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Opinião

Cinco séries que vale a pena conhecer

Por Carlos Caldas

Neste espaço que tenho o privilégio de ocupar no portal Ultimato Online tenho falado sobre filmes, com apenas uma exceção: maio de 2016, quando escrevi sobre as seis primeiras temporadas de The Waking Dead. Agora recebi o desafio de sugerir e comentar – de maneira sucinta – sobre cinco séries. Pode parecer muito fácil para um nerd falar sobre séries. Só que não. O desafio é enganosamente simples. Na verdade, é muito mais difícil do que parece. Apesar de ser nerd assumido e cinéfilo ardoroso, em geral tenho relutância em acompanhar séries, porque, se forem boas, prendem, e têm o potencial perigoso de serem viciantes... Por esta causa, são poucas as séries sequenciais que tenho acompanhado com fidelidade. Prefiro as que apresentam estórias completas em um único episódio, como a leve e divertida The Big Bang Theory, que versa exatamente sobre um grupo de nerds, ou a mais séria Law & Order – SVU (Special Victms Unity), que apresenta batalhas jurídicas interessantíssimas (gosto de ver filmes com confrontos de argumentos entre acusação e defesa). Pois bem, o desafio proposto é o de apresentar cinco séries que vale a pena conhecer. Evidentemente a lista que se segue é subjetiva, parte de preferências muito particulares, que poderão ou não coincidir com as dos/as leitores/as do portal. Vejamos:

DEMOLIDOR (duas temporadas até o momento)

Uma parceria curiosa entre a Netflix e a Marvel produziu até agora quatro séries dos “heróis urbanos”, que não são exatamente super heróis: Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro (a mais fraca de todas, “desrecomendada” com ênfase) e, aquela que de longe é a melhor de todas: Demolidor. Quem conhece o personagem dos quadrinhos sabe que Matt Murdock é um advogado brilhante, que perdeu a visão quando menino por contato acidental com um produto radioativo. Mas o acidente que o cegou provocou uma ativação extrema dos demais sentidos e lhe deu um sentido de radar, que virtualmente compensa a falta de visão. Esta série, ao contrário da anêmica Punho de Ferro, por exemplo, tem diálogos densos e inteligentes, um bom ator no papel principal (o britânico Charlie Cox), um enredo interessante, bastante fiel ao universo dos quadrinhos e cenas de luta bem coreografadas. Mas o que mais chama a atenção em Demolidor é o fato que, ao contrário da maioria esmagadora das séries, as questões da fé cristã têm lugar de destaque. Matt Murdock é de origem irlandesa e, como qualquer irlandês que se preze, é católico. Para amedrontar os criminosos, ele usa um uniforme que faz lembrar um capeta conforme o imaginário ocidental: seu uniforme é vermelho e sua máscara tem chifrinhos. Nos quadrinhos antigos o Demolidor era descrito como “demônio a serviço do bem”. Stan Lee, o mago da Marvel, inovou ao criar um herói religioso (se bem que Noturno, um dos integrantes do grupo mutante X Men também é católico praticante): Matt Murdock é um homem de fé. Ele sempre vai ao confessionário, e o padre que o atende é não apenas seu confessor (e conhecedor de sua identidade dupla), mas seu conselheiro. Como consequência de sua fé, o Demolidor, que é um exímio lutador, nocauteia os criminosos, mas não os mata, porque acredita na possibilidade cristã de redenção. Ele sempre espera que a graça de Deus alcance e atinja os bandidos, mesmo os mais empedernidos e cruéis.

THE TUDORS (quatro temporadas)


Esta série histórica conta a história do famoso Rei Henrique VIII da Inglaterra. A narrativa quase sempre é muito arrastada e, por isso mesmo, cansativa. Mas é interessante por mostrar o momento do surgimento do anglicanismo. Em meio a debates teológicos e a tentativa dos nobres de resolver questões políticas e diplomáticas delicadas e complexas, a série apresenta figuras conhecidas de estudiosos de história da igreja, como o já citado Henrique VIII (e suas peripécias), e outros, como Thomas Cranmer, que era o Arcebispo da Cantuária na época, e Thomas More, autor da famosa obra “Utopia”. Puristas poderão dizer que a série contem erros históricos. Pode ser. Mas é uma série televisiva, não um documentário.

VIKINGS (quatro temporadas até o momento)

Os vikings sempre ocuparam lugar de destaque no imaginário ocidental. Vikings narra a saga de Ragnar Lothbrok, um jovem escandinavo que teve uma ascensão meteórica: de lavrador a rei. Há dois elementos que a meu ver são centrais para compreender Vikings: um, a questão familiar. Vikings é uma série que fala de relacionamentos: Ragnar é traído por seu irmão Rollo, o perdoa, mas é traído de novo. Ragnar abandona sua bela esposa Lagertha, a Construtora de Escudos, para ficar com a Princesa Auslagh, que mais tarde também o trairá. Ragnar confia no Rei Ecbert, do reino inglês de Essex, mas Ecbert também o trairá. A propósito, Ecbert é uma interpretação brilhante de Linus Roache, que simplesmente “rouba a cena” – o Ecbert de Roache é um canalha da pior espécie, capaz de trair o próprio filho, mas consegue o que pouquíssimos atores conseguem, que é fazer um vilão carismático. O outro elemento é o religioso: a série apresenta o Padre Athelstan, capturado por Ragnar como escravo, mas o relacionamento dos dois se transforma em uma amizade bonita. Athelstan é indeciso, fraco, não sabe se fica firme na fé cristã ou se segue a religião nórdica, que lhe parece mais simples e interessante. Só que o padre inglês provoca os ciúmes de Floki, o construtor de barcos, que é uma espécie de fundamentalista pagão. As ações de Floki contra Athelstan terminarão de maneira trágica. A série pode ser violenta demais para pessoas mais sensíveis. Mas vale a pena ser assistida.

SHERLOCK

Nesta linha, de séries de episódios completos, uma das mais bem construídas recentemente é Sherlock (disponível na Netflix), com Martin Freeman como o Dr. Watson e o sempre bom Benedict Cumberbatch como o mais famoso detetive de todos os tempos. O diferencial da série está na adaptação, muitíssimo bem feita, das aventuras da dupla, que não mais acontecem na Londres vitoriana, tal como imaginadas por Arthur Conan Doyle, mas na Londres contemporânea, desta segunda metade da segunda década do século XXI. O Sherlock de Cumbertach tem QI muito acima da média (mas muito acima mesmo, assim como Cumberbatch é um ator muito acima da média), é arrogante e de muito difícil convivência. Ele mesmo se define como um “sociopata funcional”. Os episódios em geral são muito longos, o que destoa das produções do gênero. Mas para quem gosta de estórias de detetive, é um prato cheio.

STAR TREK – DISCOVERY

Por fim, uma série que está sendo exibida desde o dia 25 de setembro de 2017, um episódio por semana. Star Trek – Discovery é diversão garantida. Star Trek é uma das séries mais amadas de toda a história. Uma das razões do seu sucesso é a ousadia em apresentar um cenário de diversidade. Quando “Jornada nas Estrelas” foi lançada, no fim dos anos de 1960, em plena Guerra Fria, causou escândalo por mostrar os navegadores na Ponte de Comando da Enterprise, um russo e um japonês, trabalhando lado a lado. A série causou grande estardalhaço por mostrar o primeiro beijo inter-étnico da história da TV: o branco Capitão Kirk beijando a negra Tenente Ohura. E agora, pouco mais de 50 anos depois do lançamento da série original, temos oportunidade de voltar ao universo daquela que é uma das pouquíssimas produções de ficção científica que se caracteriza como utopia, isto é, a crença em um futuro melhor que o presente (a maioria das produções de ficção científica é distopia, isto é, a crença em um futuro pior que o presente). Cristãos podem ficar incomodados com a ausência quase completa de referências à religião em Star Trek. Gene Roddenberry, seu criador, era ateu confesso. Ele cria que a ciência daria conta de tudo e que a tecnologia resolveria todos os problemas. Bem, nós todos sabemos que não, isto não aconteceu nem acontecerá. Nem por isso a série deve ser desprezada por cristãos mais sensíveis. O grande valor de Star Trek está em seu apelo político, em apresentar o sonho de uma convivência harmoniosa entre diferentes.

Como todos sabem, há muitas, mas muitas outras séries, muitas mesmo. As que foram apresentadas são apenas sugestões, para você assistir, ou assistir de novo.

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É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
  • Textos publicados: 83 [ver]

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