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Opinião

Darwinismo hoje: impressões sobre o 2º Simpósio da Mackenzie

Quanto aos argumentos, é difícil não concluir que os defensores do DI se saíram melhor. Talvez por uma razão mais ou menos óbvia: os DI's vem sofrendo ataques e articulando defesas contra os ateístas militantes há muitos anos, e desenvolveram uma competência elevada na apresentação de seus argumentos. Já os evolucionistas convidados se apresentaram de uma forma quase não-apologética, defendendo-se eventualmente de forma "ad hoc" e levantando críticas definidas, porém evidentemente não muito desenvolvidas. Ninguém deve concluir, no entanto, que os argumentos dos darwinistas ateus acabam por aí: o resultado reflete apenas a realidade brasileira versus a realidade americana.

A despeito dessa concessão, o debate realmente mostrou uma realidade que vem se desenhando internacionalmente: o darwinismo ateu "militante" de fato não tem recursos suficientes para lidar com o problema do sentido, da racionalidade, do valor; enfim, com a experiência humana de que o círculo da realidade é maior do que o círculo da matéria pura. Há sentido e propósito no mundo, e não é possível esgotar o significado da vida humana a partir da seleção natural. Na verdade, de um modo contraditório, a meu ver, até mesmo Mellender e Caponi admitiram prontamente o fato, insistindo no entanto na prioridade da seleção natural como fonte de complexidade biológica e direcionadora do processo evolucionário.

Maurício Tuffani
Excepcional, e digna de nota aqui, foi a admissão do jornalista Maurício Tuffani (ex-editor-chefe e ex-redator-chefe da revista “Galileu”, ex-editor de ciência da “Folha de São Paulo”, entre outros méritos) de que o tratamento dado ao debate entre DI e evolucionismo não foi equilibrado (ou justo), e que o fato reflete na verdade uma crise no jornalismo internacional. Entre outros problemas que se tornaram crônicos no Brasil estaria a substituição da pesquisa e a descoberta de informações pela mera divulgação de informações, o domínio do jornalismo por corporações e a tendência do jornalismo opinativo de se tornar um mero espelho de certo público cativo.

Para quem acompanha o jornalismo científico, é um alívio perceber manifestações de sanidade em um ambiente tão polarizado pela desinformação sobre religião e ciência.

Um balanço
O que poderíamos dizer, de um modo geral? A despeito do silêncio dominante, excetuado por uns poucos anátemas blogosféricos de ateístas militantes, é certo que o evento foi um sucesso se considerado do ponto de vista da urgente apresentação do debate sobre o darwinismo e a religião em termos maduros e genuinamente acadêmicos. Quem tinha preconceitos contra o evolucionismo ou contra o DI teve oportunidades reais de se atualizar.

Foi impossível não observar, no entanto, a total ausência de representação dos evolucionistas teístas ou dos criacionistas evolucionários. Na visão de alguns, isso obliteraria o conflito polar entre o DI e o naturalismo filosófico dos evolucionistas ateus, e isso talvez não fosse interessante para a Mackenzie neste momento (talvez porque a introdução do DI na instituição já seja um dos objetivos principais do simpósio).

Eu cheguei a perguntar ao professor Mellender sobre a obra de um dos mais importantes paleobiólogos da atualidade -- o doutor Simon Conway Morris, da Universidade de Cambridge -- que defende evidências de teleologia (e, assim, de uma providência divina) não nas "lacunas" do processo evolucionário, mas em seu próprio cerne, no fenômeno da convergência evolucionária. Mellender expressou conhecimento da obra e, embora discorde de Morris, admitiu com um sorriso que o seu trabalho "é de meter medo" (para ateístas, é claro). Há também outros cientistas e/ou filósofos da ciência que tem visões mais nuançadas sobre a distância entre o DI e Darwin.

No futuro, quando a proposta do DI tiver lançado raízes mais fortes na instituição, seria de grande valor para o diálogo entre religião e ciência no Brasil a inclusão de nomes como Alister McGrath, Jacob Klapwijk ou Del Ratzsch, cuja reflexão sobre DI e evolução já está mais alguns passos adiante.

Não poderíamos encerrar esta reflexão sem manifestar o nosso apoio à Universidade Mackenzie e à sua Chancelaria. A direção dessa universidade está envolvida em um importantíssimo projeto de promover a educação e a erudição acadêmica com raízes e traços claramente cristãos e reformados. Tenho ciência de que muita gente -- inclusive muitos cristãos evangélicos -- não veem tal empreendimento com bons olhos, unindo-se na desconfiança à sociedade secular. Mas a estes eu só poderia sugerir que se informem melhor a respeito. Se há alguma falha, que se reconheça a coragem de confessar a Cristo no mundo acadêmico e que se devolva o justo cumprimento da genuína cooperação.

O fim da modernidade e a aproximação do mundo pós-secular são um fato, e os cristãos conscientes deveriam ser os últimos no mundo a sentir saudades da universidade "laica" (que de "laica", é certo, nunca teve nada). Mas isso é assunto para outro artigo!


Guilherme Vilela Ribeiro de Carvalho, pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte, é obreiro de L'Abri no Brasil e presidente da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares. É também organizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação e membro da associação Christians in Science (CiS). guilhermedecarvalho.blogspot.com/
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É teólogo, mestre em Ciências da Religião e diretor de L’Abri Fellowship Brasil. Pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte e presidente da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, é também organizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação e membro fundador da Associação Brasileira Cristãos na Ciência (ABC2).
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