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Opinião

C. S. Lewis em outros mundos

Fui convidada recentemente para falar da trilogia espacial de Lewis, já que ano que vem (2015) comemoramos os setenta anos da última das três obras, “Aquela Força Medonha”, que saiu traduzida para o português do Brasil faz pouco tempo.

Essas palestras e minicursos serão apresentados na III Semana C.S. Lewis a ser realizado em Fortaleza, organizado pela missão Alfa e Ômega de Fortaleza, de 26 a 28 de novembro.

O que posso adiantar é que, mais do que planetas (na verdade os planetas em que as tramas se desenvolvem são reais: Terra, Marte e Vênus, só têm nomes diferentes), sua história, seres e línguas, Lewis inventou diálogos e situações que incitam a profundas reflexões sobre a vida, o ser humano e suas circunstâncias.

A maior crítica é, como em “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e outras obras de ficção, contra o cientificismo, principalmente aquele que autoriza que se façam experimentos com animais. Aliás, um dos seres racionais de “Malacandra” (Marte) é parecido com um animal. Eles têm pelo e andam nus.

Em “Longe do Planeta Silencioso”, a primeira obra, dois cientistas raptam Elwin Ransom, um doutor em filologia (qualquer semelhança com J.R.R. Tolkien não é mera coincidência) para ser sua cobaia numa viagem interplanetária. Os cientistas querem usar o doutor como presente para um dos seres de Malacandra a fim de apaziguar seus ânimos.

Porém esses e outros seres daquele mundo são, na verdade, pacíficos e Ransom consegue fazer amizade com eles. Com isso, eles o salvam dos cientistas que querem matá-lo e o ajudam a voltar em segurança para a Terra.

Como o mal não teve o mesmo efeito devastador sobre aquele mundo quanto teve sobre o nosso, Ransom acaba aprendendo com os seres extraterrestres muitos princípios da vida não corrompida.

Já em “Perelandra”, Ransom se depara com um mundo em que não houve a Queda. Ele acaba se encontrando e confrontando o cientista-mor dos dois cientistas de “Longe...”, que quer matá-lo e provocar a queda em Perelandra (Vênus). Mas Ransom consegue impedir que a Eva de lá dê ouvidos ao cientista, tornando-se, o que o seu nome já diz, o redentor deles (Ransom quer dizer “resgate” em inglês). Depois disso, ele volta para a Terra, em “Aquela Força Medonha”, com uma sabedoria infinita e poderes para salvar um grupo de pessoas (os cristãos de Malacandra, a Terra) de serem aniquilados pelo NICE, o instituto de pesquisas científicas que quer tomar conta do mundo todo.

A história gira em torno de um casal de intelectuais: ela ainda estudante de doutorado, e ele já professor universitário e suas crises conjugais por causa das visões diferentes que eles têm da vida. Aliás, ela é uma vidente, que se une ao grupo de resistência de Ransom, e ele acaba se associando ao NICE e suas ações de dominação da pequena cidade universitária em que moram.

Se a trilogia espacial já tinha um significado profundo durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi escrita, tem mais ainda no mundo de hoje, cada vez mais dominado pela ciência e tecnologia.

Recomendo os livros a todos aqueles que estão preocupados com o tema da ciência, com o papel do Cristianismo no mundo e nos últimos tempos. Trata-se de um livro que deve ser lido como os contos de fada: não para especular se existem ou não outros mundos (duendes, fadas, gnomos), mas o que a hipótese e o fantasiar sobre eles nos ensinam sobre o nosso próprio mundo.


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É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
  • Textos publicados: 68 [ver]

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