Opinião
- 20 de abril de 2010
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Declínio das vocações
Marcos Inhauser
Quem olha mais ao passado vai constatar que os Seminários Menores e os cursos Pré-teológicos dos protestantes acabaram. A tendência em restringir a formação do sacerdote/pastor a um período mais tardio na vida é prática que vem sendo usada por ambos setores cristãos. Estes enfrentaram problemas com uma quantidade de adolescentes que estudavam e depois de formados no básico “não mais se sentiam vocacionados”, fazendo com que suas igrejas perdessem os recursos investidos na formação. Por outro lado, é verdade que a decisão vocacional feita na maturidade, e não por imposição familiar, é muito melhor e mais sadia.
A redução de seminaristas tem esta variável, mas também deve ser entendida à luz de um processo acentuado de secularização que a sociedade vem passando, que faz com que o religioso e o espiritual não mais tenham a vigência e importância que tinham antes. Com isto perdeu-se certo “charme” do ser vocacionado pelo poder adquirido e pela posição social que o sacerdote/pastor ocupava.
Outro dado é que esse sacerdote/pastor tinha um saber específico (teológico) que só alguns tinham. Tal se dava pela dificuldade de acesso a textos conceituados na área, que estavam em inglês ou alemão, além da necessidade de se estudar grego, hebraico e, no caso dos sacerdotes católicos, latim. Isto conferia certa aura de autoridade. Por ser um saber acerca de Deus, isto dava ao sacerdote/pastor um nível de poder extraordinário, que redundava no simbólico do imaginário popular de ser uma pessoa “mais próxima de Deus” e, portanto, respeitável acima de qualquer suspeita. Ocorre que o saber se democratizou, desceu de seu pedestal, e a teologia já não mais é coisa de iniciados, mas saber que se difunde via livros acessíveis no vernáculo.
Há também a banalização das vocações, com o crescente número de pessoas que, sem nenhuma formação teológica e nem bíblica, se arvoraram em pastores, bispos e apóstolos. Isto contribui para a perda da aura sagrada que o sacerdócio/pastorado carregava no imaginário popular.
Quanto à formação teológica, há que se dizer que nenhum seminário, por melhor que seja, pode garantir a conduta irreprovável de seus alunos e ordenados. É verdade que uma formação frágil e inconsistente nos valores éticos pode redundar em maior número de desvios comportamentais, mas a educação/formação, centrada em sólida ética e moral, não tem a capacidade de assegurar a conduta futura de seus alunos.
O ser ou não “vocacionado” é algo complicado de se verificar. Eu sempre tive dificuldades na Igreja Presbiteriana porque há um processo em que os pastores devem examinar um candidato para saber se tem ou não vocação. Sempre achei que isto é muito pessoal e não há como ser medido. Quando entrei para a Igreja da Irmandade, aprendi que a vocação é o chamamento da comunidade de fé. Achei esta colocação mais própria, porque a comunidade é quem conhece a pessoa, sabe das suas características e possibilidades. No entanto, havia ainda uma coisa: a comunidade podia reconhecer, mas e se a pessoa não se sentisse chamada ao ministério?
Hoje penso que deve haver o reconhecimento de uma comunidade de fé que vê nas pessoas habilidades e dons para o ministério, mas também deve haver a consciência por parte do chamado de que Deus quer isto para ele. Este chamado às vezes é uma coisa gostosa, outras, a gente luta contra ele; mas no dizer de Jeremias: “Fostes mais forte que eu e prevalecestes”. Agostinho dizia que a vocação é uma graça irresistível e Calvino chamava de vocação eficaz. Assim, alguém que é realmente chamado, não há como evitar. Veja o exemplo de Jonas.
Também creio hoje que a função sacerdotal/pastoral não é inerentemente vitalícia. Mesmo um vocacionado pode e deve perder as funções se seu comportamento assim exigir. E a comunidade de fé, o concílio, ou mesmo a própria pessoa.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
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Quem olha mais ao passado vai constatar que os Seminários Menores e os cursos Pré-teológicos dos protestantes acabaram. A tendência em restringir a formação do sacerdote/pastor a um período mais tardio na vida é prática que vem sendo usada por ambos setores cristãos. Estes enfrentaram problemas com uma quantidade de adolescentes que estudavam e depois de formados no básico “não mais se sentiam vocacionados”, fazendo com que suas igrejas perdessem os recursos investidos na formação. Por outro lado, é verdade que a decisão vocacional feita na maturidade, e não por imposição familiar, é muito melhor e mais sadia.
A redução de seminaristas tem esta variável, mas também deve ser entendida à luz de um processo acentuado de secularização que a sociedade vem passando, que faz com que o religioso e o espiritual não mais tenham a vigência e importância que tinham antes. Com isto perdeu-se certo “charme” do ser vocacionado pelo poder adquirido e pela posição social que o sacerdote/pastor ocupava.
Outro dado é que esse sacerdote/pastor tinha um saber específico (teológico) que só alguns tinham. Tal se dava pela dificuldade de acesso a textos conceituados na área, que estavam em inglês ou alemão, além da necessidade de se estudar grego, hebraico e, no caso dos sacerdotes católicos, latim. Isto conferia certa aura de autoridade. Por ser um saber acerca de Deus, isto dava ao sacerdote/pastor um nível de poder extraordinário, que redundava no simbólico do imaginário popular de ser uma pessoa “mais próxima de Deus” e, portanto, respeitável acima de qualquer suspeita. Ocorre que o saber se democratizou, desceu de seu pedestal, e a teologia já não mais é coisa de iniciados, mas saber que se difunde via livros acessíveis no vernáculo.
Há também a banalização das vocações, com o crescente número de pessoas que, sem nenhuma formação teológica e nem bíblica, se arvoraram em pastores, bispos e apóstolos. Isto contribui para a perda da aura sagrada que o sacerdócio/pastorado carregava no imaginário popular.
Quanto à formação teológica, há que se dizer que nenhum seminário, por melhor que seja, pode garantir a conduta irreprovável de seus alunos e ordenados. É verdade que uma formação frágil e inconsistente nos valores éticos pode redundar em maior número de desvios comportamentais, mas a educação/formação, centrada em sólida ética e moral, não tem a capacidade de assegurar a conduta futura de seus alunos.
O ser ou não “vocacionado” é algo complicado de se verificar. Eu sempre tive dificuldades na Igreja Presbiteriana porque há um processo em que os pastores devem examinar um candidato para saber se tem ou não vocação. Sempre achei que isto é muito pessoal e não há como ser medido. Quando entrei para a Igreja da Irmandade, aprendi que a vocação é o chamamento da comunidade de fé. Achei esta colocação mais própria, porque a comunidade é quem conhece a pessoa, sabe das suas características e possibilidades. No entanto, havia ainda uma coisa: a comunidade podia reconhecer, mas e se a pessoa não se sentisse chamada ao ministério?
Hoje penso que deve haver o reconhecimento de uma comunidade de fé que vê nas pessoas habilidades e dons para o ministério, mas também deve haver a consciência por parte do chamado de que Deus quer isto para ele. Este chamado às vezes é uma coisa gostosa, outras, a gente luta contra ele; mas no dizer de Jeremias: “Fostes mais forte que eu e prevalecestes”. Agostinho dizia que a vocação é uma graça irresistível e Calvino chamava de vocação eficaz. Assim, alguém que é realmente chamado, não há como evitar. Veja o exemplo de Jonas.
Também creio hoje que a função sacerdotal/pastoral não é inerentemente vitalícia. Mesmo um vocacionado pode e deve perder as funções se seu comportamento assim exigir. E a comunidade de fé, o concílio, ou mesmo a própria pessoa.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
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