Opinião
- 04 de março de 2022
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Choque de realidade
Por Ivan Abreu Figueiredo
Pensando nas proporções doentias que o culto ao poder e às aparências de poder têm tomado em nossos tempos. No triste espetáculo do amor ao dinheiro equacionado como virtude, do egoísmo visto como sucesso, da imensa maioria de influenciadores digitais nutrindo obcecadamente sua própria vaidade.
É um tal de gente postar coisas totalmente irrelevantes sobre suas vidas, do tipo "subindo o elevador", "indo para a academia", "provando uma roupa nova". A aparência revelando a essência da substância de que somos feitos. O cultivo nem sempre consciente da inveja de pessoas mais bonitas, ricas e inteligentes que nós, comuns mortais. Profissões novas que surgem, descritas geralmente em língua inglesa (em português não teriam o mesmo impacto para essa gente deslumbrada).
Volto à Palavra, ao apóstolo Tiago mais uma vez, advertindo contra a acepção de pessoas, ao favoritismo movido pelo fascínio por grana e poder. Contra nossa tendência de tratar melhor quem é rico, poderoso, influente. Contra a verdade incômoda de não sermos imunes ao erro que rejeitamos no que acabei de qualificar como gente deslumbrada. O fato do cenário onde Tiago denuncia a ocorrência desse favoritismo materialista não nos deve passar despercebido: a própria reunião dos cristãos, o equivalente à igreja. Que as palavras de Tiago são atualíssimas o atestam os múltiplos relatos de líderes religiosos sedentos de poder e destaque, distorcendo o evangelho em interpretações falsas e inconsistentes para se alinhar a poderes temporários de plantão e ganhar vantagens imediatas.
Um recorte mais amplo da Palavra mostra alternativas muito mais fortes e impactantes. A recusa deliberada de Jesus em surfar numa onda de popularidade movida pelos milagres de curas e multiplicação dos pães. Sua encarnação, identificação e humilhação na forma humana. Sua restrição em usar o poder de que dispunha para evitar o sofrimento e a injustiça que nos resgataram do pecado e da falta de sentido. Seu coração tocado até as lágrimas diante da doença e da morte de gente querida. Sua caminhada com gente simples, iletrada até, cheirando ao suor de carpinteiro, pescador, dona de casa.
Sua entrada neste planeta como um bebê dependente que precisou aprender a mamar, engatinhar, andar.
Corte rápido para gente simples que podemos ser nós, tocados pelo Espírito, movidos à solidariedade, escolhendo como motivador e plateia de nossas ações o único que realmente importa, aprendendo a fazer o certo sem que ninguém mais perceba, livres da necessidade de causar boa impressão aos circunstantes.
O caminho é de fato estreito, mas conduz à serenidade e maturidade, a uma renovação interior que é riqueza de fato.
Lembro de uma vez em que fiquei ao lado de uma figura muito conhecida em nossa cidade, mas não por mim. Seu olhar não disfarçou a surpresa por estar diante de alguém que nunca ouvira falar dele. Delírios de influência nos levam a atribuirmos fama e poder inexistentes, porque nosso círculo de influência é na verdade bem restrito. E pensar que tem gente que se refere a si mesmo na terceira pessoa...
Gratidão pelo choque de realidade da Palavra, por seus chamados a cuidar mais da essência que da aparência, pelas oportunidades de escolher caminhar com necessitados, rejeitando uma visão utilitarista das coisas e pessoas.
Reconhecendo que precisamos muito aprender a ser gente.
Pensando nas proporções doentias que o culto ao poder e às aparências de poder têm tomado em nossos tempos. No triste espetáculo do amor ao dinheiro equacionado como virtude, do egoísmo visto como sucesso, da imensa maioria de influenciadores digitais nutrindo obcecadamente sua própria vaidade.
É um tal de gente postar coisas totalmente irrelevantes sobre suas vidas, do tipo "subindo o elevador", "indo para a academia", "provando uma roupa nova". A aparência revelando a essência da substância de que somos feitos. O cultivo nem sempre consciente da inveja de pessoas mais bonitas, ricas e inteligentes que nós, comuns mortais. Profissões novas que surgem, descritas geralmente em língua inglesa (em português não teriam o mesmo impacto para essa gente deslumbrada).
Volto à Palavra, ao apóstolo Tiago mais uma vez, advertindo contra a acepção de pessoas, ao favoritismo movido pelo fascínio por grana e poder. Contra nossa tendência de tratar melhor quem é rico, poderoso, influente. Contra a verdade incômoda de não sermos imunes ao erro que rejeitamos no que acabei de qualificar como gente deslumbrada. O fato do cenário onde Tiago denuncia a ocorrência desse favoritismo materialista não nos deve passar despercebido: a própria reunião dos cristãos, o equivalente à igreja. Que as palavras de Tiago são atualíssimas o atestam os múltiplos relatos de líderes religiosos sedentos de poder e destaque, distorcendo o evangelho em interpretações falsas e inconsistentes para se alinhar a poderes temporários de plantão e ganhar vantagens imediatas.
Um recorte mais amplo da Palavra mostra alternativas muito mais fortes e impactantes. A recusa deliberada de Jesus em surfar numa onda de popularidade movida pelos milagres de curas e multiplicação dos pães. Sua encarnação, identificação e humilhação na forma humana. Sua restrição em usar o poder de que dispunha para evitar o sofrimento e a injustiça que nos resgataram do pecado e da falta de sentido. Seu coração tocado até as lágrimas diante da doença e da morte de gente querida. Sua caminhada com gente simples, iletrada até, cheirando ao suor de carpinteiro, pescador, dona de casa.
Sua entrada neste planeta como um bebê dependente que precisou aprender a mamar, engatinhar, andar.
Corte rápido para gente simples que podemos ser nós, tocados pelo Espírito, movidos à solidariedade, escolhendo como motivador e plateia de nossas ações o único que realmente importa, aprendendo a fazer o certo sem que ninguém mais perceba, livres da necessidade de causar boa impressão aos circunstantes.
O caminho é de fato estreito, mas conduz à serenidade e maturidade, a uma renovação interior que é riqueza de fato.
Lembro de uma vez em que fiquei ao lado de uma figura muito conhecida em nossa cidade, mas não por mim. Seu olhar não disfarçou a surpresa por estar diante de alguém que nunca ouvira falar dele. Delírios de influência nos levam a atribuirmos fama e poder inexistentes, porque nosso círculo de influência é na verdade bem restrito. E pensar que tem gente que se refere a si mesmo na terceira pessoa...
Gratidão pelo choque de realidade da Palavra, por seus chamados a cuidar mais da essência que da aparência, pelas oportunidades de escolher caminhar com necessitados, rejeitando uma visão utilitarista das coisas e pessoas.
Reconhecendo que precisamos muito aprender a ser gente.
Ivan Abreu Figueiredo, médico, professor universitário, membro da Igreja Batista Plenitude, São Luís, MA.
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