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- 11 de outubro de 2019
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Bordando histórias: as mulheres do movimento da Reforma
Por Rute Salviano Almeida | Resenha
“Estudar a história da igreja é comemorar, é buscar a memória cristã de cada um. Por quê? Porque Deus entrou na história, atuou na história e está levando a história a um alvo”. (Martin N. Dreher)
Essas palavras do historiador luterano explicam o que essa obra faz. Bordando memórias: Histórias de mulheres do movimento da Reforma (Editora Sinodal) busca a memória das mulheres na Reforma, e comemora os 120 anos de existência da OASE (Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas), da IECLB (Igreja Evangélica da Confissão Luterana do Brasil), que possui uma tradição de artes manuais. Seu trabalho diaconal, a manutenção de comunidades e outros atendimentos, ao longo do tempo, foi financiado com a venda de bordados e demais artesanatos.
Nesse livro a sua arte foi unida à escrita e ficou lindo demais! As coisas consideradas inúteis realizadas pelas mulheres, como desperdiçar bálsamo ungindo a Cristo (Mc 14.9), como bordar e enfeitar seus lares e ajudar na manutenção de igrejas, por certo são apreciadas e louvadas pelo nosso Pai!
Que bom que essas belas histórias estão sendo escritas, para memória das mulheres do passado, para celebração de suas vidas dedicadas a Deus. Mesmo que a tarefa seja árdua, pois se encontram somente fragmentos, retalhos de citações, não devemos mais deixar nas sombras, esquecer ou negligenciar a história das mulheres cristãs. Por trazer essa maravilhosa história também à nossa memória, queremos agradecer a todas que se empenharam na produção dessa obra.
A página inicial sobre cada personagem enfocada traz o bordado de sua imagem. Na seguinte, relata-se sua história e depois, encontra-se o risco que originou o bordado. O livro encerra-se com lindas amostras de frases para serem bordadas.
Algumas das personagens enfocadas são as de:
Elisabeth von Brandenburg, princesa-eleitora de Brandeburgo, que pela forte oposição de seu esposo à sua fé, fugiu e deixou seus cinco filhos. Ela viveu 20 anos exilada e perseguida; Marie Dentiere, ex-abadessa agostiniana, que abandonou o convento e contribuiu com a Reforma em Estrasburgo e em Genebra; Argula von Grumbach, nobre alemã, que com seus grandes conhecimentos bíblicos e teológicos defendeu a causa reformista; Katharina Zell, casada com um pastor luterano, que foi dedicada humanitária e ousada pregadora; Katharina von Bora, a esposa de Lutero, ex-freira, que assumiu com competência a administração da casa e ajudou sobremodo a vida do grande reformador; Elizabeth Herzogin von Rochlitz, nobre saxã, amante e defensora da paz, que após ficar viúva introduziu a Reforma em Rochlitz, mas permitiu a liberdade religiosa; Renée de France, duquesa de Ferrara e nora de Lucrécia Bórgia, que viveu no reino católico de Ferrara, onde abrigou protestantes perseguidos; e Olimpia Fulvia Morata, italiana, filha de um professor humanista, inteligentíssima, que aos 12 anos já dominava latim e grego. Após se casar com um médico alemão protestante, ela aderiu à Reforma e contribuiu com o movimento com seus discursos, poesias e cartas.
Porém, foi Anna Maria van Schurman, que provou literalmente o que é “ficar nas sombras”, “nas penumbras da história”, “escondida”. Ela foi uma teuto-holandesa que buscou refúgio religioso na Holanda. Era uma mulher muito educada para os padrões do século 17, sendo: teóloga, filósofa, linguista (fluente em 12 idiomas), historiadora, pedagoga, geógrafa, astrônoma, retratista, artesã, poeta e escritora. Porém, como a 1ª mulher autorizada a participar das aulas na faculdade teológica em Utrecht, precisou ficar “escondida atrás de uma cortina para que os estudantes não a vissem nem se sentissem incomodados com sua presença”.
Muitas mulheres ainda continuam escondidas, invisíveis, mas desejando com todas as suas forças contribuir para o crescimento do Reino de Deus.
Que as senhoras da OASE continuem bordando, que as mulheres cristãs continuem fazendo a história do cristianismo e que outras mulheres se esforcem em pesquisar e escrever esses relatos.
Que Deus as abençoe e as igrejas concedam-lhes liberdade no exercício de seus dons espirituais!
Mestre em teologia e pós-graduada em história do cristianismo, é autora de Vozes Femininas nos Avivamentos (Ultimato), além de Vozes Femininas no Início do Cristianismo, Uma Voz Feminina Calada pela Inquisição, Uma Voz Feminina na Reforma e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro (Prêmio Areté 2015).
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