Opinião
- 27 de fevereiro de 2009
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Crise de legitimidade da autoridade pastoral
O mau uso do princípio hermenêutico do “livre exame” luterano acabou fomentando a construção de um “ethos” pastoral em que se prescinde da necessidade de uma boa formação cognitivo-moral por parte dos pastores, como se quisesse comunicar com isso que o compromisso da fé com a verdade e a justiça não é uma “conditio sine qua non” para o legítimo exercício da atividade poimênica.
Como na modernidade “radical” (Giddens) se percebe o desenvolvimento do fenômeno sociocultural da destradicionalização (que se traduz em perda de plausibilidade da tradição em sentido amplo), a autoridade religiosa como um todo, e a pastoral em específico, também sofre o efeito colateral deste fenômeno macrocultural no Ocidente.
O caráter pragmático que parece ter incorporado a espiritualidade evangélica brasileira acaba sugerindo uma forma de reflexividade presente em seu arcabouço moral. Os riscos presentes na sociedade do medo, prenhe de infindáveis ameaças sociais (dentre elas a desempregabilidade estrutural que pode ser desencadeada com a crise do capitalismo global), produzem um senso de vulnerabilidade cada vez maior, mesmo na psicologia das pessoas religiosas.
Neste sentido, o caráter funcional da espiritualidade das religiões de prosperidade acaba acentuando o descompromisso cognitivo com a verdade como forma de ser e pensar o mundo a partir da fé. O senso pragmático que se insinua aí torna o compromisso da fé com a verdade cada vez menos relevante: a verdade de quem é moralmente o pastor; a verdade dos valores que este preserva na forma de viver eticamente seu ministério; a verdade de suas pretensões vocacionais no exercício de sua atividade poimênica. O carisma se torna critério suficiente de legitimação do exercício poimênico que se exerce neste contexto religioso.
A consequência que surge deste cenário desencantador não pode ser outra senão o descrédito endêmico dado ao pastor, seja ele sério e comprometido com valores éticos da fé, seja ele um picareta que se esconde por trás da demagogia de um discurso persuasivo e arrebatador, representando um tipo de espiritualidade funcional no mercado da fé. No escopo desta crise de legitimidade da autoridade pastoral, “o destino de um, infelizmente, acaba sendo compartilhado por todos”.
Nota
1. Há um sentido positivo do “preconceito”, e este é trabalhado pelo filósofo hermeneuta Hans-Georg Gadamer em sua clássica obra “Verdade e Método”.
• Anderson Clayton, casado, dois filhos, é doutor em teologia e doutorando em sociologia. É professor do Instituto Superior de Teologia Luterana e pastor colaborador na Igreja Confessional Luterana.
Como na modernidade “radical” (Giddens) se percebe o desenvolvimento do fenômeno sociocultural da destradicionalização (que se traduz em perda de plausibilidade da tradição em sentido amplo), a autoridade religiosa como um todo, e a pastoral em específico, também sofre o efeito colateral deste fenômeno macrocultural no Ocidente.
O caráter pragmático que parece ter incorporado a espiritualidade evangélica brasileira acaba sugerindo uma forma de reflexividade presente em seu arcabouço moral. Os riscos presentes na sociedade do medo, prenhe de infindáveis ameaças sociais (dentre elas a desempregabilidade estrutural que pode ser desencadeada com a crise do capitalismo global), produzem um senso de vulnerabilidade cada vez maior, mesmo na psicologia das pessoas religiosas.
Neste sentido, o caráter funcional da espiritualidade das religiões de prosperidade acaba acentuando o descompromisso cognitivo com a verdade como forma de ser e pensar o mundo a partir da fé. O senso pragmático que se insinua aí torna o compromisso da fé com a verdade cada vez menos relevante: a verdade de quem é moralmente o pastor; a verdade dos valores que este preserva na forma de viver eticamente seu ministério; a verdade de suas pretensões vocacionais no exercício de sua atividade poimênica. O carisma se torna critério suficiente de legitimação do exercício poimênico que se exerce neste contexto religioso.
A consequência que surge deste cenário desencantador não pode ser outra senão o descrédito endêmico dado ao pastor, seja ele sério e comprometido com valores éticos da fé, seja ele um picareta que se esconde por trás da demagogia de um discurso persuasivo e arrebatador, representando um tipo de espiritualidade funcional no mercado da fé. No escopo desta crise de legitimidade da autoridade pastoral, “o destino de um, infelizmente, acaba sendo compartilhado por todos”.
Nota
1. Há um sentido positivo do “preconceito”, e este é trabalhado pelo filósofo hermeneuta Hans-Georg Gadamer em sua clássica obra “Verdade e Método”.
• Anderson Clayton, casado, dois filhos, é doutor em teologia e doutorando em sociologia. É professor do Instituto Superior de Teologia Luterana e pastor colaborador na Igreja Confessional Luterana.
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