Opinião
- 30 de junho de 2017
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Cidadãos do reino, cidadãos do mundo
Por Wilson Costa
Deve o crente em Jesus Cristo envolver-se com causas justas neste mundo?
No início de 2012, Vitor, um jovem de 21 anos, foi espancado por cinco rapazes ao tentar impedir que batessem em um mendigo no Rio de Janeiro. Foi notícia no Brasil todo. Ele quase morreu, sofreu muitas cirurgias e ficou hospitalizado por muito tempo.
Seis meses depois, um juiz criminal determinou o cancelamento da prisão preventiva dos acusados, abrandando também a natureza do crime, livrando os de um júri popular. O estudante lançou uma petição na internet para cobrar punição adequada aos seus agressores, para obter 20 mil assinaturas de repúdio às mudanças, exigindo que a justiça fosse feita. Em poucos dias já havia obtido 15 mil assinaturas.
Este é um episódio sobre justiça e impunidade. Justiça é um valor do reino de Deus com o qual o crente necessariamente precisa estar conectado. E se os crentes do Rio de Janeiro e do Brasil olhassem uma causa dessa como algo em que eles deveriam se envolver? Não poderíamos ter as 20 mil assinaturas em apenas um dia?
O nosso bem-estar depende do bem-estar da cidade
O profeta Jeremias escreveu ao povo de Deus, que tinha sido levado cativo para a Babilônia: “Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao SENHOR em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela”. (Jr. 29.7, NVI).
No meio do povo havia falsos profetas dizendo, em outras palavras: “não se importem com esta terra, a Babilônia, pois não é a terra de vocês e logo Deus os levará de volta pro lugar de vocês”. Parecido com o discurso dos crentes que dizem: “não precisamos nos preocupar com este mundo, não; logo Jesus vai voltar e este mundo será consumido pelo fogo e nós vamos para nossa pátria celestial”.
O profeta de Deus orienta o povo de Deus olhe para a Babilônia como a terra deles agora, na qual eles devem servir a Deus, viver as suas vidas e ser luz para aquela nação. Eles devem agir para produzir e desfrutar do Shalom, mesmo no exílio. Shalom envolve saúde integral, bem-estar material e espiritual, harmonia com Deus, com o próximo e com a criação.
Não foi exatamente isso que Jesus deu como motivo para sua vinda? “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10.10) Será que ele estava falando da vida no céu? Ou será que podemos viver em vitória na Babilônia?
Não é um crente em Jesus um exilado neste mundo?
A resposta é sim! Foi o próprio Senhor Jesus que disse: “Eles não são do mundo, como eu também não sou”. Por isso rogou ao Pai: “santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. Desta forma, Jesus já apontava o tipo de vida piedosa e reta que os seus teriam no mundo, à luz da verdade manifestada por suas palavras. O sentido de santificado é que somos separados para Deus, dedicados a Deus, mesmo vivendo neste mundo. Por isso, no meio dessa oração, há uma declaração de envio: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo”. (Jo 17.16-18) O apóstolo Pedro compreendeu bem isso. Ao escrever sua Carta, refere-se aos crentes em Jesus como “estrangeiros” e “peregrinos”. Tal qual os do povo de Deus que foram deportados para a Babilônia.
Como viver neste mundo sem ser do mundo?
Não somos do mundo, mas somos enviados ao mundo pelo próprio Senhor que nos separou para servi-lo. No meio dessa sociedade desconectada com Deus, somos reconciliados com Deus por meio de Jesus e somos chamados a testemunhar do amor de Deus às pessoas, a quem Deus ama e por quem sacrificou seu único Filho.
Precisamos ter o sentimento de Jesus: “E quando chegou perto e viu a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! mas agora isso está encoberto aos teus olhos. (Lc 19.41, 42).
Os crentes manifestam o governo de Deus para a cidade
Deus é o Rei das nações e ele governa todo o mundo. Isso é cantado muitas vezes nos Salmos. É anunciado por Jesus que, por sua vida, ensino e obras, manifestavam o reino de Deus.
Podemos ilustrar isso assim:
A igreja, que representa a comunhão dos seguidores e seguidoras de Jesus, está no mundo. E abrangendo a igreja e o mundo está o governo de Deus. Deus lida com a igreja, mas também lida com o mundo. Não há por que não levarmos a sério a recomendação de Jeremias, “orai pela prosperidade da cidade”; e o ensino do apóstolo Pedro: “Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, (...) Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que (...) observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção.” (1Pe. 2.11, 12).
Boas obras, evidência da fé salvadora
O apóstolo Pedro está relembrando o ensino de Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5.16). A luz de Cristo resplandece no mundo por meio da vivência do Evangelho pelos seguidores e seguidoras de Jesus.
O apóstolo Paulo relembra isso quando escreve aos Efésios: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, (...) somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.” (2.8-10). Então, a salvação não vem das obras, mas se manifesta nas boas obras.
Com este entendimento podemos compreender a ênfase de Tiago:“Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.” (2.17, 18).
Deus nos chama para a prosperidade da cidade
Para que nossas cidades desfrutem do shalom de Deus elas precisam experimentar mais da manifestação da justiça de Deus no meio da sociedade. A prosperidade da cidade depende de muitos fatores: estabilidade institucional e política, com bons governantes, bons legisladores, bons juízes. Também depende da economia, com oportunidade de empregos, acesso à alimentação, à moradia, à educação, à saúde. As cidades precisam de segurança, meios de transporte urbano, espaços de lazer e convivência social.
Se cada servo ou serva de Deus, que vive em nossa sociedade, atuando em alguma dessas áreas da vida de nossa sociedade, for fiel a Deus exercendo bem o seu papel na sociedade, estará servindo não só a Deus, mas também à prosperidade da cidade. Assim, nossa vida encontra o caminho da vocação de Deus para o serviço e o testemunho. As pessoas verão a luz de Jesus em nossas vidas e serão atraídas para Deus e seu Filho Jesus.
Por isso a resposta à pergunta que está no início deste artigo é: sim, todo seguidor e toda seguidora de Jesus deve se envolver com as causas justas neste mundo.
Perguntas para reflexão
Quais ensinamentos bíblicos oferecem base para que os crentes em Jesus se envolvam com causas justas neste mundo?
O entendimento de muitos evangélicos de que a fé salvadora não envolve boas obras tem apoio no ensino bíblico?
Como os crentes podem ser mais fiéis a esta palavra de Jesus: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo”?
• Wilson Costa é Diretor Executivo da Aliança Cristã Evangélica Brasileira.
Leia mais
2017: O ano das oportunidades
Como falar de ética e política para crianças
Como orar nos dias atuais?
Foto ilustrativa: Pixabay.com.
Deve o crente em Jesus Cristo envolver-se com causas justas neste mundo?
No início de 2012, Vitor, um jovem de 21 anos, foi espancado por cinco rapazes ao tentar impedir que batessem em um mendigo no Rio de Janeiro. Foi notícia no Brasil todo. Ele quase morreu, sofreu muitas cirurgias e ficou hospitalizado por muito tempo.
Seis meses depois, um juiz criminal determinou o cancelamento da prisão preventiva dos acusados, abrandando também a natureza do crime, livrando os de um júri popular. O estudante lançou uma petição na internet para cobrar punição adequada aos seus agressores, para obter 20 mil assinaturas de repúdio às mudanças, exigindo que a justiça fosse feita. Em poucos dias já havia obtido 15 mil assinaturas.
Este é um episódio sobre justiça e impunidade. Justiça é um valor do reino de Deus com o qual o crente necessariamente precisa estar conectado. E se os crentes do Rio de Janeiro e do Brasil olhassem uma causa dessa como algo em que eles deveriam se envolver? Não poderíamos ter as 20 mil assinaturas em apenas um dia?
O nosso bem-estar depende do bem-estar da cidade
O profeta Jeremias escreveu ao povo de Deus, que tinha sido levado cativo para a Babilônia: “Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao SENHOR em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela”. (Jr. 29.7, NVI).
No meio do povo havia falsos profetas dizendo, em outras palavras: “não se importem com esta terra, a Babilônia, pois não é a terra de vocês e logo Deus os levará de volta pro lugar de vocês”. Parecido com o discurso dos crentes que dizem: “não precisamos nos preocupar com este mundo, não; logo Jesus vai voltar e este mundo será consumido pelo fogo e nós vamos para nossa pátria celestial”.
O profeta de Deus orienta o povo de Deus olhe para a Babilônia como a terra deles agora, na qual eles devem servir a Deus, viver as suas vidas e ser luz para aquela nação. Eles devem agir para produzir e desfrutar do Shalom, mesmo no exílio. Shalom envolve saúde integral, bem-estar material e espiritual, harmonia com Deus, com o próximo e com a criação.
Não foi exatamente isso que Jesus deu como motivo para sua vinda? “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10.10) Será que ele estava falando da vida no céu? Ou será que podemos viver em vitória na Babilônia?
Não é um crente em Jesus um exilado neste mundo?
A resposta é sim! Foi o próprio Senhor Jesus que disse: “Eles não são do mundo, como eu também não sou”. Por isso rogou ao Pai: “santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. Desta forma, Jesus já apontava o tipo de vida piedosa e reta que os seus teriam no mundo, à luz da verdade manifestada por suas palavras. O sentido de santificado é que somos separados para Deus, dedicados a Deus, mesmo vivendo neste mundo. Por isso, no meio dessa oração, há uma declaração de envio: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo”. (Jo 17.16-18) O apóstolo Pedro compreendeu bem isso. Ao escrever sua Carta, refere-se aos crentes em Jesus como “estrangeiros” e “peregrinos”. Tal qual os do povo de Deus que foram deportados para a Babilônia.
Como viver neste mundo sem ser do mundo?
Não somos do mundo, mas somos enviados ao mundo pelo próprio Senhor que nos separou para servi-lo. No meio dessa sociedade desconectada com Deus, somos reconciliados com Deus por meio de Jesus e somos chamados a testemunhar do amor de Deus às pessoas, a quem Deus ama e por quem sacrificou seu único Filho.
Precisamos ter o sentimento de Jesus: “E quando chegou perto e viu a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! mas agora isso está encoberto aos teus olhos. (Lc 19.41, 42).
Os crentes manifestam o governo de Deus para a cidade
Deus é o Rei das nações e ele governa todo o mundo. Isso é cantado muitas vezes nos Salmos. É anunciado por Jesus que, por sua vida, ensino e obras, manifestavam o reino de Deus.
Podemos ilustrar isso assim:
A igreja, que representa a comunhão dos seguidores e seguidoras de Jesus, está no mundo. E abrangendo a igreja e o mundo está o governo de Deus. Deus lida com a igreja, mas também lida com o mundo. Não há por que não levarmos a sério a recomendação de Jeremias, “orai pela prosperidade da cidade”; e o ensino do apóstolo Pedro: “Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, (...) Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que (...) observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção.” (1Pe. 2.11, 12).
Boas obras, evidência da fé salvadora
O apóstolo Pedro está relembrando o ensino de Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5.16). A luz de Cristo resplandece no mundo por meio da vivência do Evangelho pelos seguidores e seguidoras de Jesus.
O apóstolo Paulo relembra isso quando escreve aos Efésios: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, (...) somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.” (2.8-10). Então, a salvação não vem das obras, mas se manifesta nas boas obras.
Com este entendimento podemos compreender a ênfase de Tiago:“Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.” (2.17, 18).
Deus nos chama para a prosperidade da cidade
Para que nossas cidades desfrutem do shalom de Deus elas precisam experimentar mais da manifestação da justiça de Deus no meio da sociedade. A prosperidade da cidade depende de muitos fatores: estabilidade institucional e política, com bons governantes, bons legisladores, bons juízes. Também depende da economia, com oportunidade de empregos, acesso à alimentação, à moradia, à educação, à saúde. As cidades precisam de segurança, meios de transporte urbano, espaços de lazer e convivência social.
Se cada servo ou serva de Deus, que vive em nossa sociedade, atuando em alguma dessas áreas da vida de nossa sociedade, for fiel a Deus exercendo bem o seu papel na sociedade, estará servindo não só a Deus, mas também à prosperidade da cidade. Assim, nossa vida encontra o caminho da vocação de Deus para o serviço e o testemunho. As pessoas verão a luz de Jesus em nossas vidas e serão atraídas para Deus e seu Filho Jesus.
Por isso a resposta à pergunta que está no início deste artigo é: sim, todo seguidor e toda seguidora de Jesus deve se envolver com as causas justas neste mundo.
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Quais ensinamentos bíblicos oferecem base para que os crentes em Jesus se envolvam com causas justas neste mundo?
O entendimento de muitos evangélicos de que a fé salvadora não envolve boas obras tem apoio no ensino bíblico?
Como os crentes podem ser mais fiéis a esta palavra de Jesus: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo”?
• Wilson Costa é Diretor Executivo da Aliança Cristã Evangélica Brasileira.
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