Opinião
- 04 de outubro de 2024
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Da transição geográfica ao cristianismo policêntrico
Quatro maneiras pelas quais o 4º Congresso Lausanne impactou o evangelicalismo mundial
Por René Breuel
Ao arrumar minhas malas para o Quarto Congresso Global do Movimento Lausanne, realizado de 22 a 28 de setembro na Coreia do Sul, achei útil refletir sobre quatro maneiras em que Lausanne 3 me moldou catorze anos atrás.
E ao voltar de Seul e desfazer as mesmas malas, não pude deixar de pensar no que o encontro da semana passada significou para mim e para cerca de 5 mil delegados de mais de 200 nações. O artigo de Morgan Lee para Christianity Today, o de Trevin Wax para The Gospel Coalition e o de Phelipe Reis para a Ultimato captaram grande parte do espírito do evento.
Aqui estão algumas das minhas reflexões iniciais sobre o significado de Seul 2024.
O bastão foi passado para o Sul Global
O terceiro congresso de Lausanne marcou o centenário de Edimburgo 2010. Orgulhosamente sediado pela África, ele também incorporou a tão discutida transição geográfica do cristianismo das nações ocidentais para o Sul Global. Um senso de celebração e movimento em direção a regiões emergentes como a África, a América Latina e a Ásia caracterizaram sua atmosfera.
Em Seul 2024, a transição para o Sul Global parecia estar concluída. Temas ocidentais, como secularização, riqueza e debates sobre novas sexualidades, não ocupavam uma parcela desproporcional da agenda. Em vez de falar sobre o declínio da fé cristã em nações secularizadas, o congresso deu voz a representantes de Gana, Paquistão, China, Brasil e várias outras nações. Sua narrativa mais proeminente foi o notável crescimento do cristianismo em sua nação anfitriã, a Coreia do Sul.
Em Seul 2024, várias regiões do mundo interagiram como iguais no programa oficial e nos salões do Incheon Convensia. Palestrantes famosos, como Rick Warren, receberam tanto tempo quanto representantes de Camarões e Costa Rica. E os estudos de caso da Igreja Perseguida e das minorias religiosas foram destacados.
Como resultado, o foco do congresso evoluiu de “transição geográfica” para “cristianismo policêntrico”. Como explicou o Relatório de Status da Grande Comissão de Lausanne, a missão cristã não é mais “do Ocidente para o resto”, mas “de todos os lugares para qualquer lugar”. O evangelicalismo amadureceu como uma fé geograficamente distribuída e global.
Colaboração, colaboração, colaboração
Conscientes dos desafios do momento, os organizadores de Seul 2024 enfatizaram repetidamente a necessidade de colaboração entre ministérios e regiões do mundo. Uma parte significativa das manhãs foi dedicada a discussões em mesas interculturais e, à tarde, as sessões que convidaram os delegados a realizarem brainstorming sobre como a colaboração pode ajudar os evangélicos a cumprir as lacunas existentes no chamado de Jesus para discipular todas as nações. Lausanne também fez uso da tecnologia, de um aplicativo e de um hub online para ajudar os participantes a continuar suas conversas.
Apesar de todo o seu dinamismo, uma das fraquezas históricas do evangelicalismo inclui a relativa falta de instituições que proporcionem um senso compartilhado de identidade, promovam a unidade e ajudem os cristãos a comunicarem uns com os outros e com o mundo. Desde a Segunda Guerra Mundial, o evangelicalismo tem se esforçado para criar instituições e movimentos, como a Aliança Evangélica Mundial (WEA) e a Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES), que desempenham algumas das funções oferecidas pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) para os cristãos ecumênicos e de tendência liberal e pelo Vaticano para os católicos.
Em Seul 2024, o Movimento de Lausanne se demonstrou ser um valioso convocador e representante do evangelicalismo global. Poucos órgãos evangélicos conseguem reunir um grupo tão diversificado de cristãos globais. Por exemplo, um missionário brasileiro na Itália, como eu, pôde encontrar na Coreia do Sul amigos de Ruanda e do Paquistão que havia conhecido em eventos anteriores de Lausanne.
Espírito de amizade e humildade para tempos complexos
Desde o primeiro Congresso de Lausanne sobre Evangelização Mundial, em 1974, o Movimento tem se esforçado para manter o equilíbrio histórico do Pacto de Lausanne entre evangelismo e compromisso social.
Cinquenta anos depois, esse também era o objetivo de Seul 2024, sob o lema “Que a igreja declare e demostre Cristo juntos”. O desafio é que os evangélicos se tornaram mais diversificados e geograficamente distribuídos do que nunca. Por exemplo, considere este gráfico da World Christian Encyclopedia.
Como Brian Stanley discutiu em The Global Diffusion of Evangelicalism, o século 20 foi “marcado por uma crescente diversificação da tradição evangélica como resultado de sua crescente difusão cultural e geográfica, bem como de respostas estratégicas divergentes dos evangélicos às incursões feitas pelo secularismo no tecido intelectual, moral e social da cristandade ocidental”.
Como resultado, o Quarto Congresso Lausanne colocou à prova a destreza dos evangélicos para navegar não apenas temas teológicos, mas também diferenças culturais e políticas que muitas vezes coloram os debates sobre justiça, inclusão, sexualidade e graça. Em minha opinião, alguns apresentadores deram muita ênfase a questões secundárias e politico-culturais, mas a grande maioria se concentrou no amplo consenso dos evangélicos sobre a primazia das Escrituras, do evangelho e da missão cristã.
Fiquei particularmente impressionado com os palestrantes de Gaza e da Ucrânia, que demonstraram admirável compostura, sabedoria e moderação ao discutir o sofrimento de seus povos.
Em seu discurso final, Michael Oh (CEO de Lausanne) desafiou os cristãos a serem como abelhas que buscam flores – o que é louvável e vivificante no jardim de Deus – em vez de moscas que se banqueteiam com o que é fedorento e pútrido. Foi uma metáfora interessante para a forma como Billy Graham descreveu o espírito construtivo de Lausanne como “um espírito de parceria, estudo, humildade, esperança e oração”.
A igreja brilha mais onde é mais escuro
Como muitos outros participantes, fiquei especialmente comovido com exemplos de arrependimento cristão, perdão e perseverança sob sofrimento. Os iranianos descreveram seus anos na prisão com admirável leveza e alegria. Os coreanos demonstraram autocrítica mesmo quando celebraram o notável crescimento cristão e o renascimento nacional, concentrando-se em histórias como a de um homem que adotou um jovem que havia assassinado seus dois filhos.
Apelos ao arrependimento coletivo, como o que foi compartilhado por minha esposa, Sarah Breuel, repercutiram profundamente entre os delegados em Incheon e aqueles que participaram online.
Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8.12). Como foi emocionante ver a igreja do século 21 seguir seus passos e mostrar como a luz de Jesus pode brilhar em nossa geração.
REVISTA ULTIMATO – AS BEM-AVENTURANÇAS – MARCAS DE UM NOVO MUNDO
Ultimato quer mostrar a beleza e a atualidade das bem-aventuranças, resgatando seu sentido bíblico e refletindo sobre seu impacto na vida do cristão, da igreja e do mundo.
Este é o desafio: voltar a ler as bem-aventuranças como quem lê a mensagem pela primeira vez, com reverência – para perceber e memorizar as exigências do seguimento – e alegre expectativa.
É disso que trata a matéria de capa da edição 409 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Box John Stott - O Cristão Contemporâneo (A Bíblia, O Discípulo, O Evangelho, A Igreja, O Mundo), John Stott e Tim Chester
» O Compromisso da Cidade do Cabo – Uma declaração de fé e uma chamado para agir, Movimento Lausanne
» Cristo, Nosso Reconciliador – Evangelho, Igreja, Mundo, Terceiro Congresso Lausanne
» O que eu aprendi com a igreja sul-coreana, por Phelipe Reis
Por René Breuel
Ao arrumar minhas malas para o Quarto Congresso Global do Movimento Lausanne, realizado de 22 a 28 de setembro na Coreia do Sul, achei útil refletir sobre quatro maneiras em que Lausanne 3 me moldou catorze anos atrás.
E ao voltar de Seul e desfazer as mesmas malas, não pude deixar de pensar no que o encontro da semana passada significou para mim e para cerca de 5 mil delegados de mais de 200 nações. O artigo de Morgan Lee para Christianity Today, o de Trevin Wax para The Gospel Coalition e o de Phelipe Reis para a Ultimato captaram grande parte do espírito do evento.
Aqui estão algumas das minhas reflexões iniciais sobre o significado de Seul 2024.
O bastão foi passado para o Sul Global
O terceiro congresso de Lausanne marcou o centenário de Edimburgo 2010. Orgulhosamente sediado pela África, ele também incorporou a tão discutida transição geográfica do cristianismo das nações ocidentais para o Sul Global. Um senso de celebração e movimento em direção a regiões emergentes como a África, a América Latina e a Ásia caracterizaram sua atmosfera.
Em Seul 2024, a transição para o Sul Global parecia estar concluída. Temas ocidentais, como secularização, riqueza e debates sobre novas sexualidades, não ocupavam uma parcela desproporcional da agenda. Em vez de falar sobre o declínio da fé cristã em nações secularizadas, o congresso deu voz a representantes de Gana, Paquistão, China, Brasil e várias outras nações. Sua narrativa mais proeminente foi o notável crescimento do cristianismo em sua nação anfitriã, a Coreia do Sul.
Em Seul 2024, várias regiões do mundo interagiram como iguais no programa oficial e nos salões do Incheon Convensia. Palestrantes famosos, como Rick Warren, receberam tanto tempo quanto representantes de Camarões e Costa Rica. E os estudos de caso da Igreja Perseguida e das minorias religiosas foram destacados.
Como resultado, o foco do congresso evoluiu de “transição geográfica” para “cristianismo policêntrico”. Como explicou o Relatório de Status da Grande Comissão de Lausanne, a missão cristã não é mais “do Ocidente para o resto”, mas “de todos os lugares para qualquer lugar”. O evangelicalismo amadureceu como uma fé geograficamente distribuída e global.
Colaboração, colaboração, colaboração
Conscientes dos desafios do momento, os organizadores de Seul 2024 enfatizaram repetidamente a necessidade de colaboração entre ministérios e regiões do mundo. Uma parte significativa das manhãs foi dedicada a discussões em mesas interculturais e, à tarde, as sessões que convidaram os delegados a realizarem brainstorming sobre como a colaboração pode ajudar os evangélicos a cumprir as lacunas existentes no chamado de Jesus para discipular todas as nações. Lausanne também fez uso da tecnologia, de um aplicativo e de um hub online para ajudar os participantes a continuar suas conversas.
Apesar de todo o seu dinamismo, uma das fraquezas históricas do evangelicalismo inclui a relativa falta de instituições que proporcionem um senso compartilhado de identidade, promovam a unidade e ajudem os cristãos a comunicarem uns com os outros e com o mundo. Desde a Segunda Guerra Mundial, o evangelicalismo tem se esforçado para criar instituições e movimentos, como a Aliança Evangélica Mundial (WEA) e a Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES), que desempenham algumas das funções oferecidas pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) para os cristãos ecumênicos e de tendência liberal e pelo Vaticano para os católicos.
Em Seul 2024, o Movimento de Lausanne se demonstrou ser um valioso convocador e representante do evangelicalismo global. Poucos órgãos evangélicos conseguem reunir um grupo tão diversificado de cristãos globais. Por exemplo, um missionário brasileiro na Itália, como eu, pôde encontrar na Coreia do Sul amigos de Ruanda e do Paquistão que havia conhecido em eventos anteriores de Lausanne.
Espírito de amizade e humildade para tempos complexos
Desde o primeiro Congresso de Lausanne sobre Evangelização Mundial, em 1974, o Movimento tem se esforçado para manter o equilíbrio histórico do Pacto de Lausanne entre evangelismo e compromisso social.
Cinquenta anos depois, esse também era o objetivo de Seul 2024, sob o lema “Que a igreja declare e demostre Cristo juntos”. O desafio é que os evangélicos se tornaram mais diversificados e geograficamente distribuídos do que nunca. Por exemplo, considere este gráfico da World Christian Encyclopedia.
Como Brian Stanley discutiu em The Global Diffusion of Evangelicalism, o século 20 foi “marcado por uma crescente diversificação da tradição evangélica como resultado de sua crescente difusão cultural e geográfica, bem como de respostas estratégicas divergentes dos evangélicos às incursões feitas pelo secularismo no tecido intelectual, moral e social da cristandade ocidental”.
Como resultado, o Quarto Congresso Lausanne colocou à prova a destreza dos evangélicos para navegar não apenas temas teológicos, mas também diferenças culturais e políticas que muitas vezes coloram os debates sobre justiça, inclusão, sexualidade e graça. Em minha opinião, alguns apresentadores deram muita ênfase a questões secundárias e politico-culturais, mas a grande maioria se concentrou no amplo consenso dos evangélicos sobre a primazia das Escrituras, do evangelho e da missão cristã.
Fiquei particularmente impressionado com os palestrantes de Gaza e da Ucrânia, que demonstraram admirável compostura, sabedoria e moderação ao discutir o sofrimento de seus povos.
Em seu discurso final, Michael Oh (CEO de Lausanne) desafiou os cristãos a serem como abelhas que buscam flores – o que é louvável e vivificante no jardim de Deus – em vez de moscas que se banqueteiam com o que é fedorento e pútrido. Foi uma metáfora interessante para a forma como Billy Graham descreveu o espírito construtivo de Lausanne como “um espírito de parceria, estudo, humildade, esperança e oração”.
A igreja brilha mais onde é mais escuro
Como muitos outros participantes, fiquei especialmente comovido com exemplos de arrependimento cristão, perdão e perseverança sob sofrimento. Os iranianos descreveram seus anos na prisão com admirável leveza e alegria. Os coreanos demonstraram autocrítica mesmo quando celebraram o notável crescimento cristão e o renascimento nacional, concentrando-se em histórias como a de um homem que adotou um jovem que havia assassinado seus dois filhos.
Apelos ao arrependimento coletivo, como o que foi compartilhado por minha esposa, Sarah Breuel, repercutiram profundamente entre os delegados em Incheon e aqueles que participaram online.
Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8.12). Como foi emocionante ver a igreja do século 21 seguir seus passos e mostrar como a luz de Jesus pode brilhar em nossa geração.
- René Breuel é um pastor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor de O Paradoxo da Felicidade e Não É fácil Ser Pai, é mestre em escrita criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
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Este é o desafio: voltar a ler as bem-aventuranças como quem lê a mensagem pela primeira vez, com reverência – para perceber e memorizar as exigências do seguimento – e alegre expectativa.
É disso que trata a matéria de capa da edição 409 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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» Box John Stott - O Cristão Contemporâneo (A Bíblia, O Discípulo, O Evangelho, A Igreja, O Mundo), John Stott e Tim Chester
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