Seção C5) incluiu uma declaração sobre a missão da diáspora, enfatizando a necessidade de a igreja reconhecer e responder às oportunidades missionárias apresentadas por essas comunidades.
Muitas das redes do movimento Lausanne nasceram de amizades unidas por um propósito comum. E ao final do 3º Congresso Lausanne, na Cidade do Cabo, África do Sul, o grupo central de líderes missionários da diáspora destacando-se Joy Tira, Enoch Wan, Ted Yamamori, TV Thomas e o brasileiro Elias Medeiros, reuniu-se para estabelecer a Rede Global da Diáspora (GDN), com o objetivo de expandir e aprofundar ainda mais a agenda da diáspora em nível global, catalisando igrejas, agências missionárias e instituições teológicas. A GDN está empenhada em cumprir a “missão redentora de Deus para as pessoas em movimento”. Em 2012, foi constituída como entidade legal em Manila, nas Filipinas, com membros da equipe executiva baseados em diferentes regiões do mundo. A GDN convocou um fórum global da diáspora em Manila, de 24 a 28 de março de 2015, reunindo mais de 350 líderes acadêmicos, missionários, praticantes de ministérios, líderes denominacionais, funcionários governamentais, representantes de ONGs e outros de mais de oitenta países. O fruto deste fórum foi a compilação do Compêndio de Missiologia da Diáspora, “Scattered and Gattered”, publicado pela Regnum (Reino Unido) em 2017.
Posteriormente, a GDN se reorganizou com uma nova equipe executiva e com dois catalisadores nomeados pelo movimento Lausanne para as diásporas, convocando várias consultas globais e regionais anualmente em todas as principais regiões do mundo. Além disso, a GDN fornece aconselhamento a numerosas organizações missionárias e instituições teológicas sobre estudos e pesquisas missionárias da diáspora. O livreto Dispersos para a Colheita foi revisado em 2017 e traduzido para vários idiomas, como coreano, mandarim, japonês, espanhol e também português, disponibilizado como e-book na Amazon Kindle, enquanto o compêndio foi revisado e republicado em 2020 pela Langham Publishers para maior circulação.
Ao longo dos anos, muitos eventos e materiais foram organizados e preparados pela rede GDN – informações podem ser acessadas em www.globaldiasporanetwork.org. Em destaque, é importante mencionar as consultas realizadas na África do Sul em 2022 e na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul, onde líderes de diásporas globais, missiólogos e missionários se reuniram para refletir sobre as diásporas africanas e asiáticas, tanto dentro quanto fora de seus continentes, resultando na publicação de dois livros referenciais sobre o tema. Além disso, o ano de 2024 foi marcado pela iniciativa “NexGen”, que visa mentorar a nova liderança das diásporas para que prossigam com o trabalho até então realizado. Uma importante iniciativa da rede também foi o lançamento de um aplicativo chamado Gmove, com o intuito de digitalizar e conectar os cristãos em movimento, além da publicação de dois documentos sobre o tema: LOP 70 "People on the Move" e LOP 78 "Forcibly Displaced People" que podem ser encontrados no site do movimento Lausanne.
Já no Quarto Congresso Lausanne, na Coreia do Sul, o tema diáspora foi apresentado através do grupo de colaboração “Pessoas em movimento”, como uma das 25 lacunas que necessitam da atenção da igreja global. Este esforço contou com o apoio colaborativo de diversas redes temáticas do movimento Lausanne, como a Rede de Estudantes Internacionais, Hindus, povos não alcançados, fazedores de tenda e Business as Mission, liderada pelos atuais catalisadores da rede de Diáspora, Dr. Sam George e Dr. Bulus Galadima.
No quinto dia do congresso, a delegação brasileira foi convocada pelo atual chair man da GDN, TV Thomas, da Malásia, e pelos seus catalisadores Dr. Sam George, da Índia, e Dr. Bulus Galadima, da Nigéria, para refletir sobre a importância de nomear e entender o papel das diásporas em nível nacional e global. Um grupo de colaboração foi formado para discutir e desenvolver iniciativas sobre a diáspora brasileira, promovendo trocas de materiais e discussões sobre o tema, para que os líderes ali representados estejam cientes da importância desse evento no país, seja ela interna ou externa. Segundo os catalisadores e pesquisas de Lausanne, a diáspora brasileira externa cristã está entre as dez principais do mundo, exercendo um papel importante na aceleração da evangelização mundial através dos movimentos diaspóricos.
A diáspora brasileira
A diáspora brasileira é um fenômeno notável que reflete a crescente mobilidade dos brasileiros ao redor do mundo. O Brasil, historicamente reconhecido por sua tradição de acolher imigrantes, também se tornou um país de emigração desde a década de 1980, com um aumento significativo após 2011. Atualmente, estima-se que mais de 5 milhões de brasileiros vivam fora do país.
Podemos pensar em duas categorias principais sobre a diáspora brasileira: a interna e a externa. A diáspora interna inclui aqueles que, embora nascidos em outros países, decidiram se estabelecer no Brasil, além dos deslocamentos internos, como a migração de áreas rurais para urbanas. De acordo com dados governamentais, há oficialmente cerca de 1,5 milhão de estrangeiros residindo no Brasil por um longo período.
Por outro lado, a diáspora externa representa um fenômeno em constante crescimento, com brasileiros se mudando para diferentes partes do mundo. Diversos motivos impulsionam esse movimento, sendo a busca por condições econômicas mais vantajosas (como emprego, trabalho, conforto e oportunidades relacionadas) e segurança os principais, seguidos daqueles que procuram investir em seus estudos, seja no aprendizado de idiomas, no campo acadêmico ou em cursos livres e profissionalizantes. Outros se mudam devido a designações institucionais ou organizacionais, como empregos, atividades religiosas ou projetos internacionais.
A diáspora brasileira externa cristã está entre as dez maiores do mundo, desempenhando um papel vital na disseminação do evangelho. Esse fenômeno oferece à igreja brasileira uma oportunidade única de atuar globalmente, tanto ao acolher estrangeiros como ao mobilizar brasileiros no exterior para serem agentes da missão de Cristo. Essa dinâmica ressalta a importância de estratégias missionárias que considerem a mobilidade humana como uma ferramenta poderosa para a propagação do evangelho.
Além disso, a riqueza cultural e a diversidade do Brasil são trunfos valiosos, permitindo que o evangelho seja comunicado de maneira contextualizada e relevante em diferentes partes do mundo. Ao mesmo tempo, a experiência dos brasileiros no exterior oferece uma nova perspectiva e desafios que podem enriquecer as igrejas locais, promovendo uma visão mais global e inclusiva da missão cristã.
Diáspora como ferramenta missionária
Historicamente, a abordagem tradicional de missões, tal como a praticamos e compreendemos, tem se concentrado majoritariamente no envio de missionários para países estrangeiros, buscando disseminar o evangelho além-fronteiras. No entanto, ao considerarmos o cenário atual, torna-se evidente que as diásporas representam uma oportunidade missionária sem precedentes, uma verdadeira seara a ser explorada. Nunca antes em nossa história houve tamanha movimentação de pessoas ao redor do globo, e as projeções indicam que esses números continuarão a crescer, especialmente no que diz respeito aos deslocamentos forçados, causados por conflitos, crises econômicas e desastres naturais.
Diante dessa realidade, é imperativo que revisitemos os modelos das Escrituras e integremos as novas dinâmicas das diásporas em nossa estratégia missionária. Precisamos reconhecer que não se trata de abandonar o modelo tradicional, mas sim de complementá-lo com uma visão que inclui a mobilidade humana contemporânea. As diásporas nos oferecem a chance de alcançar e mobilizar indivíduos de diversas culturas, capacitando-os a se tornarem agentes ativos na obra missionária global. Ao fazer isso, podemos fomentar uma comunidade de fé que transcende fronteiras, onde cada cristão, independentemente de sua localização geográfica, pode participar do grande chamado de disseminar o evangelho e servir como testemunho vivo do amor de Cristo no mundo.
Diásporas como uma ferramenta poderosa para a missão cristã pode ser dividida em três dimensões: missão para, com e além das diásporas.
A missão para as diásporas foca na evangelização contextualizada e no pastoreio das comunidades, adaptando a mensagem do Evangelho aos contextos culturais variados. Criar espaços seguros onde a fé possa florescer é fundamental para o crescimento espiritual dessas comunidades.
A missão com as diásporas envolve a mobilização dos cristãos dispersos como testemunhas ativas do Evangelho. Cada indivíduo na diáspora é visto como um agente de transformação, chamado a exercer seus dons e talentos em suas novas esferas de influência. As diásporas não são apenas recipientes do Evangelho, mas também portadoras de sua mensagem, contribuindo para o fortalecimento das igrejas locais.
Por fim, a missão além das diásporas desafia a ultrapassar barreiras culturais e étnicas, promovendo uma inclusão que reflete a universalidade do Evangelho. Essa dimensão destaca a necessidade de um envolvimento intercultural profundo, onde a igreja é chamada a ser uma presença encarnacional, vivendo e testemunhando a mensagem de Cristo em todas as culturas.
Um chamado à ação
A diáspora oferece à igreja brasileira uma oportunidade sem precedentes para reescrever Atos 8.4, que nos lembra que os primeiros cristãos, ao serem dispersos, pregavam a Palavra por onde quer que fossem. Assim como no passado, hoje somos chamados a ver o movimento das pessoas como uma parte do plano divino para levar o evangelho a todas as nações.
É hora de a igreja brasileira responder a esse chamado, reconhecendo as oportunidades que a diáspora apresenta para a missão global. Precisamos estar preparados para acolher, discipular e enviar aqueles que estão em movimento, transformando desafios em oportunidades para o reino de Deus.
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- Fabiana Braun é casada com Sebastian Braun e mãe de Naomi e de Yael Anna. Como missionária, dedica-se a trabalhar intensamente com diferentes tipos de diásporas na Europa e em diversas partes do mundo. Fabiana também integra o NexGen da rede de Lausanne, destacando-se como uma líder emergente em missões globais. Ocupa um papel crucial na diretoria intercultural da Aliança Evangélica da Alemanha, onde promove a compreensão e cooperação entre culturas. Seu maior anseio é ver o Brasil se tornar referência em práticas missionárias inovadoras e eficazes, não apenas acolhendo e trabalhando com suas diásporas, mas também se estendendo além delas para impactar a esfera global.
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