Opinião
- 19 de fevereiro de 2014
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C. S. Lewis no Brasil: a missão
Mesmo para quem conhece um pouco de C.S. Lewis, a obra de Alister McGrath1 "A Vida de C.S. Lewis: do Ateísmo às Terras de Nárnia" (Editora Mundo Cristão) traz algumas curiosidades e dados novos a seu respeito. Um exemplo é a limitação de Lewis em lembrar de datas e seu provável erro na datação de sua primeira conversão em "Surpreendido pela Alegria". Trata-se, sem dúvida, de uma excelente obra de iniciação à vida e obra de Lewis capaz de ladear muitas lacunas no conhecimento do público leitor brasileiro sobre o autor.
Mas é interessante notar que, ao mesmo tempo em que o interesse por Lewis seja limitado no Brasil, uma editora, de resto pouco entusiasmada por Lewis, tenha se interessado em publicar uma obra tão detalhista sobre o autor. Não quero tirar o mérito de tal publicação que certamente foi um avanço nos esforços por tornar Lewis mais conhecido no Brasil. Mas trata-se de um livro mais indicado para iniciados e de minha parte, ficaria mais feliz em ver gente ler o próprio Lewis, antes de investir nesse tipo de literatura. Sejam mencionadas com louvor, nesse sentido, as iniciativas das Editoras Vida em publicar obras de Lewis e as da Editora Ultimato, de publicar excertos de sua obra, Um Ano com C.S. Lewis, e uma importante ferramenta para estudantes, principalmente na área da psicologia, como Deus em Questão, de Armand Nicholi.
O que eu estranho é que essas e tantas outras iniciativas como as palestras proferidas por mim e outros estudiosos pelo Brasil inteiro; o site e tantos outros, voltados para Nárnia; bem como o curso a ser ministrado em março deste ano pela Faculdade Teológica Metodista Livre de São Paulo2 tenham alcance tão limitado (até agora contamos com não mais do que dez inscritos).
Por que, mesmo com a manutenção e crescimento do interesse em seus escritos em nível internacional, os filmes de Nárnia, a renovação do interesse de algumas editoras em publicar traduções de obras dele e sobre ele e com as comemorações dos cinquenta anos da morte de C.S. Lewis no ano de 2013, ele ainda não “deslanchou” no Brasil?
Seria esse um sinal de letargia da parte do público leitor cristão brasileiro? A que se deve esse sono profundo que impede o cristão brasileiro de perceber a atualidade das reflexões do autor para a grande maioria das questões teológicas que afetavam o pensamento moderno de sua época e que continuam afetando o pensamento pós-moderno?
Quem sabe seja porque a formação de Lewis tenha sido tão diferente daquela dispensada pelas escolas brasileiras. Como McGrath destaca, a meu ver, acertadamente, a formação de Lewis foi basicamente filosófica e literária. Que lugar as nossas escolas dão à filosofia e à literatura ou aos clássicos em geral, e até nas chamadas “escolas confessionais”?
A verdade é que o cristão brasileiro médio não é formado para questionamentos profundos a respeito do sentido da vida, da sexualidade, da fé e da razão, que permeiam as grandes obras. Resta saber se é possível que ele aprenda a se fazer esse tipo de questão “em pleno vôo” ao ler obras como a de Mc Alister e aprender a aproveitar as oportunidades que já tem sido abertas ao melhor conhecimento de Lewis e outros autores do seu calibre no Brasil.
Se você não conhece C.S. Lewis, pode me dizer que não tem culpa da educação que lhe deram e eu vou concordar. O que eu não consigo entender é a reação às oportunidades que têm surgido no Brasil de reverter esse estado de coisas. A iniciativa C.S. Lewis para Iniciantes é precisamente uma resposta a esses casos. Porque então não aproveitá-la?
Quero que o leitor entenda esse artigo como o desabafo de quem recebeu muito “não” e portas fechadas na cara da parte de quem se acreditava ter interesse natural pelas coisas da fé e portanto, por Lewis. Mas pior do que a rejeição aberta, seja por C.S. Lewis ser considerado “liberal” demais, seja por ser considerado “conservador” demais, é o pouco caso, a negligência de gente que tem preguiça de sequer tentar entender melhor as suas ideias. Admito que você seja a favor ou contra Lewis, o que não admito é que você me venha com argumentos sem conhecimento de causa, sem ter lido um livro sequer dele. Isso eu não posso admitir.
Notas:
1. McGrath também é palestrante bastante requisitado em assuntos relativos a C.S. Lewis. Ele tem se destacado no Youtube com debates importantes (como um confronto com Dawkins, infelizmente ainda não traduzido para o português, em que Lewis é uma referência obrigatória.)
2. Agradeço o interesse e apoio da parte da faculdade. Mais informações
Mas é interessante notar que, ao mesmo tempo em que o interesse por Lewis seja limitado no Brasil, uma editora, de resto pouco entusiasmada por Lewis, tenha se interessado em publicar uma obra tão detalhista sobre o autor. Não quero tirar o mérito de tal publicação que certamente foi um avanço nos esforços por tornar Lewis mais conhecido no Brasil. Mas trata-se de um livro mais indicado para iniciados e de minha parte, ficaria mais feliz em ver gente ler o próprio Lewis, antes de investir nesse tipo de literatura. Sejam mencionadas com louvor, nesse sentido, as iniciativas das Editoras Vida em publicar obras de Lewis e as da Editora Ultimato, de publicar excertos de sua obra, Um Ano com C.S. Lewis, e uma importante ferramenta para estudantes, principalmente na área da psicologia, como Deus em Questão, de Armand Nicholi.
O que eu estranho é que essas e tantas outras iniciativas como as palestras proferidas por mim e outros estudiosos pelo Brasil inteiro; o site e tantos outros, voltados para Nárnia; bem como o curso a ser ministrado em março deste ano pela Faculdade Teológica Metodista Livre de São Paulo2 tenham alcance tão limitado (até agora contamos com não mais do que dez inscritos).
Por que, mesmo com a manutenção e crescimento do interesse em seus escritos em nível internacional, os filmes de Nárnia, a renovação do interesse de algumas editoras em publicar traduções de obras dele e sobre ele e com as comemorações dos cinquenta anos da morte de C.S. Lewis no ano de 2013, ele ainda não “deslanchou” no Brasil?
Seria esse um sinal de letargia da parte do público leitor cristão brasileiro? A que se deve esse sono profundo que impede o cristão brasileiro de perceber a atualidade das reflexões do autor para a grande maioria das questões teológicas que afetavam o pensamento moderno de sua época e que continuam afetando o pensamento pós-moderno?
Quem sabe seja porque a formação de Lewis tenha sido tão diferente daquela dispensada pelas escolas brasileiras. Como McGrath destaca, a meu ver, acertadamente, a formação de Lewis foi basicamente filosófica e literária. Que lugar as nossas escolas dão à filosofia e à literatura ou aos clássicos em geral, e até nas chamadas “escolas confessionais”?
A verdade é que o cristão brasileiro médio não é formado para questionamentos profundos a respeito do sentido da vida, da sexualidade, da fé e da razão, que permeiam as grandes obras. Resta saber se é possível que ele aprenda a se fazer esse tipo de questão “em pleno vôo” ao ler obras como a de Mc Alister e aprender a aproveitar as oportunidades que já tem sido abertas ao melhor conhecimento de Lewis e outros autores do seu calibre no Brasil.
Se você não conhece C.S. Lewis, pode me dizer que não tem culpa da educação que lhe deram e eu vou concordar. O que eu não consigo entender é a reação às oportunidades que têm surgido no Brasil de reverter esse estado de coisas. A iniciativa C.S. Lewis para Iniciantes é precisamente uma resposta a esses casos. Porque então não aproveitá-la?
Quero que o leitor entenda esse artigo como o desabafo de quem recebeu muito “não” e portas fechadas na cara da parte de quem se acreditava ter interesse natural pelas coisas da fé e portanto, por Lewis. Mas pior do que a rejeição aberta, seja por C.S. Lewis ser considerado “liberal” demais, seja por ser considerado “conservador” demais, é o pouco caso, a negligência de gente que tem preguiça de sequer tentar entender melhor as suas ideias. Admito que você seja a favor ou contra Lewis, o que não admito é que você me venha com argumentos sem conhecimento de causa, sem ter lido um livro sequer dele. Isso eu não posso admitir.
Notas:
1. McGrath também é palestrante bastante requisitado em assuntos relativos a C.S. Lewis. Ele tem se destacado no Youtube com debates importantes (como um confronto com Dawkins, infelizmente ainda não traduzido para o português, em que Lewis é uma referência obrigatória.)
2. Agradeço o interesse e apoio da parte da faculdade. Mais informações
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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