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Opinião

Como celebrar a Páscoa este ano?

Por William Lane

Como vamos celebrar a Páscoa em tempos de recolhimento?

E Agora?

Será possível termos uma Páscoa verdadeira? Não teremos a Ceia da quinta-feira da Paixão, nem aquele culto de ressurreição no domingo de manhã, seguido de um café comunitário na igreja, apresentação das crianças, culto com um coral ou a apresentação de uma cantata. Talvez nem tenhamos se quer aquele almoço de Páscoa com a família estendida, com brincadeiras e até a distribuição de ovos de páscoa para as crianças. Não será a mesma Páscoa!

De fato, não será a mesma Páscoa! Boa parte de nossa celebração de Páscoa está centrada em nossa vida comunitária. Contudo, não significa que não será uma Páscoa genuína e sincera. Pelo contrário, poderemos reviver experiências singelas e autênticas de uma Páscoa centrada na pessoa de Jesus e o seu sacrifício por nós.

A primeira Páscoa

Se voltarmos para as origens da instituição da Páscoa no Antigo Testamento verificaremos que a primeira Páscoa foi celebrada às portas fechadas. Cada família partilhava uma refeição em que o prato principal era a carne de um cordeiro ou cabrito, ervas amargas e pão sem fermento (Êx 12.3, 8). Mas ninguém podia sair de casa (12.22). O sangue do animal devia ser passado no batente e umbral da porta como sinal para que a praga de destruição não atingisse aquela família (Êx 12.13). As ervas amargas eram para lembrar escravidão, e o pão ser fermento era comido nos dias sucessivos para lembrar que saíram do Egito às pressas sem tempo para a fermentação da massa do pão.

A celebração devia ser repetida todos os anos e servir de lembrança e instrução para as futuras gerações, “Quando os seus filhos lhes perguntarem: ‘O que significa esta cerimônia?’” (12.26), os pais deviam responder contando a história da salvação, “o Senhor... poupou nossas casas quando matou os egípcios” (12.27). O sacrifício e a refeição deviam despertar a curiosidade dos filhos e levar os pais a contarem a história da salvação.

É verdade, eles deviam comer apressadamente e estarem prontos porque no dia seguinte iam sair do Egito (Êx 12.11). Mas o que é significativo disso é que a Páscoa se origina num contexto de ameaça de morte e confinamento, e foi celebrada no ambiente da família. E por uma semana deviam comer pão sem fermento, pois tiveram de sair do Egito levando “a massa do pão nos ombros, nas amassadeiras embrulhadas em suas roupas” (Êx 12.34) e gerações posteriores deviam repetir isso para lembrar como Deus os livrou graciosamente.

A Páscoa em casa

A Páscoa foi transformada numa festa comunitária, celebrada com ofertas de sacrifícios e uma “reunião sagrada” (Lv 23.8) no lugar que Deus escolheu para habitar (Dt 16.1-8). Mesmo assim, a refeição no ambiente da família nunca deixou de ser observada. Jesus mesmo celebra a Páscoa com os seus discípulos na casa de um hospedeiro (Mt 26.18).

Nesse ambiente de recolhimento e reclusão podemos celebrar a Páscoa lendo os textos bíblicos de sua instituição e prática tanto no Antigo Testamento (Êx 12; Lv 23; Js 5.10-12; 2Rs 23.21-23; 2Cr 35.1-18; Ed 6.9-22) quanto do Novo Testamento (Mt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.7-38; Jo 2.12-25; 13.1-17). Devemos lembrar de como somos exortados pelo apóstolo Paulo a vivermos uma vida como “massa nova e sem fermento”, pois “Cristo o nosso Cordeiro pascal foi sacrificado” (1Co 5.6-8). Temos de voltar a nossa atenção à obra graciosa de Cristo em nós e suplicar que nos visite novamente com sua misericórdia e nos livre das ameaças de morte.
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Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
  • Textos publicados: 62 [ver]

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