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Opinião

De volta às aulas, de saída da igreja

Por William Lane

O início de um ano letivo universitário para muitos jovens significa uma nova fase na sua vida e formação pessoal. Um tempo marcado por múltiplas oportunidades, novas amizades, ampliação de horizontes conceituais e sociais, preparação vocacional, assim como por desafios, rupturas, conflitos, ansiedades e dúvidas. Para muitos, isso vem depois de uma árdua luta para conquistar uma vaga no curso e faculdade desejados, por isso, a mera entrada na faculdade já traz um senso de vitória, ainda que haja quatro ou cinco anos pela frente de muito estudo.
 
Entre jovens cristãos, a vida universitária pode ter alguns desafios adicionais. Uma pesquisa recente nos EUA1 mostra que 66% dos jovens entre 18 a 22 anos de idade deixaram de frequentar a igreja regularmente pelo menos durante um ano. Entre as cinco principais justificativas dadas pelos jovens para esse abandono, a primeira foi a mudança para a faculdade (34%).
 
Percebo entre jovens cristãos universitários, mesmo entre os que cresceram na igreja e vêm de famílias enraizadas na igreja, que o período de estudos universitários é uma fase desafiadora e, muitas vezes perturbadora, em pelo menos duas áreas principais:

Primeiro, na área comportamental ou atitudinal. Apesar da universidade ser um ambiente propício para novas amizades e ampliação de relacionamentos tanto sociais quanto profissionais, é também desafiadora quanto às influências negativas do grupo. A pressão para não ficar de fora de festas, programas e círculos de amizade onde há consumo abusivo de álcool, drogas e sexo, levam jovens, cristãos ou não, a perderem o foco e as grandes oportunidades dessa fase e do ambiente. 
 
A segunda área desafiadora é conceitual ou intelectual. Talvez de forma mais ostensiva e deliberada, em alguns campi universitários, toda experiência e conhecimento religiosos são desprezados e ridicularizados. Diante disso, é possível que muitos jovens cristãos nessa situação se isolem e procurem se relacionar apenas com outros cristãos, ou, por outro lado, sucumbem à pressão social e abandonam não só a igreja, mas, lamentavelmente, também a sua fé. 
 
Se isto, de fato, for o caso, penso que o problema não está só na universidade ou no ambiente social, por mais intimidadores que sejam a um cristão. Há alguma coisa errada no modo da igreja ensinar o crescimento e amadurecimento na fé. A mesma pesquisa já mencionada também revela que outras explicações dadas pelos jovens para se afastar da igreja durante aquele período se deve ao fato de se sentirem julgados por outros membros da igreja (32%), não se sentirem conectados com a igreja (29%), discordância de posicionamentos políticos e sociais da igreja (25%), e aumento nas responsabilidades de trabalho (24%).
 
Acredito que tanto os jovens que se isolam quanto os que abandonam a fé estão deixando de crescer e se fortalecer na fé. Há um sentido em que a igreja incentiva uma dependência emocional, espiritual e intelectual dos seus membros na opinião do pastor, nas doutrinas da igreja, nas experiências espirituais e na identidade denominacional de modo que o cristão nunca poderá desenvolver a sua fé sem a mediação absoluta dessas instituições e sem se sentir culpado de estar ultrapassando os limites da sã doutrina e da espiritualidade autêntica. Então, quando o jovem é desafiado por outra visão de mundo, especialmente quanto à ciência, à religião e às relações humanas, não tem estrutura intelectual e emocional para entender que Deus é muito maior do que a sua igreja, pastor e doutrina, e que é possível ser um cristão no meio universitário. 
 
Acredito que muitas vezes estamos preparando crentes para serem eternamente infantis em sua fé, de modo que todo crescimento que não seja um aumento de dependência nas coisas espirituais é considerado dependência da intelectualidade humana, portanto, fora da esfera da fé. Há certa noção de incompatibilidade entre fé cristã e intelectualidade. No entanto, essa fase da vida é fértil para que o jovem amadureça e fortaleça a sua fé, convicções e experiências com Deus e com o próximo. Mas isso só é possível por meio de uma fé e uma intelectualidade encarnada, centrada em Cristo, no seu reino, na sua justiça, e na sua compaixão.
 
Em um de seus livros, John Stott conta que se encontrou com dois irmãos que foram criados na fé cristã, mas quando foram para universidade um se tornou ateu e o outro agnóstico. Stott lhes pergunta: "Mas o que houve? Vocês não creem no cristianismo?". Eles respondem: "Não é que não cremos, mas que não achamos relevante". Talvez esse seja o sentimento de muitos jovens muito ‘crentes’, porém, pouco amadurecidos na fé quando se deparam com os desafios da universidade.
 
Felizmente, hoje há bastante literatura, reflexão, palestras que amparam o jovem universitário e o incentivam em seu crescimento. Obras do próprio John Stott, de Alister McGrath, John Lennox, C.S. Lewis e vários outros, assim como grupos de universitários cristãos, o cristão na ciência, e cursos e congressos específicos são ferramentas fantásticas ao alcance dos jovens.
 
Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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