Opinião
- 25 de julho de 2017
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Carisma e caráter na Igreja
Por William Lane
É possível que quando pensamos em uma igreja viva associamos a uma igreja dinâmica, engajada, repleta de atividades, programações e oportunidades a todas as faixas etárias, que tenha uma liderança visionária, que mobilize e motive as pessoas. Por outro lado, pela influência de uma tradição carismática e pentecostal, muitas vezes se pensa numa igreja viva aquela em que os cultos são fervorosos, a palavra seja pregada com poder e haja manifestações especiais do Espírito Santo. Realmente, essas podem ser descrições de igreja viva, pelo menos no que se refere à sua organização, funcionamento, atividades e culto.
Mas é nisso que se resume a ideia de igreja viva? Uma igreja genuína, autêntica e cheia de vida é a mesma coisa que uma organização dinâmica, eficaz e engajada? É possível identificar traços de uma igreja viva?
Os reformadores do século 16 e a teologia reformada até os dias de hoje falam de uma igreja verdadeira e a definem como igreja onde se prega a Palavra verdadeira, os Sacramentos são administrados fielmente e a disciplina é exercida com eficácia. À medida que o movimento reformado se estabelecia como movimento religioso e eclesiástico independente da igreja romana da época, e muitos outros movimentos de reforma iam surgindo, alguns defendendo uma ruptura mais radical com as práticas e formas da igreja medieval, foi preciso os reformadores estabelecer os parâmetros de uma verdadeira igreja.
Hoje, diante da multiplicação de igrejas, movimentos, comunidades e grupos religiosos cristãos evangélicos, muitos dos quais com grande projeção nas mídias, arrojo de ações e imagens, fortalecimento institucional, e outros indo na contramão dessas tendências, optando por informalidade e valorização das relações em vez das estruturas, é preciso refletir sobre a igreja viva.
Rick Warren (A igreja com propósito) e Christian Schwarz (O desenvolvimento natural da igreja) entendem que a igreja cresce naturalmente e se não está crescendo há algo de errado, por isso, todo pastor deve perguntar não “como fazer a igreja crescer?”, mas “o que está impedindo a igreja de crescer?”. Essa visão demonstra uma ideia de que a igreja é organismo vivo e se não cresce é porque ela está enferma. No entanto, revela também um conceito de crescimento principalmente numérico. Mas essa visão de crescimento foi desafiada muitos anos atrás por autores latino-americanos, dentre os quais Orlando Costas, que defendia um crescimento mais holístico da igreja pelas dimensões numérica, orgânica, conceitual e diaconal. Desse modo, os sinais de uma igreja viva não podem ser constatados somente pelo crescimento numérico e pelo seu funcionamento.
Na realidade, pelos conceitos atuais de crescimento e revitalização de igreja, um dos requisitos essenciais de uma igreja é sua visão, missão e uma liderança qualificada. No entanto, o conceito bíblico de igreja viva e saudável está mais na ação e evidência do Espírito Santo na vida das pessoas. Mas, mesmo quando se fala de ação e presença do Espírito Santo na igreja, nossas tradições eclesiásticas e doutrinárias divergem quanto ao modo de entender presença do Espírito.
A passagem de Atos 2.42-47 é frequentemente usada para ilustrar e fundamentar a igreja saudável. Os primeiros convertidos perseveravam na doutrina, partiam o pão, na reunião para comunhão, oração e adoração, na manifestação do poder pelos sinais e prodígios, na assistência aos necessitados por meio da partilha dos bens e do serviço diaconal, e cresciam em número.
Os ensinos de Paulo em Romanos, 1 Coríntios e Efésios sobre os dons espirituais são também usados para descrever uma igreja viva. Nessa igreja, cada membro exerce o seu dom ou ministério para a edificação do corpo. Mas como vemos na carta aos Coríntios, aquela igreja demonstrava a presença de diversos dons, porém, ela possuía também diversas fraquezas, problemas e divisões. Por isso, não é só a presença do carisma que revela a presença do Espírito e a essência de uma igreja viva. Paulo insiste muito na unidade e no discernimento do corpo.
Mas uma igreja viva não é só aquela que realiza o ministério por obra do Espírito Santo. É também a igreja cujos membros andam no Espírito e demonstram o fruto do Espírito em suas vidas. Se, assim como John Stott que sonha com uma igreja bíblica, adoradora, acolhedora, que sirva e que espera, eu puder sonhar e desejar uma igreja viva, eu gostaria de ver mais amor, alegria, paz, bondade, benignidade, longanimidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio – o fruto do Espírito – na vida dos membros, nas estruturas, ações, pregações e ministérios da igreja. Uma igreja que equilibra o carisma com o caráter.
Leia mais
O poder do testemunho
10 verdades sobre o evangelho, a igreja e a missão
A ética do amor em tempos de cólera politica
A Igreja Autêntica [John Stott]
A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja [Ricardo Barbosa de Sousa]
Foto: Pixabay.com.
É possível que quando pensamos em uma igreja viva associamos a uma igreja dinâmica, engajada, repleta de atividades, programações e oportunidades a todas as faixas etárias, que tenha uma liderança visionária, que mobilize e motive as pessoas. Por outro lado, pela influência de uma tradição carismática e pentecostal, muitas vezes se pensa numa igreja viva aquela em que os cultos são fervorosos, a palavra seja pregada com poder e haja manifestações especiais do Espírito Santo. Realmente, essas podem ser descrições de igreja viva, pelo menos no que se refere à sua organização, funcionamento, atividades e culto.
Mas é nisso que se resume a ideia de igreja viva? Uma igreja genuína, autêntica e cheia de vida é a mesma coisa que uma organização dinâmica, eficaz e engajada? É possível identificar traços de uma igreja viva?
Os reformadores do século 16 e a teologia reformada até os dias de hoje falam de uma igreja verdadeira e a definem como igreja onde se prega a Palavra verdadeira, os Sacramentos são administrados fielmente e a disciplina é exercida com eficácia. À medida que o movimento reformado se estabelecia como movimento religioso e eclesiástico independente da igreja romana da época, e muitos outros movimentos de reforma iam surgindo, alguns defendendo uma ruptura mais radical com as práticas e formas da igreja medieval, foi preciso os reformadores estabelecer os parâmetros de uma verdadeira igreja.
Hoje, diante da multiplicação de igrejas, movimentos, comunidades e grupos religiosos cristãos evangélicos, muitos dos quais com grande projeção nas mídias, arrojo de ações e imagens, fortalecimento institucional, e outros indo na contramão dessas tendências, optando por informalidade e valorização das relações em vez das estruturas, é preciso refletir sobre a igreja viva.
Rick Warren (A igreja com propósito) e Christian Schwarz (O desenvolvimento natural da igreja) entendem que a igreja cresce naturalmente e se não está crescendo há algo de errado, por isso, todo pastor deve perguntar não “como fazer a igreja crescer?”, mas “o que está impedindo a igreja de crescer?”. Essa visão demonstra uma ideia de que a igreja é organismo vivo e se não cresce é porque ela está enferma. No entanto, revela também um conceito de crescimento principalmente numérico. Mas essa visão de crescimento foi desafiada muitos anos atrás por autores latino-americanos, dentre os quais Orlando Costas, que defendia um crescimento mais holístico da igreja pelas dimensões numérica, orgânica, conceitual e diaconal. Desse modo, os sinais de uma igreja viva não podem ser constatados somente pelo crescimento numérico e pelo seu funcionamento.
Na realidade, pelos conceitos atuais de crescimento e revitalização de igreja, um dos requisitos essenciais de uma igreja é sua visão, missão e uma liderança qualificada. No entanto, o conceito bíblico de igreja viva e saudável está mais na ação e evidência do Espírito Santo na vida das pessoas. Mas, mesmo quando se fala de ação e presença do Espírito Santo na igreja, nossas tradições eclesiásticas e doutrinárias divergem quanto ao modo de entender presença do Espírito.
A passagem de Atos 2.42-47 é frequentemente usada para ilustrar e fundamentar a igreja saudável. Os primeiros convertidos perseveravam na doutrina, partiam o pão, na reunião para comunhão, oração e adoração, na manifestação do poder pelos sinais e prodígios, na assistência aos necessitados por meio da partilha dos bens e do serviço diaconal, e cresciam em número.
Os ensinos de Paulo em Romanos, 1 Coríntios e Efésios sobre os dons espirituais são também usados para descrever uma igreja viva. Nessa igreja, cada membro exerce o seu dom ou ministério para a edificação do corpo. Mas como vemos na carta aos Coríntios, aquela igreja demonstrava a presença de diversos dons, porém, ela possuía também diversas fraquezas, problemas e divisões. Por isso, não é só a presença do carisma que revela a presença do Espírito e a essência de uma igreja viva. Paulo insiste muito na unidade e no discernimento do corpo.
Mas uma igreja viva não é só aquela que realiza o ministério por obra do Espírito Santo. É também a igreja cujos membros andam no Espírito e demonstram o fruto do Espírito em suas vidas. Se, assim como John Stott que sonha com uma igreja bíblica, adoradora, acolhedora, que sirva e que espera, eu puder sonhar e desejar uma igreja viva, eu gostaria de ver mais amor, alegria, paz, bondade, benignidade, longanimidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio – o fruto do Espírito – na vida dos membros, nas estruturas, ações, pregações e ministérios da igreja. Uma igreja que equilibra o carisma com o caráter.
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A Igreja Autêntica [John Stott]
A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja [Ricardo Barbosa de Sousa]
Foto: Pixabay.com.
Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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