Opinião
- 18 de dezembro de 2020
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C. S. Lewis, Billy Graham e o evangelismo
Por Igor Gaspar
Além de acontecimentos que marcaram a história mundial, o século XX trouxe em si grandes homens que igualmente marcaram a história, dentre eles, William F. "Billy" Graham e Clive Staples Lewis.
Se Billy Graham foi um dos maiores evangelistas do século, Lewis foi um de seus maiores escritores. Não sendo o evangelismo o único campo de atuação de Graham ou a literatura o único campo de atuação de Lewis, havia algo de literário na vida de Graham, assim como algo evangelístico (por vezes não notado) na vida de Lewis.
Embora Billy Graham tenha escrito diversos livros que foram bem vendidos, como A Caminho de Casa e O Poder do Espírito Santo, foi como evangelista que ele ficou conhecido. Tornando Cristo conhecido tanto nos Estados Unidos quanto no mundo, Graham era solicitado em vários lugares. Em 1955, a União Cristã Inter-Acadêmica de Cambridge solicitou sua presença para uma série de pregações em Cambridge, uma delas no Magdalene College, onde Lewis era professor. E foi lá que os dois homens se encontraram.
Lewis havia assumido a cadeira de Literatura Medieval e Renascentista em Cambridge no ano anterior. Sua presença foi acolhida com alegria e carinho por alguns, e com rejeição e desprezo por outros. A rejeição e o desprezo por Lewis se deram justamente por ser ele um cristão que queria levar outros a Cristo. Em anos anteriores, quando lecionava em Oxford, Lewis sofrera o mesmo desprezo. Anos após a morte de Lewis, o biógrafo A. N. Wilson visitou a faculdade de Oxford para colher dados sobre Lewis e enriquecer sua biografia. Wilson se encontrou com certo ancião da universidade que disse que Lewis foi, em suas palavras: "o pior homem que eu conheci na vida". Pelo esclarecimento do ancião, Wilson concluiu que seu ódio por Lewis dava-se por este usar sua "perspicácia para corromper [ou seja, evangelizar] os jovens". Como Wilson bem observou, "essa mesma acusação fora outrora levantada contra Sócrates".1
O amigo de Lewis, J. R. R. Tolkien, também observou a forte oposição que seu amigo sofria em Oxford por ser um cristão que cumpria a grande comissão: "Em Oxford, o professor é perdoado por escrever unicamente dois tipos de livros [livros sobre o seu campo de especialização e romances policiais, pois os professores precisam ler alguma coisa quando estão de cama]. Mas ninguém é perdoado por escrever obras de caráter popular, como aquelas que [Lewis] escreveu sobre teologia, especialmente se essas obras são um sucesso mundial, como no caso de Lewis".2
Quando ouvia o menosprezo de outros acadêmicos de Oxford, que criticavam seus escritos cristãos, bem como sua vida, Lewis respondia citando o general William Booth, do Exército de Salvação: "Meu jovem, se eu pudesse ganhar uma única alma para Deus tocando… tocando um pandeiro com os dedos dos pés, eu o faria".
A mudança de Lewis de Oxford para Cambridge marcou o início de um novo tempo em sua vida, "todos os meus amigos me dizem que pareço mais jovem".3 A atmosfera de Cambridge era menos anti-cristã que a de Oxford, porém, não totalmente livre dela. A chegada de Lewis foi vista, de certo modo, como uma ameaça ao secularismo vigente, e a de Graham, mais ainda.
A palestra inaugural de Lewis foi proferida em 29 de novembro de 1954, sob o título De Descriptione Temporum; tratava, dentre outras questões, "dos antigos valores do ocidente", dentre eles, como o observa Peter Craft, o "antigo teísmo cristão". Estava presente, na ocasião, Joy Davidman, que viria a ser sua esposa, a qual comentou que a palestra foi "brilhante, intelectualmente empolgante, inesperada e bastante engraçada [...] O salão estava apinhado [...]".4 Se Joy havia apreciado a palestra de Lewis, os secularistas de Cambridge a desprezaram. Uma revista de Oxford dedicou toda uma edição para o desprezo desses "antigos valores do ocidente", em suma, do cristianismo, em Cambridge; e citou Lewis, igualmente com desprezo.
Quando Billy Graham esteve em Cambridge, sua recepção foi semelhante à de Lewis: um misto de aceitação e desprezo.
O reverendo John Stott apresentou Graham a Lewis e, como observou o biógrafo Colin Duriez: "Os dois homens gostaram muito um do outro".⁵
Em 1963, Lewis recebeu em seus aposentos no Magdalene College o entrevistador Sherwood E. Wirt, da Associação Evangelística Billy Graham. Entre outras questões, o Sr. Sherwood perguntou a Lewis se ele aprovava Billy Graham e alguns dos seus métodos evangelísticos. Lewis respondeu:
"Tive o privilégio de conhecer Billy Graham uma vez. Jantamos juntos durante sua visita à Universidade de Cambridge, em 1955, ocasião em que ele liderou uma missão voltada aos alunos. Minha impressão foi a de que ele era um homem muito modesto e sensato; gostei muito dele."6
Em 1945, Lewis proferiu uma palestra no País de Gales para um grupo de sacerdotes anglicanos. Essa palestra foi publicada posteriormente sob o título A ética da fé pela razão. Dando orientações aos sacerdotes sobre formas de evangelização, Lewis disse:
"Volto-me, agora, para a questão do verdadeiro ataque [a pregação], que pode ser emocional ou intelectual. Se eu falar apenas sobre aquele do tipo intelectual, não significa que subestimo o outro, mas, sim que, não possuindo os dons necessários para tratar dele, não posso dar conselhos a respeito. Desejo afirmar, porém, muito enfaticamente, que, quando o pregador possui tal dom, o chamado direto do evangelho de “Venha para Jesus”, pode ser tão arrebatador hoje quanto era há cem anos. Já vi fazerem isso [...] Não sou capaz de fazer assim, mas os que são devem fazê-lo com todas as suas forças. Talvez a equipe missionária ideal deva incluir uma pessoa que argumenta e outra que prega (no sentido mais amplo da palavra). Coloque primeiro o que argumenta, para minar os preconceitos intelectuais dos ouvintes, e depois o evangelista, para lançar o apelo devido. Já vi fazerem isso, com muito sucesso."7
Penso que Lewis e Graham seriam uma dupla missionária perfeita: um para apelar à razão, o outro, à emoção.
• Igor Gaspar é bacharelando em Psicologia pela Faculdade Maurício de Nassau, em Caruaru. Participou de cursos sobre C. S. Lewis com Jonas Madureira e sobre a Reforma no Curso Fiel de Liderança. É escritor, autor de O Sofrimento Glorioso e Os Inklings: O Grupo Literário de C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien.
• Igor Gaspar é bacharelando em Psicologia pela Faculdade Maurício de Nassau, em Caruaru. Participou de cursos sobre C. S. Lewis com Jonas Madureira e sobre a Reforma no Curso Fiel de Liderança. É escritor, autor de O Sofrimento Glorioso e Os Inklings: O Grupo Literário de C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien.
Notas
1 Citado em Alister McGrath, A Vida de C. S. Lewis. São Paulo: Mundo Cristão, 2013. P. 206
2 Citado em Philip Yancey, Para que Serve Deus? São Paulo: Mundo Cristão, 2010. P. 95.
3 Carta de C. S. Lewis a Edward A. Allen, 5 de dez. 1955. Citado em Alister McGrath, A Vida de C. S. Lewis. P. 328.
4 Carta de Joy Davidman a Chad Walsh, 23 de dez. 1954. Citando em Colin Duriez, O Dom da Amizade. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2018. P. 222.
5 Citado em Colin Duriez, O Dom da Amizade. P. 225.
6 C. S. Lewis, Deus no Banco dos Réus. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2018. P. 326.
7 C. S. Lewis, Ética Para Viver Melhor. Pórtico: São Paulo, 2017. Capítulo 12.
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Leia mais
» O que você precisa saber sobre evangelização
» O Encontro de Billy Graham e C.S. Lewis
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