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- 23 de abril de 2007
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Clima: energia nuclear, uma opção questionável
por Julio Godoy, da IPS
(Envolverde) Vários governos planejam novos investimentos em energia nuclear, ignorando a oposição de especialistas em meio ambiente segundo os quais essa alternativa não é uma solução para produzir energia livre de carbono. Importantes cientistas de todo o mundo acreditam que a emissão de carbono pela queima de combustíveis fósseis leva ao aquecimento do planeta, e, portanto, à perturbadora mudança climática. Mas, especialistas ambientais afirmam que a energia nuclear não é uma opção válida, pois a condena uma tecnologia insegura, reduzidas reservas de urânio e emissões de gases que causam o efeito estufa associadas as exploração dessas reservas. Esses gases, responsáveis pelo aquecimento global, são principalmente o dióxido de carbono e o metano.
“A energia nuclear não pode ser considerada uma alternativa ambientalmente viável para deter o aquecimento da Terra e a mudança climática”, disse à IPS Ottmar Edenhofer, economista-chefe do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, da Alemanha. Edenhofer, co-autor da primeira parte do Quarto informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) apresentado no dia 2 de fevereiro, acredita que os reatores nucleares acabarão “desempenhando um papel menor na agenda energética global”.
Até agora, os 435 reatores nucleares de água leve em operação no planeta produzem 17% da eletricidade mundial, explicou o especialista. “Se considerarmos que nas próximas três décadas a geração de eletricidade poderá duplicar, seriam necessários cerca de 400 novos reatores nucleares de água leve apenas para manter constante essa porcentagem de energia nuclear”, acrescentou Ednhofer. Mas, apenas 28 novos reatores de água levem estão em construção ou em planejamento em todo o mundo, ressaltou. A energia nuclear pode se transformar em uma alternativa somente se os reatores de realimentação rápida forem usados maciçamente, acrescentou.
A vantagem teórica dos reatores de realimentação rápida é que geram combustível produzindo mais materiais físseis do que os que consome, o que melhora a eficiência e ataca o problema da eliminação de lixo radioativo. Mas, a tecnologia desenvolvida até agora impediu o uso comercial desses reatores. Praticamente, todos os desse tipo testados no mundo foram fechados, ou funcionam em alerta constante por causa de reiterados acidentes ou deficiências técnicas.
Os defensores da central francesa Super Phenix pretendiam produzir em cerca de 20% o combustível do que consome. Mas o reator nunca funcionou comercialmente, e o governo francês ordenou seu fechamento em 1998. O reator custou cerca de US$ 12 bilhões e nunca produziu um watt de eletricidade. O reator de alimentação rápida japonês Monju teve um destino semelhante. Depois de numerosos acidentes, foi fechado em 1995. “No mundo industrializado não há consenso para continuar trabalhando em tecnologia de reatores de realimentação rápida”, afirmou Ednhofer.
Os reatores nucleares podem ser paulatinamente eliminados sem afetar o consumo se forem feitos suficientes investimentos em produção de energia de fontes renováveis, como o sol, a água, o vento e a energia geotérmica, continuou o especialista. “Em 2030, essas fontes poderiam representar até 30% da produção mundial total de eletricidade”, acrescentou Edenhofer. Em uma reunião sobre mudança climática e políticas ambientais organizada em março pelo jornal alemão Die Frankfurter Allgemein Zeitung, 14 especialistas concluíram que “os reatores nucleares não são de ajuda”.
Os riscos dessa tecnologia e do lixo radioativo são apenas dois dos problemas apresentados pela energia nuclear. Mas, se conhece menos os gases causadores do efeito estufa emitidos na produção nuclear. Os cientistas Jan Willem Storm van Leeuwn, da Holanda, e Phlip Smith, dos Estados Unidos, disseram que as emissões de dióxido de carbono que ocorrem da extração e processamento de urânio, usado como material combustível em todos os reatores nucleares, também levam al aquecimento global.
No documento “Nuclear Power: The Energy Balance” (Energia nuclear: o balanço energético), divulgado em 2005 e atualizado desde então, estes cientistas dizem que a exploração das reservas de urânio levarão ao esgotamento de diversos minerais hoje de fácil acesso, e, em última instância, gerarão grandes emissões de dióxido de carbono. “Ao se esgotarem os ricos minerais de urânio, a proporção de emissões geradas pelo uso de energia nuclear e das de uma usina de queima de gás da mesma rede, a capacidade elétrica aumenta”, asseguraram. Isso torna o uso da energia nuclear “desfavorável comparado com simplesmente queimar os restantes combustíveis fósseis diretamente”.
As minas com alta concentração de urânio e de fácil acesso significam menos emissões. Mas, os materiais inacessíveis exigem maior insumo de energia para sua extração preparação. “A longo prazo, o uso de energia nuclear não nos oferece soluções” para o problema das crescentes demandas energéticas e as limitações impostas pelo aquecimento global e a mudança climática, afirmaram Leeuwen e Smith. Mas, na França e na Finlândia, em ex-países soviéticos e em nações emergentes em desenvolvimento, como China e Índia, a energia nuclear continua sendo considerada uma alternativa.
O governo francês autorizou um novo reator nuclear no dia 12 deste mês, a ser construído em Flamanville, no litoral atlântico, cerca de 300 quilômetros a oeste de Paris. Prevê-se que o reator comece a produzir em 2012. O custo calculado de sua instalação é de US$ 4,3 bilhões. O reator “dará uma contribuição decisiva à independência energética da França e da Europa, fornecendo uma eletricidade segura competitiva que não gere gases causadores do efeito estufa”, afirmou Pierre Gadonneix, executivo-chefe da Electricité, a empresa que tem o monopólio da eletricidade na França.
Porém, os ambientalistas dizem que a nova tecnologia pode ser defeituosa. Um reator finlandês semelhante na península de Olkiluoto, em construção desde 2005, foi apelidado pelos moradores da área de “o desastre nuclear francês”, por causa de numerosos problemas que adiaram sua conclusão. O reator é construído pelo gigante nuclear estatal da França Areva, que também está para construir o novo reator de Flamanville. Ativistas do Greenpeace ocuparam a ara de Olkiluoto no último dia 3, em protesto contra os perigos associados ao reator.
Desde o início da construção proliferam os problemas, o que causou atraso nas obras de um ano e meio”, afirmou o capítulo francês do Greenpeace em uma declaração scrita. Frédéric Marillir, coordenador de assuntos nucleares no Greenpeace França, que também participou da manifestação em Olkiluoto, disse à IPS que “somente em 2006, pelo menos 700 violações da qualidade e da segurança foram documentadas no reator de Olkiluoto. Este projeto dá aos franceses uma prévia do que nos espera com a construção do reator em Flamanville”.
(Envolverde) Vários governos planejam novos investimentos em energia nuclear, ignorando a oposição de especialistas em meio ambiente segundo os quais essa alternativa não é uma solução para produzir energia livre de carbono. Importantes cientistas de todo o mundo acreditam que a emissão de carbono pela queima de combustíveis fósseis leva ao aquecimento do planeta, e, portanto, à perturbadora mudança climática. Mas, especialistas ambientais afirmam que a energia nuclear não é uma opção válida, pois a condena uma tecnologia insegura, reduzidas reservas de urânio e emissões de gases que causam o efeito estufa associadas as exploração dessas reservas. Esses gases, responsáveis pelo aquecimento global, são principalmente o dióxido de carbono e o metano.
“A energia nuclear não pode ser considerada uma alternativa ambientalmente viável para deter o aquecimento da Terra e a mudança climática”, disse à IPS Ottmar Edenhofer, economista-chefe do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, da Alemanha. Edenhofer, co-autor da primeira parte do Quarto informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) apresentado no dia 2 de fevereiro, acredita que os reatores nucleares acabarão “desempenhando um papel menor na agenda energética global”.
Até agora, os 435 reatores nucleares de água leve em operação no planeta produzem 17% da eletricidade mundial, explicou o especialista. “Se considerarmos que nas próximas três décadas a geração de eletricidade poderá duplicar, seriam necessários cerca de 400 novos reatores nucleares de água leve apenas para manter constante essa porcentagem de energia nuclear”, acrescentou Ednhofer. Mas, apenas 28 novos reatores de água levem estão em construção ou em planejamento em todo o mundo, ressaltou. A energia nuclear pode se transformar em uma alternativa somente se os reatores de realimentação rápida forem usados maciçamente, acrescentou.
A vantagem teórica dos reatores de realimentação rápida é que geram combustível produzindo mais materiais físseis do que os que consome, o que melhora a eficiência e ataca o problema da eliminação de lixo radioativo. Mas, a tecnologia desenvolvida até agora impediu o uso comercial desses reatores. Praticamente, todos os desse tipo testados no mundo foram fechados, ou funcionam em alerta constante por causa de reiterados acidentes ou deficiências técnicas.
Os defensores da central francesa Super Phenix pretendiam produzir em cerca de 20% o combustível do que consome. Mas o reator nunca funcionou comercialmente, e o governo francês ordenou seu fechamento em 1998. O reator custou cerca de US$ 12 bilhões e nunca produziu um watt de eletricidade. O reator de alimentação rápida japonês Monju teve um destino semelhante. Depois de numerosos acidentes, foi fechado em 1995. “No mundo industrializado não há consenso para continuar trabalhando em tecnologia de reatores de realimentação rápida”, afirmou Ednhofer.
Os reatores nucleares podem ser paulatinamente eliminados sem afetar o consumo se forem feitos suficientes investimentos em produção de energia de fontes renováveis, como o sol, a água, o vento e a energia geotérmica, continuou o especialista. “Em 2030, essas fontes poderiam representar até 30% da produção mundial total de eletricidade”, acrescentou Edenhofer. Em uma reunião sobre mudança climática e políticas ambientais organizada em março pelo jornal alemão Die Frankfurter Allgemein Zeitung, 14 especialistas concluíram que “os reatores nucleares não são de ajuda”.
Os riscos dessa tecnologia e do lixo radioativo são apenas dois dos problemas apresentados pela energia nuclear. Mas, se conhece menos os gases causadores do efeito estufa emitidos na produção nuclear. Os cientistas Jan Willem Storm van Leeuwn, da Holanda, e Phlip Smith, dos Estados Unidos, disseram que as emissões de dióxido de carbono que ocorrem da extração e processamento de urânio, usado como material combustível em todos os reatores nucleares, também levam al aquecimento global.
No documento “Nuclear Power: The Energy Balance” (Energia nuclear: o balanço energético), divulgado em 2005 e atualizado desde então, estes cientistas dizem que a exploração das reservas de urânio levarão ao esgotamento de diversos minerais hoje de fácil acesso, e, em última instância, gerarão grandes emissões de dióxido de carbono. “Ao se esgotarem os ricos minerais de urânio, a proporção de emissões geradas pelo uso de energia nuclear e das de uma usina de queima de gás da mesma rede, a capacidade elétrica aumenta”, asseguraram. Isso torna o uso da energia nuclear “desfavorável comparado com simplesmente queimar os restantes combustíveis fósseis diretamente”.
As minas com alta concentração de urânio e de fácil acesso significam menos emissões. Mas, os materiais inacessíveis exigem maior insumo de energia para sua extração preparação. “A longo prazo, o uso de energia nuclear não nos oferece soluções” para o problema das crescentes demandas energéticas e as limitações impostas pelo aquecimento global e a mudança climática, afirmaram Leeuwen e Smith. Mas, na França e na Finlândia, em ex-países soviéticos e em nações emergentes em desenvolvimento, como China e Índia, a energia nuclear continua sendo considerada uma alternativa.
O governo francês autorizou um novo reator nuclear no dia 12 deste mês, a ser construído em Flamanville, no litoral atlântico, cerca de 300 quilômetros a oeste de Paris. Prevê-se que o reator comece a produzir em 2012. O custo calculado de sua instalação é de US$ 4,3 bilhões. O reator “dará uma contribuição decisiva à independência energética da França e da Europa, fornecendo uma eletricidade segura competitiva que não gere gases causadores do efeito estufa”, afirmou Pierre Gadonneix, executivo-chefe da Electricité, a empresa que tem o monopólio da eletricidade na França.
Porém, os ambientalistas dizem que a nova tecnologia pode ser defeituosa. Um reator finlandês semelhante na península de Olkiluoto, em construção desde 2005, foi apelidado pelos moradores da área de “o desastre nuclear francês”, por causa de numerosos problemas que adiaram sua conclusão. O reator é construído pelo gigante nuclear estatal da França Areva, que também está para construir o novo reator de Flamanville. Ativistas do Greenpeace ocuparam a ara de Olkiluoto no último dia 3, em protesto contra os perigos associados ao reator.
Desde o início da construção proliferam os problemas, o que causou atraso nas obras de um ano e meio”, afirmou o capítulo francês do Greenpeace em uma declaração scrita. Frédéric Marillir, coordenador de assuntos nucleares no Greenpeace França, que também participou da manifestação em Olkiluoto, disse à IPS que “somente em 2006, pelo menos 700 violações da qualidade e da segurança foram documentadas no reator de Olkiluoto. Este projeto dá aos franceses uma prévia do que nos espera com a construção do reator em Flamanville”.
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