Opinião
- 26 de fevereiro de 2010
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Conversões, perversões e reconversões
Rodrigo de Lima Ferreira
O que é conversão? Segundo os estudiosos em teologia sistemática, especialmente os que se dedicam ao estudo da soteriologia (a parte da teologia que estuda a questão da salvação), a conversão é um evento único na vida de uma pessoa, distinguindo-se da santificação, que é um processo que leva toda a vida. A conversão é um impacto que faz o sujeito mudar sua rota por meio do arrependimento e da fé. Bom, foi isso que estudei lendo Berkhof (para a tristeza dos liberais), apesar de não ter concordado com tudo o que esse teólogo escreveu (para a tristeza dos fundamentalistas).
Conversão, portanto, é um processo individual, nunca coletivo. Mas, através dela, o cristão é chamado a viver uma vida coletiva (a igreja), abandonando seu individualismo. Cada conversão é única, assim como é única a história de vida de cada um.
Alguns, porém, se cansam do caminho da conversão e se pervertem; ou seja, partem para o arrependimento (do arrependimento anterior) e para a incredulidade. Alguns retornam (o que teólogos chamam de reconversão), outros não, apostatando publicamente da fé um dia professada. (Richard Dawkins é, talvez, o apóstata mais conhecido da atualidade.)
Mas, o que dizer das instituições eclesiásticas, que muitos chamam de “igrejas”, contudo eu prefiro chamá-las de instituições ou denominações ou ainda, segundo Howard Snyder em “Vinho novo, odres novos”, entidades paraeclesiásticas? Será que, por carregarem pessoas cristãs são, automaticamente, cristãs?
Penso que as instituições estão em séria crise de identidade. Apesar de nominalmente carregarem o nome do Crucificado, na prática muitas se esmeram em posicionamentos que mais se aproximam da turma de Anás e Caifás. Temos paulatinamente nos distanciado da simplicidade e objetividade do Senhor, que ensinava copiarmos os modelos das crianças e das donas de casa que acham moedas perdidas (e que tinha menos problemas com a pecaminosidade explícita de uma mulher moralmente torta que com a ecaminosidade recolhida dos religiosamente retos). Em vez disso, temos tentado emular o “grande templo” com seus paramentos, seus pensamentos únicos e suas muitas e inúmeras regras. Tivemos a Inquisição no ramo católico do cristianismo, assim como a Bíblia nos mostra a Inquisição judaica contra Jesus e os primeiros cristãos. Infelizmente temos pequenas inquisições veladas no seio protestante.
Aliás, não sei por que temos ainda esse nome. O protestantismo, de fato, nunca foi implantado aqui em toda a sua plenitude. O que veio foi uma diluição estadunidense do já diluído protestantismo que lhes foi ensinado da Europa, juntamente com usos e costumes que perduram até hoje. Muitos não usam batina, mas o terno e a gravata cumprem a mesma função. Mas contra o quê mesmo protestamos? Contra a corrupção na política, especialmente lembrando dos panetones de Brasília? E a corrupção de nossa política interna, sem panetones, mas com muitos manjares do rei? Será que temos protestado contra procedimentos escusos de gente de fora que se diz pertencer ao rebanho de Deus, quando muitos dos nossos têm apresentado os mesmos procedimentos? Por que será que o que o outro faz é condenável, enquanto que o que um dos nossos faz é palatável?
Entendo que o pecado é uma mácula individual. Porém também entendo que existe o pecado estrutural; ou seja, as estruturas, por serem feitas por gente pecadora, também padecem desse mal que desumaniza a criação de Deus. Entre outras consequências, o pecado estrutural estimula pastores a abandonarem suas vocações, transformando-se em meros gerentes, pois assim o mercado demanda. O pecado estrutural também metamorfoseia o crente, fazendo-o um cliente exigente e chorão.
Enfim, é hora de conversão, ou reconversão. Não espero que as instituições se convertam. Mas espero que as pessoas de dentro dessas estruturas, incluindo aí eu e você, persigam o modelo de Jesus, tão desgastado em nosso tempo mercantilista, vil e apóstata.
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. revdigao.wordpress.com
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O que é conversão? Segundo os estudiosos em teologia sistemática, especialmente os que se dedicam ao estudo da soteriologia (a parte da teologia que estuda a questão da salvação), a conversão é um evento único na vida de uma pessoa, distinguindo-se da santificação, que é um processo que leva toda a vida. A conversão é um impacto que faz o sujeito mudar sua rota por meio do arrependimento e da fé. Bom, foi isso que estudei lendo Berkhof (para a tristeza dos liberais), apesar de não ter concordado com tudo o que esse teólogo escreveu (para a tristeza dos fundamentalistas).
Conversão, portanto, é um processo individual, nunca coletivo. Mas, através dela, o cristão é chamado a viver uma vida coletiva (a igreja), abandonando seu individualismo. Cada conversão é única, assim como é única a história de vida de cada um.
Alguns, porém, se cansam do caminho da conversão e se pervertem; ou seja, partem para o arrependimento (do arrependimento anterior) e para a incredulidade. Alguns retornam (o que teólogos chamam de reconversão), outros não, apostatando publicamente da fé um dia professada. (Richard Dawkins é, talvez, o apóstata mais conhecido da atualidade.)
Mas, o que dizer das instituições eclesiásticas, que muitos chamam de “igrejas”, contudo eu prefiro chamá-las de instituições ou denominações ou ainda, segundo Howard Snyder em “Vinho novo, odres novos”, entidades paraeclesiásticas? Será que, por carregarem pessoas cristãs são, automaticamente, cristãs?
Penso que as instituições estão em séria crise de identidade. Apesar de nominalmente carregarem o nome do Crucificado, na prática muitas se esmeram em posicionamentos que mais se aproximam da turma de Anás e Caifás. Temos paulatinamente nos distanciado da simplicidade e objetividade do Senhor, que ensinava copiarmos os modelos das crianças e das donas de casa que acham moedas perdidas (e que tinha menos problemas com a pecaminosidade explícita de uma mulher moralmente torta que com a ecaminosidade recolhida dos religiosamente retos). Em vez disso, temos tentado emular o “grande templo” com seus paramentos, seus pensamentos únicos e suas muitas e inúmeras regras. Tivemos a Inquisição no ramo católico do cristianismo, assim como a Bíblia nos mostra a Inquisição judaica contra Jesus e os primeiros cristãos. Infelizmente temos pequenas inquisições veladas no seio protestante.
Aliás, não sei por que temos ainda esse nome. O protestantismo, de fato, nunca foi implantado aqui em toda a sua plenitude. O que veio foi uma diluição estadunidense do já diluído protestantismo que lhes foi ensinado da Europa, juntamente com usos e costumes que perduram até hoje. Muitos não usam batina, mas o terno e a gravata cumprem a mesma função. Mas contra o quê mesmo protestamos? Contra a corrupção na política, especialmente lembrando dos panetones de Brasília? E a corrupção de nossa política interna, sem panetones, mas com muitos manjares do rei? Será que temos protestado contra procedimentos escusos de gente de fora que se diz pertencer ao rebanho de Deus, quando muitos dos nossos têm apresentado os mesmos procedimentos? Por que será que o que o outro faz é condenável, enquanto que o que um dos nossos faz é palatável?
Entendo que o pecado é uma mácula individual. Porém também entendo que existe o pecado estrutural; ou seja, as estruturas, por serem feitas por gente pecadora, também padecem desse mal que desumaniza a criação de Deus. Entre outras consequências, o pecado estrutural estimula pastores a abandonarem suas vocações, transformando-se em meros gerentes, pois assim o mercado demanda. O pecado estrutural também metamorfoseia o crente, fazendo-o um cliente exigente e chorão.
Enfim, é hora de conversão, ou reconversão. Não espero que as instituições se convertam. Mas espero que as pessoas de dentro dessas estruturas, incluindo aí eu e você, persigam o modelo de Jesus, tão desgastado em nosso tempo mercantilista, vil e apóstata.
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. revdigao.wordpress.com
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Casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, é autor de "Princípios Esquecidos" (Editora AGBooks).
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