Opinião
06 de junho de 2022
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C. S. Lewis, a democracia e as nossas escolhas políticas
Por Rosifran Macedo
Em ano de eleições gerais para diversas esferas do governo, nos encontramos diante de várias opções de partidos e projetos políticos que buscam a nossa aceitação, apoio e finalmente um voto. Lewis pode nos ajudar a refletir sobre o princípio da autoridade e modelos de governo que talvez nos ajudem a tomar decisões políticas influenciadas pelos valores bíblicos.
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Para ele a autoridade dos governantes sobre os governados, dos pais sobre os filhos e até do homem sobre a natureza é de origem divina e deveria ser exercida num mundo perfeito sob a autoridade de Deus. “Autoridade exercida com humildade e obediência aceita com prazer são as próprias linhas ao longo das quais nossos espíritos vivem.” 1 Mas, com a queda, esta harmonia inicial foi quebrada e o poder das autoridades foi suprimido por um substituto legal de equilíbrio de poder já que foi constatado que nas condições atuais “todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.” Até mesmo a autoridade do homem sobre a natureza precisa de uma interferência já que ela pode ser facilmente abusada. Isto não acontece porque a autoridade em si é ruim, mas porque governantes, pais e indivíduos são maus.
Para Lewis, a verdade de que “homens caídos são tão perversos que nenhum deles pode ser confiável com qualquer poder irrestrito sobre seus companheiros” é a base da democracia, “a nossa única defesa contra a crueldade do outro”. Ela é como um remédio, é resultado da queda e se torna parte da solução. A democracia funciona enquanto ela reflete e reforça os valores para os quais fomos criados, uma hierarquia equilibrada que promove o bem de todos. Os remédios funcionam quando eles produzem algo da vida ideal de saúde. Se forem mal usados podem causar mais doenças.
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Por isso precisamos ter um entendimento claro quanto ao problema da fronteira entre a teologia e a política. Lewis nos oferece o seguinte princípio: “a teologia nos ensina quais fins são desejáveis e quais meios são lícitos, enquanto a política ensina quais meios são eficazes. Assim, a teologia nos diz que todo homem deve ter um salário decente. A política diz por quais meios isso provavelmente será alcançado. A teologia nos diz quais desses meios são consistentes com a justiça e a caridade.” 2 Ele destaca que as respostas para as questões políticas são alicerçadas na prudência, no conhecimento e nas experiências naturais e não na revelação. Fazendo uso dessas qualificações, podemos emitir nossas opiniões e preferências políticas, mas é necessário destacar que é um julgamento pessoal e não “uma ordem do Senhor”. Ele nos adverte contra uma das grandes tentações neste campo, de reivindicarmos autenticação divina para nossas opiniões e candidatos preferidos. Corremos o risco de dar ao governo eleito sob estas pretensões um status quase teocrático. Para Lewis “A teocracia é o pior de todos os governos possíveis... é a pior corrupção de todas”3
Ele afirma que o poder político é um mal necessário, mas ele é menos ruim quando suas propostas são mais modestas e práticas, tendo a intenção de ser útil e eficiente com objetivos limitados. As qualidades que devemos buscar nos governantes são humanidade, integridade financeira, boa administração e trabalho duro. Políticos com uma pretensão transcendental ou mesmo com um discurso fortemente ético são muito perigosos, pois estes traços são difíceis de diagnosticar e podem ser facilmente simulados. Uma plataforma política com estas características pode produzir muita hipocrisia e gerar barreiras no público geral na busca pelos valores professados, especialmente se um grande número de cristãos defender o projeto político da sua preferência pessoal como sendo uma ordem divina. No nosso discurso e escolha política, precisamos ser criteriosos e seguir o ensino de Cristo de não procurar dar a César o que é devido somente a Deus. (Mt 22.21).
Notas
1- The Weight of Glory, Harper Colling, 2001, no artigo Membership, pg. 168-170
2- God in the Dock, Eerdmans, 2002, no artigo Christian Apologetics, pg. 94
3- The World’s Last Night, Harper One, 2017, no artigo Lilies That Fester, pgs, 41-42
- Rosifran Macedo é pastor presbiteriano, mestre em Novo Testamento pelo Biblical Theological Seminary (EUA). É missionário da Missão AMEM/WEC Brasil, onde foi diretor geral por nove anos. Atualmente, dedica-se, junto com sua esposa Alicia Macedo, em projetos de cuidado integral de missionários.
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