Opinião
- 23 de junho de 2009
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Comportamento retributivo
Marcos Inhauser
Há algo que tem caracterizado o comportamento humano ao longo dos séculos: a reciprocidade. Parece que é inato ao ser humano. Quando uma criança se machuca e chora, a outra que está próxima também começa a chorar — mesmo que nada lhe tenha acontecido.
Esta atitude também pode ser vista em certos comportamentos espontâneos que temos e que não conseguimos explicar: por que sorrimos em resposta ao sorriso de um desconhecido? Por que temos a tendência de ficar alegres se estamos perto de alguém alegre, e tristes em companhia de alguém triste?
Há quem diga que temos em nosso cérebro uma área dedicada ao “espelhamento”, que é a capacidade de reagir em sintonia com os sentimentos dos outros. Lemos o estado de espírito da pessoa e nos amoldamos a ele, como forma de aceitação, mesmo porque, se chegamos alegres a alguém que teve uma perda significativa, não seremos bem aceitos e até criticados. Segundo os estudiosos, esta capacidade se estende ao gestual e ao postural, pois, inconscientemente, assumimos uma posição corporal análoga à de nossa companhia, como forma de criar sintonia e empatia.
No entanto, há um tipo de comportamento que se dá na esfera consciente e que está em retribuir ou não a uma ação feita por alguém. É muito comum encontrarmos quem diga: “Não o cumprimento porque ele nunca me cumprimentou”, “não o convido porque ele nunca me convidou”, “não falo com ele porque ele nunca falou comigo”, “só faço se ele tomar a iniciativa”.
Há três coisas neste comportamento que quero salientar. A primeira delas é a tentativa de colocar no outro a responsabilidade pela minha atitude. É um mecanismo de defesa iníquo, injusto, porque coloca além de mim a responsabilidade da iniciativa que vise à mudança. A segunda é que só faz perpetuar a situação. Se ambos usam da mesma argumentação, nunca se terá a mudança. Este comportamento é imaturo, ingênuo e infantil. A terceira é que a cadeia causa-efeito-que-se-torna-causa tem o condão de acentuar as diferenças e a rivalidade. É um cavar de poço, indo cada vez mais fundo.
Há nos ensinamentos de Jesus a máxima do “dar a outra face”, do “andar a segunda milha”, do “perdoar setenta vezes sete”, do “pedir perdão a quem nos crucifica”. É a lógica da graça, do agir sem que o outro mereça, do fazer o que não se espera que se faça, como forma de romper o círculo vicioso do comportamento retributivo.
A graça para com quem desgraça os relacionamentos é um gesto que, por mais engraçado que possa parecer, congraça os seres humanos, permitindo que a graça agracie a todos.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
Há algo que tem caracterizado o comportamento humano ao longo dos séculos: a reciprocidade. Parece que é inato ao ser humano. Quando uma criança se machuca e chora, a outra que está próxima também começa a chorar — mesmo que nada lhe tenha acontecido.
Esta atitude também pode ser vista em certos comportamentos espontâneos que temos e que não conseguimos explicar: por que sorrimos em resposta ao sorriso de um desconhecido? Por que temos a tendência de ficar alegres se estamos perto de alguém alegre, e tristes em companhia de alguém triste?
Há quem diga que temos em nosso cérebro uma área dedicada ao “espelhamento”, que é a capacidade de reagir em sintonia com os sentimentos dos outros. Lemos o estado de espírito da pessoa e nos amoldamos a ele, como forma de aceitação, mesmo porque, se chegamos alegres a alguém que teve uma perda significativa, não seremos bem aceitos e até criticados. Segundo os estudiosos, esta capacidade se estende ao gestual e ao postural, pois, inconscientemente, assumimos uma posição corporal análoga à de nossa companhia, como forma de criar sintonia e empatia.
No entanto, há um tipo de comportamento que se dá na esfera consciente e que está em retribuir ou não a uma ação feita por alguém. É muito comum encontrarmos quem diga: “Não o cumprimento porque ele nunca me cumprimentou”, “não o convido porque ele nunca me convidou”, “não falo com ele porque ele nunca falou comigo”, “só faço se ele tomar a iniciativa”.
Há três coisas neste comportamento que quero salientar. A primeira delas é a tentativa de colocar no outro a responsabilidade pela minha atitude. É um mecanismo de defesa iníquo, injusto, porque coloca além de mim a responsabilidade da iniciativa que vise à mudança. A segunda é que só faz perpetuar a situação. Se ambos usam da mesma argumentação, nunca se terá a mudança. Este comportamento é imaturo, ingênuo e infantil. A terceira é que a cadeia causa-efeito-que-se-torna-causa tem o condão de acentuar as diferenças e a rivalidade. É um cavar de poço, indo cada vez mais fundo.
Há nos ensinamentos de Jesus a máxima do “dar a outra face”, do “andar a segunda milha”, do “perdoar setenta vezes sete”, do “pedir perdão a quem nos crucifica”. É a lógica da graça, do agir sem que o outro mereça, do fazer o que não se espera que se faça, como forma de romper o círculo vicioso do comportamento retributivo.
A graça para com quem desgraça os relacionamentos é um gesto que, por mais engraçado que possa parecer, congraça os seres humanos, permitindo que a graça agracie a todos.
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