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Por Escrito

Cartas entre Freud & Pfister, 1909-1939

Por Karin Wondracek

Foram lançadas, na Bienal de São Paulo, as Cartas entre Freud & Pfister 1909-1939: Um diálogo entre psicanálise e fé religiosa. Compiladas por Ernst Freud e Heinrich Meng, com prefácio de ambos e de Arina Freud.

Iniciando no apogeu da relação Freud – Jung, as Cartas constituem um tocante registro da história da psicanálise e dos últimos 30 anos da vida de Freud. Pfister, pastor e pedagogo em Zurique, chega a Freud por intermédio de Jung, e mostra-se fascinado com o potencial da psicanálise para a cura de almas.

A correspondência inicia com Pfister enviando um trabalho sobre Alucinação e suicídio de alunos. Desde as primeiras linhas das Cartas percebemos a ternura com que o criador da psicanálise acolhe o religioso que busca entender a alma. E acompanhamos como, pouco a pouco, os dois trocam ideias, textos e, acima de tudo, compartilham a vida. Visitam-se, presenteiam-se, fazem confidencias e influenciam-se mutuamente. "Nenhuma outra visita, desde a de Jung, fez-me tanto bem", escreve Freud. "O lugar mais aprazível da terra? Informem-se na casa do Professor Freud" indica Pfister. O cotidiano da família Freud é delineado em tons róseos pelo amigo pastor; cenas domésticas partilham do conteúdo das Cartas ao lado de interessantes temas da teoria e técnica psicanalítica.

Pfister, membro fundador da Seção Zurique da Associação Psicanalítica Internacional, toma parte ativa no movimento psicanalítico. Na calidez da amizade são compartilhadas situações que envolvem Jung, Adler, Abraham, Rank e outros pioneiros. Os primeiros passos da psicanálise tingem-se dos tons vivos das alegrias e mazelas humanas. Após a cisão com Jung, Pfister permanece como único freudiano em Zurique. Em 1919, é co-fundador da Sociedade Psicanalítica Suíça.

As Cartas relatam de que forma a singular combinação dos campos de atuação de Pfister vai produzindo impacto nos círculos atingidos. Revelam a abertura de pedagogos e teólogos para com a psicanálise e também as discussões enfrentadas nestes campos. Como um dos primeiros analistas laicos e de crianças, Pfister enfrenta as polêmicas sobre estas questões, e, encorajado por Freud, produz textos e palestras.

O fato de ambos serem escritores também propiciou que comentassem muitos aspectos da produção textual em psicanálise. Assim, podemos acompanhar a gestação e o nascimento de várias obras, os bastidores da editora psicanalítica, e apre ciar o estímulo mútuo e os comentários críticos que a amizade franca proporcionava.

O auge da discussão teórica aparece nas cartas dos anos 1927 e 1928, em tomo do lançamento de O Futuro de uma Ilusão. Justamente a hábil combinação do relacionamento fecundo com a discussão de idéias proporciona uma visão mais abrangente do tema. É fascinante acompanhar o polêmico diálogo sobre o livro de Freud e o processo de geração do texto-resposta que Pfister denominou A Ilusão de um Futuro. "Eu o fiz com grande alegria, pois luto por uma atuada causa com um amado adversário" (Pfister, carta de 20.2.28). É comovente sentir a abertura e, mais, ainda, o desejo de Freud em escutar o amigo que pensa diferente: "...Alegro-me diretamente pelo seu posicionamento público contra minha brochura, vai ser um refrigério em meio ao coro desafinado de críticas, para o qual estou preparado. Nós sabemos que por caminhos diferentes lutamos pelas mesmas coisas para os pobres homens," (Freud carta 81). Caminhos diferentes, mas entremeados de consistentes pontes, que propiciaram este longo diálogo sobre psicanálise e visão de mundo, ética e religião. Troca fecunda que revitaliza questões novamente atuais.

O livro finaliza com a carta à viúva Martha Freud, na qual Pfister saudosamente discorre sobre a longa amizade e revela um desejo expressado por Freud a respeito do final da vida:

"Nos últimos anos eu pensava com freqüência num trecho emocionante da carta de 6-3-1910. Creio que é meu dever compartilhá-lo com a senhora. Ele é assim: "Não consigo imaginar como algo agradável viver sem trabalhar. Fantasiar e trabalhar coincidem para mim; nenhuma outra coisa me agrada tanto. Este seria um indicio de felicidade, se não se interpusesse o pensamento assustador de que a produtividade depende totalmente de uma disposição muito delicada. Que se pode fazer num dia ou num tempo em que os pensamentos falham e as palavras não querem comparecer? Não consigo livrar-me de um tremor diante desta possibilidade. Por issor mesmo rendendo-me inteiramente ao destino como convém a uma pessoa honesta, tenho um pedido secreto: de modo algum uma enfermidade prolongada, nenhuma paralisia da capacidade produtiva por um sofrimento corporal. Morramos dentro da armadura, como diz o rei Macbeth." Realizou-se, pois, pelo menos o desejo de acuidade intelectual, de uma morte no capacete régio do pensador."

Estudos de Psicologia, vol. 15, nº 1, 67-68.

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