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Opinião

Como responder à tirania do tempo e do ego?

Por Paulo Ribeiro
 
Faz algum tempo, estava dirigindo por uma estrada movimentada no nordeste do Brasil e atrasado para uma reunião importante. Ao me aproximar de um cruzamento, vi uma motocicleta sendo atropelada por uma minivan cerca de 5 ou 6 carros à minha frente. Minha primeira reação instintiva foi verificar meu relógio e estimar quanto tempo mais eu atrasaria por causa do acidente, pois todos os motoristas à minha frente pararam seus carros e o tráfego engarrafou.
 
Quando olhei novamente, percebi que os motoristas não tinham apenas parado, mas saíram de seus carros e corriam em direção à vítima. Percebi então que havia algo muito errado comigo. Estava escravo do tempo, da eficiência, do dinheiro, etc. Minha reação institiva não foi de preocupação com aquela vida preciosa, mas com “minha agenda” e “minha reputação”.
 
Senti-me ainda mais envergonhado quando pensei que os motoristas que correram para ajudar possivelmente não eram cristãos. Percebi que meu intelecto e mente foram bem treinados, até minhas emoções posso controlar (às vezes), mas minha reação instintiva de cuidado cristão estava profundamente afetada pelas conseqüências de uma cultura superficial, artificial e virtual, forjada pela tirania do tempo e do ego.
 
No dia anterior, tinha falado para um grupo grande de pessoas sobre o que significa ser reformado e a natureza e o poder transformadores do evangelho. Falei sobre o Senhorio de Cristo, o Reino de Deus,  mandato cultural, o conceito de vocação profissional. A apresentação foi ótima, a prática, no entanto, a reação instintiva, moral, cristã, que deveria estar ali imediatamente, não estava.  
 
C.S. Lewis fala da “resposta moral-armazenada-automática-instintitva” (Stock Response), como um conjunto de atitudes deliberadamente organizadas que substitui o “jogo livre e direto” da experiência diaria, como uma das primeiras necessidades da vida humana. Tudo o que descrevemos como a constância no amor ou na amizade, como lealdade na vida política, ou perseverança, toda virtude sólida e prazer estável, depende da organização e manutenção dessas atitudes contra o fluxo eterno da mera experiência imediata. Sem essa não podemos obter a segurança, a felicidade ou dignidade que gostaríamos. Essa retidão elementar da resposta humana muito longe de ser apenas um comportamento natural é um delicado equilíbrio de hábitos treinados, laboriosamente adquiridos e facilmente perdidos. Da organização e manutenção destas dependem nossas virtudes e nossos prazeres e até mesmo, talvez, a sobrevivência de nossa espécie.
 
Finalmente, na engenharia elétrica, usamos a “Resposta Transitória” a um distúrbio para medir a estabilidade de um sistema. Se a analogia se aplica ao comportamento humano, preciso de bem mais treinamento; preciso sair mais frequentemente do reino intelectual para o mundo real de ações e reações morais normativas.
 
Mas como é que não me lembrei do outro conselho de Jack:
"A grande coisa, se pudermos, é parar de considerar todos os acontecimentos desagradáveis como interrupções da nossa vida "própria" ou "real". A verdade é que o que chamamos de interrupções são precisamente a nossa vida verdadeira - a vida que Deus nos dá dia a dia; o que chamamos de "vida real" é um fantasma da nossa própria imaginação.”
 
Em períodos de pandemia e lockdown, a tirania do tempo é minimizada, mas a do ego, não.
 
Que o Senhor nos ajude a todos. Tiago nos deu poucas e boas instruções:
“Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos.” Tiago 1:22

Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao

Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
  • Textos publicados: 73 [ver]

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