Opinião
- 16 de outubro de 2009
- Visualizações: 2967
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Brinquedo para todo mundo
Lucy Oliveira e Jeyson Rodrigues
Ricardo tinha dez anos quando descreveu, numa brincadeira com amigos, o que era o céu. Ele é mais uma entre tantas crianças que moram na favela do Vale do Reginaldo (a maior da cidade de Maceió), e que crescem sofrendo as consequências da exclusão e injustiça sociais. Talvez esse seja seu maior privilégio teológico e sua maior tragédia social. Seus dramas e dilemas cotidianos lhe possibilitaram construir uma teologia fundamentada, não nas leituras clássicas, mas na perplexidade causada pela violência que sofre por não ter seus direitos básicos assegurados. Ricardo definiu que o céu é um lugar onde há “brinquedos para todos”. Ao invés de interpretar a vida através da leitura de uma teologia do céu, fez uma teologia da terra, que não minimiza a importância da imanência, mas onde o “aqui e agora” clama por transformação.
“Brinquedos para todos” é a pureza jovem de uma teologia que transcende a transcendência. Que é alma, e também estômago. Que é espírito, mas que não quer ser invisível. Que é esperança de eternidade, mas não só para anestesiar a dor de uma vida tão morrida. Esperança de salvação, não apenas de sua alma, mas de sua vida. Vida que abrange muitos outros aspectos, para os quais se apresentaram boas novas de um evangelho que nunca se propôs restaurar só uma parte do ser humano.
O discurso e a práxis cristãs podem e devem oferecer esperança de socorro integral a um drama que é integral. “Brinquedos para todos” é o entendimento de um reino prometido que se concretiza na eternidade, mas começa aqui na Terra.
Antes de tudo, Cristo nos deixou um exemplo de não aceitação da injustiça. Ele nos deu uma missão de transformar, não só a alma, mas a vida. E não há como falar de vida sem perceber que somos seres únicos, completos, integrais. Somos uma unidade que precisa ser pensada enquanto tal.
E a transformação pode vir pela ação política sim, pela cidadania, pela ocupação dos espaços públicos de decisão. Não falamos isso apenas referindo à vinculação político partidária, mas de uma dimensão política de nossas vidas que transcende o voto, a eleição. Ela se manifesta através da percepção de si e do outro como seres iguais, merecedores do mesmo tratamento. Não é essa a mensagem da salvação?
Há vários espaços se abrindo no país para a participação popular. A internet, por exemplo, é um espaço aberto à participação, com sites e fóruns que debatem os interesses públicos. Há também ONG’s, movimentos sociais, grupos religiosos que estão saindo do conforto do sofá ou do banco da igreja e modificando sua realidade.
Políticas públicas não são apenas responsabilidade ou atribuição do Estado. Jogar a culpa nos outros é um ótimo caminho para ser omisso. Se pensarmos que o evangelho que cremos nos deixa o desafio de transformar a nossa geração, veremos que isso tem tudo a ver com transformar a nossa sociedade.
Não sejamos como Pilatos, não lavemos as mãos, deixando a vida de tantos escorrerem por entre os nossos dedos. Jesus, o Cristo, pagou o preço necessário para que o céu fosse um lugar com “brinquedos para todos”.
• Lucy Oliveira, 26 anos, é jornalista e mestranda em sociologia na Universidade Federal de Alagoas.
• Jeyson Rodrigues, 28 anos, teólogo e mestrando em Ciências da Religião, leciona no Seminário Teológico Batista de Alagoas (SETBAL).
Ricardo tinha dez anos quando descreveu, numa brincadeira com amigos, o que era o céu. Ele é mais uma entre tantas crianças que moram na favela do Vale do Reginaldo (a maior da cidade de Maceió), e que crescem sofrendo as consequências da exclusão e injustiça sociais. Talvez esse seja seu maior privilégio teológico e sua maior tragédia social. Seus dramas e dilemas cotidianos lhe possibilitaram construir uma teologia fundamentada, não nas leituras clássicas, mas na perplexidade causada pela violência que sofre por não ter seus direitos básicos assegurados. Ricardo definiu que o céu é um lugar onde há “brinquedos para todos”. Ao invés de interpretar a vida através da leitura de uma teologia do céu, fez uma teologia da terra, que não minimiza a importância da imanência, mas onde o “aqui e agora” clama por transformação.
“Brinquedos para todos” é a pureza jovem de uma teologia que transcende a transcendência. Que é alma, e também estômago. Que é espírito, mas que não quer ser invisível. Que é esperança de eternidade, mas não só para anestesiar a dor de uma vida tão morrida. Esperança de salvação, não apenas de sua alma, mas de sua vida. Vida que abrange muitos outros aspectos, para os quais se apresentaram boas novas de um evangelho que nunca se propôs restaurar só uma parte do ser humano.
O discurso e a práxis cristãs podem e devem oferecer esperança de socorro integral a um drama que é integral. “Brinquedos para todos” é o entendimento de um reino prometido que se concretiza na eternidade, mas começa aqui na Terra.
Antes de tudo, Cristo nos deixou um exemplo de não aceitação da injustiça. Ele nos deu uma missão de transformar, não só a alma, mas a vida. E não há como falar de vida sem perceber que somos seres únicos, completos, integrais. Somos uma unidade que precisa ser pensada enquanto tal.
E a transformação pode vir pela ação política sim, pela cidadania, pela ocupação dos espaços públicos de decisão. Não falamos isso apenas referindo à vinculação político partidária, mas de uma dimensão política de nossas vidas que transcende o voto, a eleição. Ela se manifesta através da percepção de si e do outro como seres iguais, merecedores do mesmo tratamento. Não é essa a mensagem da salvação?
Há vários espaços se abrindo no país para a participação popular. A internet, por exemplo, é um espaço aberto à participação, com sites e fóruns que debatem os interesses públicos. Há também ONG’s, movimentos sociais, grupos religiosos que estão saindo do conforto do sofá ou do banco da igreja e modificando sua realidade.
Políticas públicas não são apenas responsabilidade ou atribuição do Estado. Jogar a culpa nos outros é um ótimo caminho para ser omisso. Se pensarmos que o evangelho que cremos nos deixa o desafio de transformar a nossa geração, veremos que isso tem tudo a ver com transformar a nossa sociedade.
Não sejamos como Pilatos, não lavemos as mãos, deixando a vida de tantos escorrerem por entre os nossos dedos. Jesus, o Cristo, pagou o preço necessário para que o céu fosse um lugar com “brinquedos para todos”.
• Lucy Oliveira, 26 anos, é jornalista e mestranda em sociologia na Universidade Federal de Alagoas.
• Jeyson Rodrigues, 28 anos, teólogo e mestrando em Ciências da Religião, leciona no Seminário Teológico Batista de Alagoas (SETBAL).
- 16 de outubro de 2009
- Visualizações: 2967
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Jesus [não] tem mais graça
- Bonhoeffer, O Filme — Uma ideia boa, com alguns problemas...
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Exalte o Altíssimo!
- Pare, olhe, pergunte e siga
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- C. S. Lewis, 126 anos