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Opinião

Covid-19: as incertezas e a surpreendente intervenção de Deus

Por Ronaldo Lidório
 
Em 1939, logo no início da Segunda Grande Guerra, Norman Grubb, um dos líderes da WEC Internacional, organização missionária fundada por Charles Studd, escreveu aos missionários e igrejas relembrando que o Senhor “nos ensinou durante esses anos a manter os olhos fixos nele percebendo o seu trabalho para os seus gloriosos propósitos, mesmo durante o maior dos desastres”
 
Grubb os convocou à persistência “na causa para a qual Ele nos chamou, a evangelização do mundo”. Reconheceu que os encontros nas grandes cidades não eram mais viáveis, mas que nada deveria impedi-los de encontrar outros meios de cumprir a missão. Falando sobre o conflito que ganhou proporções globais, afirmou que “esse grande evento retira todos os demais de nossa mente”, porém, os instruiu a perseverar no encorajamento mútuo, na edificação da igreja e na evangelização do mundo “unidos como um só corpo” e aguardando a “surpreendente intervenção de Deus”1.
 
A propagação do coronavírus, associada aos desafios da vida diária, tem gerado ansiedade, pânico e sofrimento em diferentes formas. Diversas medidas têm sido tomadas pelo poder público e a sociedade em geral. O cristão deve abraça-las com zelo e responsabilidade. 
 
Além dessas importantes medidas, gostaria de lembra-lo de outras: 
 
Confie e descanse no Senhor. O Salmo 25 inicia afirmando que nossa confiança está no Senhor (v.2) e conclui com um pedido, que Ele nos livre de toda a tribulação (v.22). Dias de crise se apresentam como um oportuno cenário para reafirmarmos em quem cremos e o quanto cremos. Seja perante uma enfermidade assoladora ou quaisquer outros embates da vida, nossa confiança está naquele que de fato reina. Ele é o único refúgio que não se desfaz perante tempestades, guerras e pestes. E Ele nos convida a crer o suficiente para descansar – mesmo no dia da adversidade. Confie e descanse no Senhor! Ele é o seu refúgio e paz. 
 
Mantenha o coração ensinável. O Salmo 86 é uma oração do “aflito e necessitado” (v.1) escrito no “dia da angústia” (v.7). Perante tal cenário o salmista pede: “ensina-me, Senhor, os teus caminhos e andarei na tua verdade” (v.11). Mesmo em meio à angústia Deus nos ensina sobre os seus caminhos e a sua verdade. Momentos de crise devem nos levar à reflexão, oração, quebrantamento e  aprendizado. Devemos perguntar: o que Ele deseja ensinar? Deus possui a infinita capacidade de lidar com todos os cenários e acontecimentos – mesmo os mais improváveis – trazendo luz, ensino e edificação. 
 
Promova a comunhão. Igrejas não são definidas por seus templos e endereços, mas pela comunhão e adoração. Em Atos 2 lemos que “todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum” (v.44), chegando ao ponto de venderem suas propriedades e partilharem com os mais necessitados (v.45). Isso era possível porque “da multidão dos que creram era um o coração e a alma” (4:32). Perante dias de reclusão, devemos nos lembrar que as portas fechadas dos templos não devem impedir a comunhão do povo de Deus. Orem uns pelos outros, importem-se uns com os outros e comuniquem-se! Liguem, enviem mensagens, participem de grupos virtuais, priorizem os cultos online. A comunhão entre os santos é irrefreável, pois é resultado da graça e da vontade de Deus. 
 
Cumpra a missão. Em Atos 8 vemos que a igreja não pausou sua missão durante a grande perseguição. Ao contrário, mesmo sendo dispersos iam por toda parte pregando a Palavra. Em momentos de incerteza Deus levanta uma igreja convicta. Em dias de sofrimento Deus fortalece a sua igreja para a missão. 
 
Se impedido de sair, torne-se mais ativo nas redes sociais promovendo a Palavra – esperança aos abatidos, alegria aos deprimidos, encorajamento aos amedrontados; e lembrando a todos que a verdadeira, singular e eterna redenção é encontrada apenas em Cristo Jesus.
 
Se confinado em sua casa, aproveite a oportunidade para colocar a conversa em dia com a família. Orem juntos, leiam a Palavra, discutam aquele ótimo livro e assistam aquele filme imperdível. Assuma uma postura intencional de sal que salga e luz que brilha para os de perto. 
 
Envolva-se com a igreja perseguida e o mundo ainda sem Cristo. Informe-se mais. Ore mais. Inove, usando seus dons e os canais que lhe vierem à mão para que outros possam enxergar a absoluta, eterna e surpreendente intervenção de Deus já revelada em Cristo Jesus. 
 
Lance todas as sementes, pois não sabe qual germinará! Espalhe o evangelho pelos meios eletrônicos, introduza sua convicção e fé nas conversações, convide alguém para ouvir o sermão de seu pastor no culto online, tenha uma vida compatível com sua fé, ame ao ponto de se envolver com o aflito e testemunhe ao mundo da verdade sobre a qual jamais podemos nos calar: Jesus Cristo. 

Nota
1. Norman’s letters – WEC arquives. ID Connect, March 2020, Louis Sutton. 

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Ronaldo Lidório é teólogo e antropólogo, missionário (APMT e WEC) entre grupos pouco ou não evangelizados. É organizador de Indígenas do Brasil -- avaliando a missão da igreja e A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.
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