Opinião
- 18 de abril de 2018
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Como escolher qual livro ler
Por Ricardo W. Borges
Fanáticos religiosos chamam ateus de fanáticos. Fanáticos ateus chamam religiosos de fanáticos. Assim, abraçado a seu fanatismo, cada um classifica o que está do “outro lado” como lhe convém, sem nunca precisar exercitar, com humildade e dedicação, a nobre tarefa de buscar entender o outro, antes de concordar ou discordar.
Claro que entendo a discordância como parte da vida comunitária saudável ou, pelo menos, assim deveria ser. Mas como discordar se, para começo de conversa, eu nunca entendi bem o que quer que seja que meu oposto pensa ou, ainda que absurdo, sem que eu mesmo compreenda bem onde deposito minhas convicções e segurança?
Por isso os livros são necessários. Eles expandem e questionam nossos horizontes, nos levam a mundos novos ainda não explorados. Ainda assim, que livros ler? Ou com que atitude embarco nessa aventura? Perguntas simples, mas que fazem toda a diferença. Recordo o dia, ainda estudante universitário, líder em meu grupo de ABU (Aliança Bíblica Universitária), quando comentei com uma amiga, também estudante à época e hoje uma psicóloga renomada, que eu buscava alguns livros para tentar entender melhor o nosso mundo “pós-moderno”, um termo que era novidade para nós naquele momento. Sua recomendação foi tão simples como preciosa: “busque ler livros que apresentem várias perspectivas, e não apenas os que são escritos por autores cristãos sobre o assunto”. Guardei essa sugestão como um pequeno tesouro ao longo da minha vida.
Na verdade, fui descobrindo aos poucos a imensa necessidade que temos, e o enorme benefício que ganhamos, ao buscar ler de fontes variadas. Algo válido não apenas quanto se trata da fé e suas vertentes doutrinárias, mas também quanto aos diferentes olhares sobre o mundo e a história, com perspectivas políticas e ideológicas distintas.
Queria ler sobre o ateísmo? Deveria buscar um autor ateu. Sobre o liberalismo econômico? Buscaria autores liberais. Sobre política à esquerda e à direita? Deveria encontrar fontes consideradas progressistas e outras conservadoras. E assim por diante. Não é difícil seguir esse fio da meada. Mas ainda assim me surpreendo ao descobrir que não são muitos os que parecem seguir esse tipo de critério.
>> 10 dicas para os pastores incentivarem a leitura em suas igrejas <<
Ler, e ler muito, de maneira variada, aberta e humilde, permitindo que as diferentes perspectivas te desafiem e te ajudem a entender melhor aquilo em que você acredita de verdade. Talvez para revisar, se necessário, ou ainda para aprofundar, com razoabilidade, as próprias convicções. Recordo o desafio a que nos propomos, junto com estudantes universitários cristãos da CBU (o equivalente a ABU no Uruguai), para que lêssemos juntos o livro “Dios no es Bueno”, de Christopher Hitchens. Se era para entender o ateísmo, popular na terra do mate amargo, que pelo menos fôssemos às fontes. Eu ainda me lembro de como fazíamos graça ao tirar fotos de nossas tertúlias de leitura e discussão, “vai que o pastor vê essa foto e descobre o que andamos lendo!”.
E a Bíblia, não seria melhor dedicar-nos a ela? Claro que podemos dizer que sim, é o livro mais fascinante, em especial para aquele que já é cristão e crê que nela encontra a revelação do caráter de Deus e de seus propósitos para a vida. Ou ainda para aquele que, sem crer, se aproxima do livro como um buscador curioso e honesto. Ainda assim, creio ser tão importante avaliar a atitude e o método dessa aproximação das Escrituras.
Ou seja - e aqui uma recomendação especial para os que creem -, não a leio para reforçar a minha doutrina (no sentido do conjunto de ensinamentos que já entendo e adoto em minha vida). Leio-a com espírito aberto, para ser desafiado através dessa leitura, para ser perturbado e transformado, também com cuidado para uma aproximação adequada. Ela consiste em uma leitura comunitária, desde diferentes contextos (lugares, culturas, épocas, indivíduos, gerações, grupos), confiando na direção do Espírito que nos guia nessa leitura e resposta à Palavra.
Primeiro, e mais importante, a nossa atitude. Talvez alguns, digam “mas e a doutrina?”. Creio que sempre a entenderemos melhor e de maneira mais adequada se ajustarmos nossa atitude ao abrir e ler um livro. Ainda mais se esse livro é considerado, por aquele que lê, como a Palavra do próprio Deus. Assim, se me permitem a sugestão, primeiro e mais importante deve ser a atitude, depois sim chegaremos à desejada e boa doutrina.
Claro que também devemos encontrar a atitude adequada na leitura para qualquer outro tipo de literatura, seja dos livros considerados cristãos (comentários bíblicos, obras sobre espiritualidade e vida cristã, ou ainda enfocadas em tantos temas da vida e missão; como os publicados pela ABU Editora, Ultimato, e tantas outras casas publicadoras), seja quanto à leitura de livros sobre qualquer tema ou ainda de outros gêneros, como história, biografias, romances ou poesia. Nesse caso, vale perguntar a razão do porquê ler, o que ganhamos com isso, ou ainda sobre qual seria a melhor atitude em cada gênero de literatura.
Outra pergunta importante é se seria possível esperar essa redescoberta da leitura em um tempo onde ela parece tão desvalorizada. Peço perdão por não me aventurar a tentar responde-las agora, ou pelo suspense ou frustração que involuntariamente crio caso você tenha chegado até aqui. É que creio serem perguntas pertinentes que merecem mais atenção e a dedicação de um outro, quem sabe próximo, artigo. Enquanto esperamos, se me permitem a ousadia, por que não abrimos um livro? Claro, com a atitude adequada. De minha parte, espero que a leitura me desafie e me faça crescer.
Leia mais:
» Cultura, Contracultura e Livros
» Um livro para ler a vida toda: O Regresso do Peregrino
Fanáticos religiosos chamam ateus de fanáticos. Fanáticos ateus chamam religiosos de fanáticos. Assim, abraçado a seu fanatismo, cada um classifica o que está do “outro lado” como lhe convém, sem nunca precisar exercitar, com humildade e dedicação, a nobre tarefa de buscar entender o outro, antes de concordar ou discordar.
Claro que entendo a discordância como parte da vida comunitária saudável ou, pelo menos, assim deveria ser. Mas como discordar se, para começo de conversa, eu nunca entendi bem o que quer que seja que meu oposto pensa ou, ainda que absurdo, sem que eu mesmo compreenda bem onde deposito minhas convicções e segurança?
Por isso os livros são necessários. Eles expandem e questionam nossos horizontes, nos levam a mundos novos ainda não explorados. Ainda assim, que livros ler? Ou com que atitude embarco nessa aventura? Perguntas simples, mas que fazem toda a diferença. Recordo o dia, ainda estudante universitário, líder em meu grupo de ABU (Aliança Bíblica Universitária), quando comentei com uma amiga, também estudante à época e hoje uma psicóloga renomada, que eu buscava alguns livros para tentar entender melhor o nosso mundo “pós-moderno”, um termo que era novidade para nós naquele momento. Sua recomendação foi tão simples como preciosa: “busque ler livros que apresentem várias perspectivas, e não apenas os que são escritos por autores cristãos sobre o assunto”. Guardei essa sugestão como um pequeno tesouro ao longo da minha vida.
Na verdade, fui descobrindo aos poucos a imensa necessidade que temos, e o enorme benefício que ganhamos, ao buscar ler de fontes variadas. Algo válido não apenas quanto se trata da fé e suas vertentes doutrinárias, mas também quanto aos diferentes olhares sobre o mundo e a história, com perspectivas políticas e ideológicas distintas.
Queria ler sobre o ateísmo? Deveria buscar um autor ateu. Sobre o liberalismo econômico? Buscaria autores liberais. Sobre política à esquerda e à direita? Deveria encontrar fontes consideradas progressistas e outras conservadoras. E assim por diante. Não é difícil seguir esse fio da meada. Mas ainda assim me surpreendo ao descobrir que não são muitos os que parecem seguir esse tipo de critério.
>> 10 dicas para os pastores incentivarem a leitura em suas igrejas <<
Ler, e ler muito, de maneira variada, aberta e humilde, permitindo que as diferentes perspectivas te desafiem e te ajudem a entender melhor aquilo em que você acredita de verdade. Talvez para revisar, se necessário, ou ainda para aprofundar, com razoabilidade, as próprias convicções. Recordo o desafio a que nos propomos, junto com estudantes universitários cristãos da CBU (o equivalente a ABU no Uruguai), para que lêssemos juntos o livro “Dios no es Bueno”, de Christopher Hitchens. Se era para entender o ateísmo, popular na terra do mate amargo, que pelo menos fôssemos às fontes. Eu ainda me lembro de como fazíamos graça ao tirar fotos de nossas tertúlias de leitura e discussão, “vai que o pastor vê essa foto e descobre o que andamos lendo!”.
E a Bíblia, não seria melhor dedicar-nos a ela? Claro que podemos dizer que sim, é o livro mais fascinante, em especial para aquele que já é cristão e crê que nela encontra a revelação do caráter de Deus e de seus propósitos para a vida. Ou ainda para aquele que, sem crer, se aproxima do livro como um buscador curioso e honesto. Ainda assim, creio ser tão importante avaliar a atitude e o método dessa aproximação das Escrituras.
Ou seja - e aqui uma recomendação especial para os que creem -, não a leio para reforçar a minha doutrina (no sentido do conjunto de ensinamentos que já entendo e adoto em minha vida). Leio-a com espírito aberto, para ser desafiado através dessa leitura, para ser perturbado e transformado, também com cuidado para uma aproximação adequada. Ela consiste em uma leitura comunitária, desde diferentes contextos (lugares, culturas, épocas, indivíduos, gerações, grupos), confiando na direção do Espírito que nos guia nessa leitura e resposta à Palavra.
Primeiro, e mais importante, a nossa atitude. Talvez alguns, digam “mas e a doutrina?”. Creio que sempre a entenderemos melhor e de maneira mais adequada se ajustarmos nossa atitude ao abrir e ler um livro. Ainda mais se esse livro é considerado, por aquele que lê, como a Palavra do próprio Deus. Assim, se me permitem a sugestão, primeiro e mais importante deve ser a atitude, depois sim chegaremos à desejada e boa doutrina.
Claro que também devemos encontrar a atitude adequada na leitura para qualquer outro tipo de literatura, seja dos livros considerados cristãos (comentários bíblicos, obras sobre espiritualidade e vida cristã, ou ainda enfocadas em tantos temas da vida e missão; como os publicados pela ABU Editora, Ultimato, e tantas outras casas publicadoras), seja quanto à leitura de livros sobre qualquer tema ou ainda de outros gêneros, como história, biografias, romances ou poesia. Nesse caso, vale perguntar a razão do porquê ler, o que ganhamos com isso, ou ainda sobre qual seria a melhor atitude em cada gênero de literatura.
Outra pergunta importante é se seria possível esperar essa redescoberta da leitura em um tempo onde ela parece tão desvalorizada. Peço perdão por não me aventurar a tentar responde-las agora, ou pelo suspense ou frustração que involuntariamente crio caso você tenha chegado até aqui. É que creio serem perguntas pertinentes que merecem mais atenção e a dedicação de um outro, quem sabe próximo, artigo. Enquanto esperamos, se me permitem a ousadia, por que não abrimos um livro? Claro, com a atitude adequada. De minha parte, espero que a leitura me desafie e me faça crescer.
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» Cultura, Contracultura e Livros
» Um livro para ler a vida toda: O Regresso do Peregrino
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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