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Opinião

C. S. Lewis, a democracia e as nossas escolhas políticas

Por Rosifran Macedo

Em ano de eleições gerais para diversas esferas do governo, nos encontramos diante de várias opções de partidos e projetos políticos que buscam a nossa aceitação, apoio e finalmente um voto. Lewis pode nos ajudar a refletir sobre o princípio da autoridade e modelos de governo que talvez nos ajudem a tomar decisões políticas influenciadas pelos valores bíblicos.
 
Para ele a autoridade dos governantes sobre os governados, dos pais sobre os filhos e até do homem sobre a natureza é de origem divina e deveria ser exercida num mundo perfeito sob a autoridade de Deus. “Autoridade exercida com humildade e obediência aceita com prazer são as próprias linhas ao longo das quais nossos espíritos vivem.1 Mas, com a queda, esta harmonia inicial foi quebrada e o poder das autoridades foi suprimido por um substituto legal de equilíbrio de poder já que foi constatado que nas condições atuais “todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.” Até mesmo a autoridade do homem sobre a natureza precisa de uma interferência já que ela pode ser facilmente abusada. Isto não acontece porque a autoridade em si é ruim, mas porque governantes, pais e indivíduos são maus.
 
Para Lewis, a verdade de que “homens caídos são tão perversos que nenhum deles pode ser confiável com qualquer poder irrestrito sobre seus companheiros” é a base da democracia, “a nossa única defesa contra a crueldade do outro”. Ela é como um remédio, é resultado da queda e se torna parte da solução. A democracia funciona enquanto ela reflete e reforça os valores para os quais fomos criados, uma hierarquia equilibrada que promove o bem de todos. Os remédios funcionam quando eles produzem algo da vida ideal de saúde. Se forem mal usados podem causar mais doenças.

 
Por isso precisamos ter um entendimento claro quanto ao problema da fronteira entre a teologia e a política. Lewis nos oferece o seguinte princípio: “a teologia nos ensina quais fins são desejáveis e quais meios são lícitos, enquanto a política ensina quais meios são eficazes. Assim, a teologia nos diz que todo homem deve ter um salário decente. A política diz por quais meios isso provavelmente será alcançado. A teologia nos diz quais desses meios são consistentes com a justiça e a caridade.” 2 Ele destaca que as respostas para as questões políticas são alicerçadas na prudência, no conhecimento e nas experiências naturais e não na revelação. Fazendo uso dessas qualificações, podemos emitir nossas opiniões e preferências políticas, mas é necessário destacar que é um julgamento pessoal e não “uma ordem do Senhor”. Ele nos adverte contra uma das grandes tentações neste campo, de reivindicarmos autenticação divina para nossas opiniões e candidatos preferidos. Corremos o risco de dar ao governo eleito sob estas pretensões um status quase teocrático. Para Lewis “A teocracia é o pior de todos os governos possíveis... é a pior corrupção de todas”3


Ele afirma que o poder político é um mal necessário, mas ele é menos ruim quando suas propostas são mais modestas e práticas, tendo a intenção de ser útil e eficiente com objetivos limitados. As qualidades que devemos buscar nos governantes são humanidade, integridade financeira, boa administração e trabalho duro. Políticos com uma pretensão transcendental ou mesmo com um discurso fortemente ético são muito perigosos, pois estes traços são difíceis de diagnosticar e podem ser facilmente simulados. Uma plataforma política com estas características pode produzir muita hipocrisia e gerar barreiras no público geral na busca pelos valores professados, especialmente se um grande número de cristãos defender o projeto político da sua preferência pessoal como sendo uma ordem divina. No nosso discurso e escolha política, precisamos ser criteriosos e seguir o ensino de Cristo de não procurar dar a César o que é devido somente a Deus. (Mt 22.21).
 
Notas
1- The Weight of Glory, Harper Colling, 2001, no artigo Membership, pg. 168-170
2- God in the Dock, Eerdmans, 2002, no artigo Christian Apologetics, pg. 94
3- The World’s Last Night, Harper One, 2017, no artigo Lilies That Fester, pgs, 41-42
  • Rosifran Macedo é pastor presbiteriano, mestre em Novo Testamento pelo Biblical Theological Seminary (EUA). É missionário da Missão AMEM/WEC Brasil, onde foi diretor geral por nove anos. Atualmente, dedica-se, junto com sua esposa Alicia Macedo, em projetos de cuidado integral de missionários.

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