Opinião
- 05 de janeiro de 2010
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Cinema e igreja entre o real e a ficção
Leandro Gonçalves Lança
De acordo com o teórico do cinema Jean Louis Comolli as representações teatrais e os filmes de ficção têm como motivo essencial instalar uma distancia entre o mundo e nós. O cinema suspende o tempo ordinário da vida. Por um momento premeditado ele nos tira as realidades que insistem em bater à porta sem serem chamadas.
O cinema documentário, por outra via, pretende nos incomodar com o real; tem por objetivo tornar visível realidades encobertas por motivos de toda sorte. Pessoas, lugares, conflitos, situações das mais variadas... no mundo há muita coisa que o sistema não quer mostrar e muita gente não quer ver. É aí que entra o cinema documentário, que só pode mostrar o não visto e dar voz aos mudos devido aos baixos custos que envolvem as produções e ao fato desse gênero não ter sido abocanhado pelas grandes corporações.
Vejo aqui uma grande similaridade com o universo religioso cristão.
O que pretendem as grandes corporações evangélicas com seus cultos espetacularizados, se não nos tirar deste mundo por um breve instante de tempo?
Atores, diretores, cenários, figurinos, trilha sonora, está tudo ali, como num grande filme de ação. Essa produção toda custa caro, claro, e o investimento, para nossa sorte, não vem de leis de incentivo. Muita gente paga ingresso, e, por um acaso do destino (e tristeza dos cinéfilos), muitas vezes em salas de cinema compradas ou alugadas. As características em comum não acabam e poderia discorrer bastante aqui, mas meu interesse ainda é o real (não desmerecendo os bons filmes de ficção, claro).
Do outro lado da margem, há aqueles que querem viver um evangelho puro e simples, alternativo, “primitivo” talvez. Creio que os objetivos destes se aproximam muito do universo dos documentários, ou deveriam. Aqui não se carece e nem há pretensão de atores profissionais, o cenário é a parte da sombra, são as realidades invisíveis, aquilo que os homens tentam afastar dos olhos para não chegar ao coração.
O orçamento é baixo e se vive sob o risco do real. Vejo nisso uma grande potencialidade, pois é o que possibilita alguma inovação em um meio tão roteirizado como o evangélico.
Assim como o cinema nasceu documentário com os irmãos Lumiére, a igreja nasceu simples e visionária com Jesus. Ninguém melhor que ele nos ensinou a ver e nos incomodar com a realidade do ser humano sem necessidade de altos custos.
Pensadores do cinema de todo o mundo apontam o documentário como o gênero que pode ainda trazer o novo e nos livrar dos espetáculos roteirizados, redundantes e prostituídos que alienam milhares pela TV e o “cinema comercial”.
Acredito da mesma forma que as igrejas, de fato, alternativas (comprometidas com Cristo e nada mais) também são motivos de esperança.
O mundo jaz no maligno, e certamente todo espetacularizado, mas as palavras do mestre ainda ecoam nos desertos: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livre do mal” (Jo17.15).
• Leandro Gonçalves Lança é graduando em Ciências Sociais e reside em Belo Horizonte.
Leia o livro
• Cinema e Fé Cristã, Brian Godawa
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De acordo com o teórico do cinema Jean Louis Comolli as representações teatrais e os filmes de ficção têm como motivo essencial instalar uma distancia entre o mundo e nós. O cinema suspende o tempo ordinário da vida. Por um momento premeditado ele nos tira as realidades que insistem em bater à porta sem serem chamadas.
O cinema documentário, por outra via, pretende nos incomodar com o real; tem por objetivo tornar visível realidades encobertas por motivos de toda sorte. Pessoas, lugares, conflitos, situações das mais variadas... no mundo há muita coisa que o sistema não quer mostrar e muita gente não quer ver. É aí que entra o cinema documentário, que só pode mostrar o não visto e dar voz aos mudos devido aos baixos custos que envolvem as produções e ao fato desse gênero não ter sido abocanhado pelas grandes corporações.
Vejo aqui uma grande similaridade com o universo religioso cristão.
O que pretendem as grandes corporações evangélicas com seus cultos espetacularizados, se não nos tirar deste mundo por um breve instante de tempo?
Atores, diretores, cenários, figurinos, trilha sonora, está tudo ali, como num grande filme de ação. Essa produção toda custa caro, claro, e o investimento, para nossa sorte, não vem de leis de incentivo. Muita gente paga ingresso, e, por um acaso do destino (e tristeza dos cinéfilos), muitas vezes em salas de cinema compradas ou alugadas. As características em comum não acabam e poderia discorrer bastante aqui, mas meu interesse ainda é o real (não desmerecendo os bons filmes de ficção, claro).
Do outro lado da margem, há aqueles que querem viver um evangelho puro e simples, alternativo, “primitivo” talvez. Creio que os objetivos destes se aproximam muito do universo dos documentários, ou deveriam. Aqui não se carece e nem há pretensão de atores profissionais, o cenário é a parte da sombra, são as realidades invisíveis, aquilo que os homens tentam afastar dos olhos para não chegar ao coração.
O orçamento é baixo e se vive sob o risco do real. Vejo nisso uma grande potencialidade, pois é o que possibilita alguma inovação em um meio tão roteirizado como o evangélico.
Assim como o cinema nasceu documentário com os irmãos Lumiére, a igreja nasceu simples e visionária com Jesus. Ninguém melhor que ele nos ensinou a ver e nos incomodar com a realidade do ser humano sem necessidade de altos custos.
Pensadores do cinema de todo o mundo apontam o documentário como o gênero que pode ainda trazer o novo e nos livrar dos espetáculos roteirizados, redundantes e prostituídos que alienam milhares pela TV e o “cinema comercial”.
Acredito da mesma forma que as igrejas, de fato, alternativas (comprometidas com Cristo e nada mais) também são motivos de esperança.
O mundo jaz no maligno, e certamente todo espetacularizado, mas as palavras do mestre ainda ecoam nos desertos: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livre do mal” (Jo17.15).
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