Opinião
- 07 de agosto de 2023
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Começando do começo: Filosofia da Religião
Por Arthur Henrique Soares dos Santos
Filosofia da religião é, sem dúvida, uma das áreas que têm recebido certa notoriedade no mercado editorial brasileiro. Não à toa, filósofos como Alvin Plantinga, William Lane Craig e Richard Swinburne têm sido traduzidos e publicados no Brasil. Contudo, ainda faltava uma introdução ampla e acessível em língua portuguesa. E a tradução da obra Filosofia da Religião: Uma Introdução de William Rowe vem suprir essa lacuna no mercado editorial brasileiro.
Lançado como o quarto livro da série Filosofia e Fé Cristã, da Editora Ultimato em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2), o livro provê uma introdução à filosofia da religião, a qual é definida por Rowe como o exame crítico das crenças e conceitos religiosos básicos. Tal obra, que foca principalmente em questões metafísicas e epistemológicas, passa por uma boa parte dos principais temas discutidos na área: os argumentos a favor da existência de Deus, a experiência religiosa, o problema do mal, a justificação racional da crença religiosa, a possibilidade de milagres, a questão da vida após a morte, o debate sobre livre-arbítrio humano e presciência divina, e o problema da diversidade religiosa.
Esse amplo leque de temas é importante para o livro, pois ele serve de livro-texto em cursos de filosofia da religião em muitas universidades no mundo, incluindo importantes instituições como Berkeley e Princeton. Por isso, um dos objetivos centrais de Rowe neste livro é ajudar o estudante de filosofia da religião a conhecer o básico da área. Esse fato mostra que esta obra é altamente indicada aos que buscam entender as principais questões, debates e respostas que estão presentes entre os filósofos da religião. Contudo, mesmo sendo indicado para o iniciante, o especialista em filosofia da religião também pode ser beneficiado pela leitura. Afinal de contas, mesmo com a simplicidade e acessibilidade na escrita, a perspicácia analítica de Rowe continua sendo intelectualmente desafiadora àqueles que lidam diretamente com o debate em filosofia da religião.
Dito isso, é importante mencionar um pouco do conteúdo do livro. O livro é, de acordo com o autor, dividido em quatro segmentos. O primeiro segmento contém apenas o capítulo 1, o qual discute o conceito de Deus, focando em interessantes debates acerca de alguns atributos divinos. O segundo segmento cobre os capítulos de dois a seis, e é dedicado às principais discussões filosóficas sobre os motivos para acreditar que Deus existe. Neste segmento, são encontradas discussões sobre o argumento cosmológico, o argumento ontológico e o argumento do design, os quais são os mais tradicionais argumentos a favor da existência de Deus. Além disso, Rowe ainda discute questões como a experiência religiosa e sua relação com a crença religiosa. Por fim, o segmento finaliza com uma discussão sobre o papel da fé na justificação da crença religiosa, mesmo no caso da ausência de evidência suficiente, como nas diferentes abordagens de William James e Alvin Plantinga.
O terceiro segmento é composto apenas pelo sétimo capítulo, sendo dedicado a uma análise do problema do mal, tomado por muitos como uma séria razão contra a crença na existência de Deus. Analisando as principais versões do argumento do mal contra a existência de Deus (a versão lógica e a versão evidencial ou probabilística), Rowe também traz discussões sobre as principais respostas teístas, como a defesa do livre-arbítrio e o teísmo cético. Por fim, o quarto segmento cobre os capítulos 8-11, e é dedicado a variados tópicos importantes nas religiões teístas, como a possibilidade de milagres, a questão da vida após a morte, o debate sobre a compatibilidade (ou incompatibilidade) entre predestinação, livre-arbítrio humano e presciência divina, e os problemas levantados pela diversidade religiosa.
Diante do que foi dito, é óbvio que Rowe não cobre todos os temas e sub-áreas da filosofia da religião. Mas o objetivo não é apresentar todos os tópicos da área, e sim discutir algumas das mais relevantes questões epistemológicas e metafísicas. E o livro consegue fazer isso de modo admirável.
Antes de finalizar, algumas observações são necessárias. Primeiro, por se tratar de um livro-texto destinado a cursos de filosofia da religião, o autor evita expor suas próprias visões constantemente. É óbvio que as teses de Rowe aparecem na obra, mas não de modo enfático nem de modo a diminuir as posições de seus adversários filosóficos. Na verdade, Rowe trata os argumentos daqueles dos quais discorda de maneira a valorizar suas contribuições filosóficas. Sem dúvida, é uma excelente amostra do tratamento que deve ser dado àqueles dos quais se discorda. Nesse sentido, uma das virtudes que são exigidas na leitura deste livro é a tolerância para com a discordância em temas tão importantes quanto os da filosofia da religião.
Segundo, também por se tratar de um livro-texto, ao final de cada capítulo existe uma seção de revisão de conteúdo, a fim de que o leitor relembre conceitos e discussões importantes do capítulo, e uma seção de questões para estudo posterior, a fim de que o leitor parta das ideias discutidas no capítulo para debates relacionados e assim possa aprofundar seus conhecimentos em filosofia da religião. Relacionado a isso, há ainda ao final do livro um glossário de conceitos e ideias importantes em cada capítulo, de modo a auxiliar aqueles que estão iniciando os estudos na área.
Assim, o conteúdo presente no livro, sua organização e a escrita clara e acessível de Rowe tornam Filosofia da Religião: Uma Introdução uma leitura altamente recomendável aos estudantes e aos demais interessados em filosofia da religião.
Saiba mais:
» Série “Filosofia e Fé Cristã”
» Discurso Divino - Reflexões filosóficas sobre a tese de que Deus fala, Nicholas Wolterstorff
» Teologia Analítica: a teologia em diálogo com a filosofia, Thomas H. McCall
» Ciência e Religião São Compatíveis?, Alvin Plantinga e Daniel Dennett
» Perguntas e respostas fundamentais sobre filosofia - parte 1
Filosofia da religião é, sem dúvida, uma das áreas que têm recebido certa notoriedade no mercado editorial brasileiro. Não à toa, filósofos como Alvin Plantinga, William Lane Craig e Richard Swinburne têm sido traduzidos e publicados no Brasil. Contudo, ainda faltava uma introdução ampla e acessível em língua portuguesa. E a tradução da obra Filosofia da Religião: Uma Introdução de William Rowe vem suprir essa lacuna no mercado editorial brasileiro.
Lançado como o quarto livro da série Filosofia e Fé Cristã, da Editora Ultimato em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2), o livro provê uma introdução à filosofia da religião, a qual é definida por Rowe como o exame crítico das crenças e conceitos religiosos básicos. Tal obra, que foca principalmente em questões metafísicas e epistemológicas, passa por uma boa parte dos principais temas discutidos na área: os argumentos a favor da existência de Deus, a experiência religiosa, o problema do mal, a justificação racional da crença religiosa, a possibilidade de milagres, a questão da vida após a morte, o debate sobre livre-arbítrio humano e presciência divina, e o problema da diversidade religiosa.
Esse amplo leque de temas é importante para o livro, pois ele serve de livro-texto em cursos de filosofia da religião em muitas universidades no mundo, incluindo importantes instituições como Berkeley e Princeton. Por isso, um dos objetivos centrais de Rowe neste livro é ajudar o estudante de filosofia da religião a conhecer o básico da área. Esse fato mostra que esta obra é altamente indicada aos que buscam entender as principais questões, debates e respostas que estão presentes entre os filósofos da religião. Contudo, mesmo sendo indicado para o iniciante, o especialista em filosofia da religião também pode ser beneficiado pela leitura. Afinal de contas, mesmo com a simplicidade e acessibilidade na escrita, a perspicácia analítica de Rowe continua sendo intelectualmente desafiadora àqueles que lidam diretamente com o debate em filosofia da religião.
Dito isso, é importante mencionar um pouco do conteúdo do livro. O livro é, de acordo com o autor, dividido em quatro segmentos. O primeiro segmento contém apenas o capítulo 1, o qual discute o conceito de Deus, focando em interessantes debates acerca de alguns atributos divinos. O segundo segmento cobre os capítulos de dois a seis, e é dedicado às principais discussões filosóficas sobre os motivos para acreditar que Deus existe. Neste segmento, são encontradas discussões sobre o argumento cosmológico, o argumento ontológico e o argumento do design, os quais são os mais tradicionais argumentos a favor da existência de Deus. Além disso, Rowe ainda discute questões como a experiência religiosa e sua relação com a crença religiosa. Por fim, o segmento finaliza com uma discussão sobre o papel da fé na justificação da crença religiosa, mesmo no caso da ausência de evidência suficiente, como nas diferentes abordagens de William James e Alvin Plantinga.
O terceiro segmento é composto apenas pelo sétimo capítulo, sendo dedicado a uma análise do problema do mal, tomado por muitos como uma séria razão contra a crença na existência de Deus. Analisando as principais versões do argumento do mal contra a existência de Deus (a versão lógica e a versão evidencial ou probabilística), Rowe também traz discussões sobre as principais respostas teístas, como a defesa do livre-arbítrio e o teísmo cético. Por fim, o quarto segmento cobre os capítulos 8-11, e é dedicado a variados tópicos importantes nas religiões teístas, como a possibilidade de milagres, a questão da vida após a morte, o debate sobre a compatibilidade (ou incompatibilidade) entre predestinação, livre-arbítrio humano e presciência divina, e os problemas levantados pela diversidade religiosa.
Diante do que foi dito, é óbvio que Rowe não cobre todos os temas e sub-áreas da filosofia da religião. Mas o objetivo não é apresentar todos os tópicos da área, e sim discutir algumas das mais relevantes questões epistemológicas e metafísicas. E o livro consegue fazer isso de modo admirável.
Antes de finalizar, algumas observações são necessárias. Primeiro, por se tratar de um livro-texto destinado a cursos de filosofia da religião, o autor evita expor suas próprias visões constantemente. É óbvio que as teses de Rowe aparecem na obra, mas não de modo enfático nem de modo a diminuir as posições de seus adversários filosóficos. Na verdade, Rowe trata os argumentos daqueles dos quais discorda de maneira a valorizar suas contribuições filosóficas. Sem dúvida, é uma excelente amostra do tratamento que deve ser dado àqueles dos quais se discorda. Nesse sentido, uma das virtudes que são exigidas na leitura deste livro é a tolerância para com a discordância em temas tão importantes quanto os da filosofia da religião.
Segundo, também por se tratar de um livro-texto, ao final de cada capítulo existe uma seção de revisão de conteúdo, a fim de que o leitor relembre conceitos e discussões importantes do capítulo, e uma seção de questões para estudo posterior, a fim de que o leitor parta das ideias discutidas no capítulo para debates relacionados e assim possa aprofundar seus conhecimentos em filosofia da religião. Relacionado a isso, há ainda ao final do livro um glossário de conceitos e ideias importantes em cada capítulo, de modo a auxiliar aqueles que estão iniciando os estudos na área.
Assim, o conteúdo presente no livro, sua organização e a escrita clara e acessível de Rowe tornam Filosofia da Religião: Uma Introdução uma leitura altamente recomendável aos estudantes e aos demais interessados em filosofia da religião.
- Arthur Henrique Soares dos Santos
REVISTA ULTIMATO | MAMOM VERSUS DEUS
Ao todo, Jesus contou 38 parábolas. Mais de um terço delas trata de assuntos ligados a posses e riquezas. Há cerca de quinhentos versículos sobre oração na Bíblia. Sobre dinheiro e posses são mais de 2.300.
As Escrituras se ocupam desse assunto porque ele é crucial para a fé. Trata-se de onde colocamos nossos afetos e a quem seguimos. Jesus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6.21).
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